Olá, pessoal, tudo bem?
Voltamos mais uma vez com uma super entrevista inspiradora e rica em conteúdo para a vida! Fomos virtualmente até a terra da Rainha para fazer uma entrevista com a expatriada Angela Rodrigues (conhecida como Angela Banzi, sobrenome italiano de sua mãe e adotado como forma de homenagem) do Portal Londres. Espero que possam aproveitar cada trecho dessa entrevista maravilhosa e dessa história de bravura da Angela Rodrigues!
DP: Ângela Rodrigues, conte um pouco sobre você?
Me chamo Angela Maria Rodrigues, sou a mais nova de 5 irmãos (somos em 4 irmãs mulheres e 1 homem). Nasci em Maringá, no interior do Paraná, e aos 3 anos minha família se mudou para Umuarama, mais a noroeste do estado, quando a cidade ainda estava começando a se desenvolver. Meus pais eram agricultores do café e foi no campo que cresci e vivi até os 21 anos de idade.
Completei o ensino médio aos 17 anos e comecei a estudar para fazer o vestibular para Direito, a faculdade de Umuarama era nova e abrangia toda a região noroeste e sul de Mato Grosso e o curso de Direito era muito concorrido.
Tentei por 4 vezes sem sucesso, e na quarta vez coloquei como segunda opção Administração e passei. Comecei a estudar, mas por falta de recursos não concluí o curso. Nesse meio tempo, fiz muitos cursos e comecei a trabalhar aos 21 anos em um supermercado como caixa.
1 anos e 8 meses depois, eu já havia passado por 3 setores e estava como supervisora do RH, mas como não estava feliz naquele trabalho, larguei tudo para começar um pequeno empreendimento com uma amiga – de representação de roupas. Não deu certo e voltei a trabalhar, dessa vez para uma joalheria.
Alguns anos depois, uma empresa de São Paulo veio na minha cidade ministrar palestras de motivação e uma amiga que trabalhava na Associação Comercial me disse: “Angela, eles estão procurando pessoas para trabalhar com eles e o trabalho é a sua cara”. Fui, fiz a entrevista e uma semana depois estava começando um treinamento. Um mês depois, arrumei as malas e fui para outra cidade começar o trabalho como agente comercial.
Os anos passaram, muitas viagens pelo Brasil, tive a oportunidade de aprender muito e conhecer muitas cidades dos estados de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, onde durante minha trajetória na empresa desenvolvemos vários trabalhos, tendo tido como um dos clientes naquela época, a maior empresa de transporte terrestre: a Viação Itapemirim, que tinha 27.000 funcionários (hoje a empresa não existe mais).
Em 2001, já com meu filho mais velho com 1 ano e meio, decidi que queria sair do Brasil, pois, apesar de trabalhar e ganhar relativamente bem, não atingia meus objetivos. Reuni meus documentos para a cidadania italiana com a ajuda de uma prima que já havia mandado os filhos para a Europa e começamos a fazer o nosso roteiro (eu e meu ex-marido), e decidimos que viríamos para Londres e em agosto ele veio, e em 18 de novembro de 2001, eu chegava à capital britânica.
Permaneci por 5 meses trabalhando em um café (eu havia estudado inglês no Brasil e dava aulas privadas quando estava na minha cidade) e limpando um teatro por 3 horas de madrugada em Aldwych, Londres. Fui para a Itália, onde permaneci com meu filho de 2 anos e meio por 7 longos meses até que meu processo de cidadania fosse concluído (também falava já italiano intermediário, havia estudado no Brasil).
Essa foi a minha melhor lição, pois eu havia contratado serviços de uma assessora, e acabei fazendo quase tudo sozinha. Já decidida que voltaria para Londres e começaria a auxiliar as pessoas a não irem para a Itália na mesma situação que fui, expondo meu filho a circunstâncias impróprias para uma criança como conviver em um apartamento de quarto e cozinha com outras 8 pessoas.
Voltei para Londres e comecei a fazer meus anúncios, e pouco a pouco meu business começou a crescer, fiz excelentes parcerias. No Brasil, com uma filha de um cônsul e, na Itália, com um pesquisador com muita experiência, o que passava confiabilidade para meus clientes que só aumentavam.
Hoje, com 18 anos de mercado, minha empresa, Angela Banzi Ltd. tem clientes em todo o mundo e oferecemos serviços de A a Z relacionados à cidadania italiana.
DP: E como surgiu a ideia do Portal Londres?
