Foi em 2005 que ouvi sobre “choque cultural” pela primeira vez quando me mudei do Brasil para a Inglaterra. Porém não entendi muito bem o significado da palavra. O mais interessante é que eu até procurei no Google, mas só fui entender realmente quando passei por isso.
O choque cultural pode acontecer quando mudamos para um país onde tudo é novo e diferente ou quando retornamos ao país de origem.
Quando mudamos para um novo país, sentimos a diferença de cultura, idiomas, hábitos, porém no meu caso esse choque não foi negativo. Eu nem percebi, porque eu estava tão feliz com a mudança que tudo o que era diferente me fazia bem. Como adoro aprender sobre novas culturas eu não percebi esse choque.
Essa é a minha história
Antes de continuar a ler esse artigo, quero deixar claro que estou contando a minha história, o que se passou comigo e qual foi a minha experiência. Cada um tem sua opinião e talvez você não concorde com a minha, e está perfeitamente ok.
Quando retornei para o Brasil em 2013, percebi uma mudança enorme de comportamento, sentimento, cultural e foi um choque muito grande pra mim porque já estava bem acostumada com os costumes ingleses.
Meus amigos, que deixei quando fui para Londres em 2005, não me viam mais como “aquela” do tempo em que morava no Brasil. Sobretudo quando conversávamos e eu mencionava como era na Inglaterra – o que pra mim era normal – mas para eles parecia que eu estava esnobando.
Inglaterra x Brasil
É praticamente impossível não comparar os países em que moramos. Nós procuramos o que é melhor para nós. O que é melhor sempre irá se sobressair e as comparações surgirão, por exemplo:
O trânsito no Brasil percebi que era catastrófico, onde ninguém respeita os pedestres, não se tem gentileza e educação no trânsito. As buzinas, usadas em excesso, me deixavam chocada com tanta impaciência dos motoristas.
Nos supermercados, as pessoas que trabalham nos caixas ao invés de atender ao cliente ficavam no celular batendo papo no WhatsApp com as amigas e assim, faziam com que o cliente esperasse até que desligassem o celular.
Aquelas atendentes com a camiseta “posso ajudar” te deixavam falando sozinha porque passavam direto e fingiam estar ocupadas.
Sistema de saúde
A primeira vez que levei minha filha ao médico no Brasil, eu fui com um caderno com todo o histórico dela de 1 ano de vida para apresentar ao médico brasileiro (minha filha tem alergia alimentar multipla). Aqui na Inglaterra eles orientam aos pais de filhos com problemas alérgicos a registrar todas as ocorrências para apresentar aos médicos. Eu estava toda preparada com minhas anotações, perguntas prontas, com o caderno contendo o histórico de todas as fotos das reações alérgicas.
Após aguardar 1h30min, quando finalmente foi minha vez, assim que eu abri meu caderno, o médico mais do que rápido me disse que ele tinha apenas 15 minutos para me atender porque ele estava super atrasado com outros pacientes. Detalhe: a consulta foi particular.
Na Inglaterra, pais de filhos com alergias não precisam nem marcar consulta se a criança tem reação alérgica e usa o medicamento Epipen (injeção de adrenalina). Basta ligar no 999 que a ambulância chega em menos de 5 minutos na porta de sua casa para atender seu filho. As consultas, exames e tratamentos são solicitados pelos próprios médicos especialistas e enviados para a sua casa com a data da consulta e com todas as informações e orientações necessárias.
Senti uma grande diferença quanto à oferta de produtos alimentícios para crianças com alergias. Fiquei com poucas opções de compras pra minha filha comer, já que no Brasil em 2013 poucos alimentos estavam adequados para a dieta dela. Talvez não fosse muito comum pessoas sofrerem desse tipo de alergia.
Sobre segurança
Não é novidade para ninguém que a segurança no Brasil não é boa. Hoje em dia, é difícil ter segurança em qualquer lugar, mas comparando com a Inglaterra, na época em que eu morava em Londres era super tranquilo. E quando voltei ao Brasil, tive muito medo de caminhar nas ruas de Curitiba.
Durante os quatro anos em que morei no Brasil, eu nunca fui ao centro da cidade de tanto medo que eu tinha. Eu só andava de carro, com os vidros fechados e muito atenta a tudo.
