E quando você vai morar fora ainda criança? O que acontece?
Após alguns anos na Inglaterra, e depois de ter me acostumado com um novo país que agora chamo de casa, não era mais necessário nem importante lembrar e discutir que era brasileira.
Vivi parte da minha infância e da minha adolescência toda na Inglaterra, não sabia nem nunca ouvi as gírias brasileiras da época, a música brasileira que estava popular ou a moda brasileira naqueles anos.
A importância da cultura brasileira
Por essa razão, eu fui uma adolescente inglesa e nunca uma adolescente brasileira. Esse foi um momento pivotal, pois nessa parte da minha vida eu aprendi a cultura inglesa e europeia ao mesmo tempo ou depois da cultura brasileira.
Felizmente, nunca perdi os laços com a minha cultura e família brasileira, mas aceito que muitos dos meus maneirismos e personalidade não são totalmente brasileiros.
Uma curta e engraçada história que ilustra essa ideia foi quando viajei para o Brasil com o passaporte português porque o passaporte brasileiro estava vencido. Quando cheguei no Brasil, depois de muitos anos sem visitar, realmente me senti um pouco estrangeira e esquecia algumas palavras em português.
Assim que voltei para a Inglaterra, estava na minha casa com tudo que tenho costume mas com saudades de coisas que não existem aqui.
Brasileira e europeia ao mesmo tempo na vida adulta
Três anos atrás foi a minha primeira década morando fora do Brasil. Ou seja, os anos que vivi no Brasil são menos do que os que vivi fora do Brasil. Quando o tema viver no estrangeiro é discutido, é comum categorizar as pessoas entre ‘First Generation’ (primeira geração) ou ‘Second/Third Generation’ (secunda/terceira geração).
Isso quer dizer que as pessoas que saem de um país já acostumadas com uma cultura, e/ou seus filhos que nascem ou mudam para um país bem jovens e crescem com a cultura do novo país.
Na verdade, não me sinto nenhum dos dois, e sim um pouco de cada. O que vivemos e aprendemos durante a infância cria fundações importantes para o resto das nossas vidas.
E ao mesmo tempo, a cultura e o que aprendemos durante a adolescência, que faz parte de um crescimento mais intelectual, guiam certos aspectos e influenciam nossa personalidade adulta.
Coisas boas do Brasil
Muitas das minhas comidas e sabores preferidos são brasileiros, eu ainda não, e provavelmente nunca vou, me acostumar com o clima chato da Inglaterra e sempre vou ficar animada pro carnaval.
Sempre que penso na minha infância existem poucas memórias na Europa. E, ao mesmo tempo, vivi mais tempo fora do Brasil, conheço todas as tradições inglesas, sou formada e trabalho aqui na Inglaterra. Ah, e nunca dirigi o carro do outro lado da rua!
É claro que todos nós experienciamos momentos importantes em nossas vidas de maneiras diferentes. Seria muito chato se tudo fosse igual. Entretanto, agora que sou adulta (bom, ainda não fiz 30 anos), eu pude refletir e discutir este assunto com pessoas que passaram pela mesma situação.
Acredito cada vez mais que essa mistura de culturas e personalidade seja comum entre pessoas que mudam de país entra a infância e adolescência.
Leia aqui a parte 1 deste texto.
Nascida no Brasil, onde vivi até os 11 anos, hoje moro em Brighton UK trabalhando com arquitetura e design.
