10 maiores dificuldades enfrentadas pelos pais fora do Brasil

Morar no exterior com a família é uma opção cada vez mais comum entre os brasileiros.

Segundo dados da receita federal, em 2017 foram entregues mais de 21 mil declarações de saída definitiva do país. Bem possível que o contingente seja maior, visto que nem todos registram a saída.

Porém, imigrar para um novo país para poder trabalhar, ou ter mais qualidade de vida ou segurança, não é um processo simples, a vida vai mudar drasticamente e é bom estar preparado para as dificuldades.

Penso que cada canto deste mundo traga desafios e dificuldades únicas, mas algumas são unanimes. Tavez você se reconheça na lista abaixo, mesmo vivendo em outro lugar e outra cultura. Aqui vai na minha opnião, as 10 maiores dificuldades enfrentadas pelos pais fora do Brasil.

1. Saudades

Este item é quase unanimidade. Me lembro que já estava morando em Dubai há mais de nove meses, na época era só telefone mesmo para matar as saudades. Estava no supermercado comprando um frango de uma marca brasileira e quando virei para ver o prazo de validade li “made in Brazil”, meus olhos se encheram de lágrimas e pude perceber o quanto as saudades no meu peito era grande.

É uma contradição, mas nos tornamos mais patriotas depois que saímos do Brasil.

Aprendemos a valorizar mais a família e os amigos. Pois morar fora é viver longe todos os dias das pessoas que nos são importantes.

Vamos conviver com a culpa e a dor, pois iremos perder Natal, aniversário da avó, festa de quinze anos da primeira sobrinha, eventos sociais e outras datas comemorativas…

Mas o amor não tem fronteiras e vamos aprender a viver com o coração dividido. Digo ao meu filho que sofremos de saudades crônicas.

2. Idioma

Não dominar a língua do país que decidimos viver pode se tornar uma grande dificuldade no dia a dia e nos trazer um sentimento de impotência.

Tudo o que fazíamos diariamente com facilidade e confiança pode se tornar difícil e complexo.

Ir ao supermercado, pedir informações, conversar com a professora ou até mesmo participar de reuniões da escolar.

Ter que ir ao ginecologista e levar o marido como tradutor e não poder expressar suas idéias e percepções é realmente muito frustrante.

Investir num curso de idiomas é fundamental, isto vai trazer autonomia e independência.

3. Cultura

Depois que a empolgação do novo passar a nova cultura pode se tornar uma barreira.

O dia a dia vai trazer situações novas e diferentes e aos poucos vamos compreendendo que as coisas que faziamos no Brasil, nāo vai dar para fazer no novo país.

Vai ser necessário quebrar padrões para que a adaptaçāo ocorra.

Lembro me de quando meu tio veio me visitar pela primeira vez. Fiz um café da manhã com frutas, pães locais e um monte de coisas diferentes e típicas de um café da manhã árabe. Ele sentou se na mesa e como um bom paulista, pertguntou se nāo tinha pāozinho fresco.

Fechei os olhos e pude sentir o cheiro das nossas padarias… Disse: não tio, não temos pãozinho fresco, foi o que respondi e pude perceber neste momento que a cultura local já tinha me moldado.

4. Alimentaçāo

E por falar em pãozinho, a alimentação pode sim ser um motivo de dificuldades.

Hoje temos aqui muito mais acesso a comida brasileira do que há 10 anos atrás. Agora temos empresas brasileiras que importam café, pāo de queijo, tapioca e feijāo. Sim feijāo, antes só tínhamos um enlatado e meio doce. Eu lavava e temperava com alho, ficava bom.

A minha mala é motivo de piada na família, vem sempre cheia de calabreza, farinha e geléia de goiaba. Outro dia trouxe para uma amiga iraquiana a fruta caju. Ela simplesmente amou.

Comida é conforto emocional, nos remete a nossa infância e ao amor que nos foi atribuído.

5. Escola

A escolar pode sim ser um fator de estresse e angústia.

Onde moro, temos escolas Americana, Inglesa e IB. Qual é a melhor para nosso filho? Não existe a melhor, existe a que vai se encaixar melhor no estilo da criança. Neste ponto devemos olhar nosso filho como um ser único e ver suas necessidades e não nossos desejos.

Assim vamos poder escolher o que é melhor para eles. Eu adoro um estilo IB, teria sido feliz se tivesse estudado neste sistema, mas meu filho é mais estilo britânico, se encaixa melhor e é feliz.

