Na minha infância e adolescência, o convívio com minha família era diário. Sempre passava as férias com minha avó e muitos finais de semana junto dos primos, tias e tios. As lembranças, as histórias, as brigas, as broncas, as travessuras e os valores, são parte do que eu sou hoje. E para meu filho, como vai ser? Como será criando filhos longe da família? É uma pergunta que sempre martela a minha cabeça.
A culpa criando filhos longe da familia
A velha frase “cada escolha, uma renúncia” se aplica muito bem quando escolhemos morar fora.
Optamos por mais qualidade de vida, um futuro melhor para nossos filhos, mais segurança e a possibilidade de aprender um outro idioma. Mas ao mesmo tempo renunciamos ao convívio com os avós, primos, tios, tias, cultura, etc.
E a culpa vem implacável, pois vamos seguindo com nossas vidas e escolhas, mas percebendo os espaços vazios que poderiam ser preenchidos pelo convívio com a família. E essa percepção pode doer, pode trazer dúvidas, e também, culpa.
Ter coragem de olhar para estes sentimentos e não escondê-los é muito importante, pois damos a chance de calibrar as escolhas e as renúncias para que elas possam conviver em harmonia.
Não tem como substituir o papel dos avós, dos primos, dos tios e tias, não tem como fazer isso, eles carregam parte da nossa história.
O papel dos avós
Quando penso no papel da minha avó em minha vida, vejo um legado de força, superação e coragem. Mas também de fantasias e brincadeiras. Ela fazia uma massa de pastel cozida e brincávamos de modelar aquela massa por horas, depois de muitas risadas e brincadeiras, seguíamos na execução do pastel.
Tive cumplicidade, tive a oportunidade de ouvir a sua história e da minha família. O olhar dela me mostrou amor, aceitação, acolhimento e doação. O papel dos avós, tem uma importância grande na construção da personalidade da criança. É por isso talvez por esta avó ter sido um modelo positivo em minha vida, eu tento ir ao Brasil, pelo menos uma vez por ano, ou trazer minha mãe para estar perto do meu filho e deixar com que eles construam suas próprias memórias.
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A tecnologia como aliada
É fato que a tecnologia encurta distâncias e fica bem mais fácil dividir momentos importantes e abrandar as saudades.
Me lembro de um domingo em que um primo meu fez uma selfie e postou aonde ele estava no grupo da família. Foi tão legal a reação em cadeia, todos colocando suas fotos e mostrando o que estavam fazendo naquele momento. Estávamos distantes fisicamente, mas ligados emocionalmente.
Os tios e tias do meu filho são presentes na vida dele. Apesar da distância, conseguimos ter o cuidado de estarmos perto, mesmo estando longe, graças à tecnologia.
E assim devemos seguir, incentivando nossos filhos a partilharem suas vivências com a família e os amigos que lá ficaram. Devemos incentivar a mandar mensagens, lembrar dos aniversários e compartilhar sentimentos. Sempre que meu filho diz que está com saudades de alguém lá do Brasil, eu falo “então vamos ligar ou mandar uma mensagem?” É saudável olhar para nossas emoções, mesmo as que machucam, vamos aprendendo a lidar com os sentimentos a partir do momento em que olhamos para eles.
Por isso os relacionamentos precisam ser nutridos, precisam ser cuidados e respeitados. Se levarmos em conta estes detalhes e utilizar a tecnologia a nosso favor, a distância não vai afrouxar os laços.
Um estranho no ninho
Mas sempre que volto ao Brasil, vou percebendo nas conversas, nos comportamentos, muitas diferenças que não existiriam se eu não tivesse saído do seio familiar. Não que essas diferenças sejam melhores ou piores, são somente diferenças.
Pode ser um olhar diferente sobre religião, pois aqui estamos expostos a muitas, um olhar diferente sobre raças, aqui temos diversas. E é fato que estas vivências vão criando percepções diferentes e comportamentos diferentes em quem vivencia elas.
Minha sobrinha ficou um tempo aqui com a gente e via nas conversas entre ela e meu filho e nas brincadeiras também muitas percepções diferentes, formas diferentes de lidar com algumas situações, alimentação e até mesmo valores diferentes.
Sempre incentivava o acolhimento e o respeito diante das opiniões que são diferentes das nossas. É preciso ver a beleza e a força na diversidade e desta forma achar uma oportunidade de ensinar a todos que o mundo é bonito por causa desta diversidade.
Mas penso que isto enriquece tanto a mim quanto à minha família e amigos que lá ficaram. Posso levar para eles uma perspectiva diferente por causa das minhas vivências e eles me ajudam muitas vezes a retornar para algumas raízes e esta troca é boa.
Quando respeitamos outros olhares, outras crenças e outros costumes, ampliamos nosso ser e aprendemos que este respeito enriquece as relações, pois aceitamos e acolhemos o que é diferente.
Redenção
Estou aprendendo que família é sim a de sangue, mas também as pessoas que a vida vai colocando em nosso caminho e as que escolhemos por afinidade e vamos agregando ao nosso convívio.
Não ter a família por perto fez com que meus sentidos ficassem mais aflorados e assim pude construir uma sintonia maior com meu filho e meu marido.
Enfim vou seguindo trabalhando as minhas culpas, mudando meus paradigmas, aceitando as diferenças, contando histórias sobre a minha família e sobre meus antepassados, sentindo muitas saudades e espalhando fotografias pela casa.
Sou psicóloga Junguiana, formada pelo Mackenzie. Ao longo desta jornada, fui adquirindo outras ferramentas, como terapia comportamental, Reiki, Florais de Bach, aromaterapia e hipnose. Amo este caminho que escolhi, sinto gratidão por poder fazer parte da caminhada de outros seres humanos. Sou paulistana, adoro farinha, moro fora há 17 anos e sofro de saudades crônicas. Sou casada e mãe de um menino lindo que me traz os melhores desafios da minha vida.
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