Diferença dos preços
Quando eu ia ao supermercado no Brasil, eu comprava o referente a duas sacolinhas de mercado e pagava um horror. Na Inglaterra eu enchia o carrinho, até pegava táxi porque não conseguia carregar as sacolas sozinhas, e pagava um valor razoável. Encontrava produtos de qualidade por um valor bem menor, às vezes até produtos importados do Brasil, que na Inglaterra custavam menos do que se eu comprasse no Brasil.
Por falar em alimentação, os alimentos que minha filha podia comer, quando eu achava alguma coisa, pagava mais que o dobro e nem eram tão gostosos, ou especiais.
Quanto ao lazer, posso dizer que na Inglaterra têm muitos parques, museus e entretenimentos gratuitos. Passeios para todos os gostos, estilos e preços. Com pouco você pode fazer uma viagem maravilhosa. Já no Brasil, achei tudo muito caro. Teria que vender o carro se quisesse fazer uma viagem de uma semana.
Viagens de avião no Brasil então, nem pensar, porque os voos domésticos eram super caros (estou colocando no passado, porque morei no Brasil de 2013 a 2017 e não sei como está a situação atual). As viagens de carro no Brasil com as estradas cheias de buracos, não aconselho pela grande probabilidade de acidentes. E por ser um país muito grande, viajar de carro muitas vezes pode ser inconveniente. A Inglaterra é tão pequena que podemos passar o final de semana em outras cidades, e ou até conhecer o país todo de carro, em poucas semanas.
Calor humano
Quanto ao calor humano, concordo plenamente que o brasileiro é muito mais caloroso, mais acolhedor, mais simpático, mais bem humorado do que o inglês. Porém, no Brasil eu morei em duas cidades bem europeias e, como estava acostumada com pessoas mais frias, eu não senti diferença. Pelo contrário, até me senti bem à vontade. O bom é que ninguém cuida da vida de ninguém!
Educação dos filhos
Meu marido é francês/italiano (filho de mãe francesa e pai italiano) e já morou nos dois países. Eu sou brasileira/italiana (descendente de família italiana e pai português), minha filha é britânica (descendente de francês, italiano e brasileira).
O choque cultural acontece dentro de casa também, pois algumas coisas que pra mim são super normais, para o meu esposo não são, e acabamos entrando em choques e contradições. Um exemplo bem simples é usar o fio dental e escovar os dentes de manhã e à noite.
Uma das tradições que faço questão de manter é a de rezar todas as noites e de ir à missa todos os domingos. Acho muito importante ter como base a crença em um ser superior a nós. Apesar de respeitar a opinião dele, eu faço questão que minha filha pratique a fé em Deus.
Resumindo “choque cultural”
É o apego com a cultura que você se identifica melhor e a comparação contínua de tudo o que está vivendo. Seria viver profundamente o passado, comparando com o presente continuamente. É não se acostumar com o lugar e a cultura que você está vivendo. Isso, consequentemente pode te levar a sofrer de ansiedade e depressão.
Procure ajuda profissional
Se você estiver passando por um choque cultural, dependendo da gravidade, o melhor de tudo é procurar ajuda profissional. Talvez fazer terapia seja uma ótima solução.
No meu caso, eu sentia uma dor no peito terrível, principalmente quando eu falava sobre a Inglaterra. Sentia uma tristeza muito grande e a conformação me deixava ainda mais insegura e triste.
Somente quando procurei ajuda profissional, percebi que eu tinha que tomar uma atitude e decidi me mudar de volta para Inglaterra. Faz quase seis anos que estou de volta e me sinto muito feliz, realizada e motivada em viver de bem comigo e com o país que escolhi para meu lar.
Se você está passando por alguma situação que seja Choque Cultural, entre em contato. Talvez eu possa te ajudar. Você me encontra nas redes sociais. Porém se for algo mais profundo, no caso como comentei acima, sem dúvida nenhuma, será melhor você procurar ajuda profissional.
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Meu nome é Simone Stroili, nascida no Paraná, crescida no Mato Grosso do Sul. Me mudei para Londres em 2005. De 2013 a 2017 morei em Curitiba-Paraná-Brasil, voltando para a Inglaterra em 2017.
Sou casada há 13 anos com Carlo Stroili, Francês /Italiano. Sou mãe da Nicole, minha princesa que fala 4 idiomas. Tenho meu negócio on-line em saúde e bem estar. Minha paixão é ajudar mulheres a terem uma vida mais saudável e autoestima. Trabalho com Desenvolvimento Pessoal. Amo conhecer lugares, pessoas, culturas diversas e fazer amizades verdadeiras.