Outro ponto importante é escolher uma escolar que tenha um programa para estrangeiros e que seja perto de casa. Vamos dirigir menos e fazer parte de uma vizinhança que vai ser mais fácil organizar tardes de brincadeiras com os amiguinhos e vamos poder socializar também.

6. Socialização

Se eu ficar dentro dos meus padrões e nāo ser flexível vou sofrer. Na escola do meu filho, temos mais de cinquenta nacionalidades, se tiver que impor minha forma de ser vou perder oportunidades e conhecimento.

Vamos ter que desenvolver a habilidade de fazer novos amigos, pois as amizades ajudam a amenizar as saudades, traz conforto emocional e é muito bom para nos abrirmos a outras culturas.

Tenho amigas iraquianas, sauditas, inglesas, indianas, paquistanesas e egípcias. Muçulmanas, hinduistas e védicas. Aprendo tanto com elas.

Aprendo a sair da minha zona de conforto, a pensar diferente, a considerar outras formas de ser e viver.

Meu caminho tem sido cruzado por pessoas incríveis que tem me ensinado bastante.

7. Clima

O clima também pode ser um ponto difícil. Por isso é importante pesquisar e imaginar se vivendo naquela realidade. O clima afeta nosso humor e temos que levar este ponto em consideração.

Sair de um país tropical e vir para um extremo foi um choque para mim. Aqui temos sol quase todos os dias, mas no verāo o clima pode realmente ser muito quente com  temperaturas chegando aos 52 graus Celsius e humidade do ar em 90%, é sufocante!

8. Criando filhos do mundo

Ou crianças da chamada terceira cultura. Não é um conceito simples, mas podemos dizer que são crianças transculturais, que interagem com diferentes culturas.

Achei fantástico o que uma amiga me relatou sobre seu filho: ela é libanesa e o marido brasileiro. O filho tinha que fazer um trabalho para a universidade sobre identidade cultural e estava achando muito difícil de escrever, pois não se encaixava em nenhuma cultura especificamente, não tinha o sentimento de pertencimento e se sentia um “nômade global”, então resolveu fazer um trabalho como uma criança da terceira cultura, pois sentia se pertencendo a este grupo.

Muito importante que os pais acolham esta criança, pois elas vāo construir perspectivas de vida diferentes das nossas, vāo ter uma visao de mundo e pontos de vista diferente dos nossos.

9. O processo de adaptaçāo em si

Sair do país e deixar o conforto da pátria vai ser desafiante. O período de adaptação vai exigir flexibilidade de todos.

Vamos ter que nos adaptar ao novo trabalho, nova casa, nova escola e também estarmos abertos para reavaliar antigos pensamentos e padrões que não se encaixam mais na nova realidade.

Vamos ter que reaprender muitas coisas, entender o metro, a máquina de lavar, os produtos do mercado, o funcionamento da escola , tirar novamente a carteira de motorista e por ai vai.

É importante prestarmos atenção uns nos outros e compreender que todos estão passando por um momento de transformação.

10. Incertezas

Ninguém conhece você, sua familia ou sua história. Mudar de país de certa forma nāo deixa de ser um renascimento.

Nāo temos a mesma segurança de estarmos em nosso país. Aqui por exemplo, se meu marido perder o emprego, vamos ter que sair do país se ele nāo achar outro, pois nossos vistos de residência sāo fornecidos pela empresa que ele trabalha.

Vamos enfrentar dificuldades, vamos criar novas perspectivas.

Mudanças fazem parte da vida e mudar de país vai nos tornar mais resilientes. Quem mora fora não é melhor, mas possui uma coragem grande e muita força.

Há de ter fé, paciência e independentemente dos resultados, devemos ter orgulho de ter saído da nossa zona de conforto.

Raquel Angelin Oldenburg

Sou psicóloga Junguiana, formada pelo Mackenzie. Ao longo desta jornada, fui adquirindo outras ferramentas, como terapia comportamental, Reiki, Florais de Bach, aromaterapia e hipnose. Amo este caminho que escolhi, sinto gratidão por poder fazer parte da caminhada de outros seres humanos. Sou paulistana, adoro farinha, moro fora há 17 anos e sofro de saudades crônicas. Sou casada e mãe de um menino lindo que me traz os melhores desafios da minha vida.