Em 2016, começou a nascer em meu coração o desejo de dar de volta à comunidade que tanto me deu em termos de conquistas financeiras. Criei o Portal Londres e comprei os domínios todos, porém não era muito claro como eu iria fazer isso (não sou da área de design ou web design, jornalista etc).
O projeto ficou na gaveta por dois 2 anos. Em 2018 ele nasceu simples com alguns parceiros, mas como por um ano o projeto não andava, em final de 2018 resolvi tomar as rédeas e contratei uma empresa para criar a plataforma e os apps. Hoje em dia o Portal já tem 12 colunistas de peso, e estaremos participando como colaboradores do maior evento de premiação da comunidade brasileira que receberá os prêmios no Parlamento Britânico, o Best of Brazil Awards.
Vivo há 18 anos em Londres, amo essa cidade que me deu tudo o que sou como empreendedora hoje, mas meu coração é italiano e a Itália me chama!
DP: Com grandes desafios e barreiras a serem quebradas com todo esse processo de mudança de vida e país, precisou se reinventar muito?
Me reinventei completamente, deixando pra trás muitas coisas, mas sou destemida e mesmo passando por muita solidão, minha dedicação a meus filhos e meus negócios nunca me deixaram desistir dos meus objetivos.
DP: E como se deu a adaptação dos membros da família?
Vim casada, me divorciei em 2007 com um filho do primeiro casamento que hoje faz matemática na Universidade de Essex e tem 20 anos. Tive um outro relacionamento de 13 anos, do qual veio o Nicolas de 9 anos, e meus filhos são o combustível para que eu me reinvente quantas vezes for necessário.
DP: De que forma se preparou para essa mudança? Pesquisou antes sobre o lugar, contactou brasileiros que vivem no lugar, buscou informação nas embaixadas?
Naquela época não tínhamos os recursos que temos hoje, então foi tudo muito no escuro, muito caseiro e obviamente com muitas dificuldades e obstáculos.
DP: Que diferenças culturais mais te chamaram a atenção quando se mudou?
Vivo em um país que em quase todos os aspectos é muito diferente do nosso. Aqui se preza pelo clássico, por manter a cultura, a história, o passado é muito respeitado e as conquistas, especialmente femininas são fatos, e não somente teorias.
As pessoas se sentem, especialmente em Londres, livres para viver o que elas são sem implicar em julgamentos. Quando vou ao Brasil é como se estivesse passando por um túnel do tempo e voltando a um passado muito distante em todos os aspectos, pois a diferença cultural é enorme. Amo meu país, mas já fiz uma tentativa e a adaptação é dificílima, por isso vou ficando por aqui, mas já com projetos para a Itália nos próximos anos.
DP: Que dicas ou mensagem deixaria pra quem pretende começar uma nova etapa da vida como expatriada?
Expatriar não é fácil, requer mais que coragem, requer que juntemos todos os nossos valores e o carregamos conosco, pois o que tenho visto muito é que pessoas que deixam o Brasil e vem para outro país, veem muitas facilidades e começam a achar que como estão longe isso não terá consequências.
Quando se imigra, você encontra um novo mundo, talvez um mundo que nunca tivemos em nosso país, e o meu conselho é: abrace e respeite esse mundo que o universo lhe colocou a sua frente, não queira jamais impor a sua cultura dentro de outra sociedade, aprenda, mude o seu mindset.
A Europa, como outros continentes, tem muito a nos ensinar com suas histórias e lutas passadas. Somos o resultado disso e devemos ser gratos a tudo isso e ter um respeito imenso a essas lutas e conquistas, sendo a diversificação de culturas o nosso maior aprendizado. Aprender e respeitar a nova cultura que está nos abraçando e recebendo, dando a oportunidade para que possamos reinventar nossa vida.
Um abraço caloroso em todas vocês, mulheres desbravadoras do mundo!
Angela Rodrigues
Para mais artigos como esse, leia nossa seção de Entrevistas.
Sou Debora, carioca de Niterói e moro na Croácia. Trabalho como produtora de conteúdo e redatora em redes sociais, sites e blogs. Sou também professora de línguas (inglês e português para estrangeiros) e tradutora EN-PT).
Antes dessa mudança total em minha vida de expatriada, trabalhei como professora de inglês em diversas escolas de línguas no Brasil e também em empresas com a Petrobras e Vale do Rio Doce. Fui recepcionista bilíngue em eventos voltados a plataformas de petróleo e gás. Viajei o mundo e conheci os 5 continentes e mais de 60 países, a bordo de navios de cruzeiro da empresa Royal Caribbean, onde era recreadora infantil.