O que faz tantas mulheres saírem do Brasil pra se aventurarem mundo afora? Quando pensei em criar essa seção no site, tinha em mente saber o que nos move e o que nos motivou a mudar de ares!
E a segunda entrevistada pra nossa seção Entrevistas vive na Finlândia, um país extremamente diferente do Brasil, mas que encanta por sua beleza particular e qualidade de vida impecável! (A primeira entrevista você encontra aqui).
Confira então essa conversa com a diplomata Lilian Pinho, e inspire-se com sua história (Entrevista feita com a editora e colaboradora Débora Pedroni).
DP: Conte um pouco sobre você, Lilian.
Me chamo Lilian, tenho 40 anos, sou casada com o Massao e tenho uma filha de três anos, a Yumi. Sou do Rio de Janeiro, formada em Letras, e trabalhei como professora e tradutora enquanto morava no Rio.
DP: Como foi parar na Finlândia?
Faz parte do meu trabalho servir em diferentes países, sou diplomata. Quando passei no concurso, me mudei do Rio de Janeiro para Brasília. Alguns anos depois, fui servir em Cabo Verde, país que é um arquipélago na Costa Oeste da África. Voltei por alguns anos a Brasília e, em março de 2019, me mudei para trabalhar em Helsinque.
DP: E os seus maiores desafios e barreiras a serem quebradas com todo esse processo de mudança de vida e país: precisou se reinventar muito?
O maior desafio de adaptação, por incrível que pareça, não foi nas mudanças para o exterior, mas na primeira mudança, para Brasília. Acho que por ter sido o momento em que saí da casa dos meus pais para morar sozinha.
E também porque no exterior acabamos nos relacionando com pessoas que estão na mesma situação de expatriadas, abertas a agregar novas amizades, também querendo companhia para explorar o novo lugar. Mas é claro que a distância da família e dos amigos de infância e juventude sempre pesa.
Mas é preciso encarar isso de forma leve, pensar que a nova experiência não é uma perda, mas uma oportunidade de conhecer mais pessoas, aprender mais, ter novas vivências.
DP: E como está sendo a adaptação dos membros da família a essa nova realidade?
A adaptação tem sido ótima. A Yumi está frequentando uma creche internacional, pois para nós faz sentido que ela aprenda o inglês, que será útil em qualquer lugar onde venhamos a morar.
O Massao também está gostando, e o fato de que ele, que também é servidor público, pode manter o emprego no Brasil, pois trabalha remotamente, também ajuda. Mas a Finlândia tem toda a estrutura, pessoas muito acolhedoras, um ambiente de muita tolerância, estamos nos sentindo em casa.
DP: E de que forma você se preparou para essa mudança? Pesquisou antes sobre o lugar, contactou brasileiros que vivem no lugar, buscou informação nas embaixadas?
Como já vim com toda a estrutura do meu trabalho, tenho auxílio para a maior parte das providências práticas, como alugar um apartamento, comprar um carro, resolver toda a burocracia.
Fora isso, sempre conversamos com os colegas que já estão no país, principalmente para saber da parte do dia-a-dia: alimentação, transporte, serviços de saúde… Para mim, é especialmente importante avaliar como será a vida dos familiares, pois o bem-estar deles é prioritário, essencial para que a experiência no exterior seja positiva.
Fora isso, foco muito na parte divertida – pesquiso lugares para visitar, opções de lazer… Acho que ajuda a preparar o espírito para o novo lugar, pois mesmo com todo o suporte e sabendo que as mudanças fazem parte da nossa vida, não deixa de ser uma ruptura mudar de país de tempos em tempos.
DP: Que diferenças culturais mais te chamaram a atenção quando se mudou?
Na Finlândia – mas também em Cabo Verde, embora em menor medida – me chama a atenção como o comportamento das pessoas em um ambiente de menor desigualdade social é mais despojado, de menor necessidade de ostentação, de mais tolerância com o outro.
Estar em um novo ambiente é uma oportunidade imensa de aprendizado, sobre nós mesmos e sobre as nossas origens e heranças sociais e culturais. Com o tempo, começamos a discernir quais valores nos foram impingidos e quais fazem parte da nossa natureza, e passamos a definir melhor a nossa própria identidade.
DP: Que dicas ou mensagem deixaria pra quem pretende começar uma nova etapa da vida como expatriada?
Vá de coração aberto. Mas não pense que será fácil. Estar em um novo país é aprender tudo de novo, desde as coisas básicas, como escolher os produtos no mercado e pegar o ônibus certo, até questões mais complexas, como compreender o ponto de vista do outro sem julgamento, respeitar hábitos e costumes diferentes.
Manter-se positivo e ter a humildade de aprender com a história de um outro povo, com outros pontos de vista, pode resultar em uma experiência muito enriquecedora. E sair do nosso canto pode doer, pode parecer muito difícil especialmente no início, mas pode também se provar uma grande chance de desenvolvimento.
No fim das contas podemos nos tornar pessoas melhores, com mais respeito pelo outro e mais apreço pelas nossas próprias origens.
Para mais dicas e histórias sobre a Finlândia, clique aqui.
Sou Debora, carioca de Niterói e moro na Croácia. Trabalho como produtora de conteúdo e redatora em redes sociais, sites e blogs. Sou também professora de línguas (inglês e português para estrangeiros) e tradutora EN-PT).
Antes dessa mudança total em minha vida de expatriada, trabalhei como professora de inglês em diversas escolas de línguas no Brasil e também em empresas com a Petrobras e Vale do Rio Doce. Fui recepcionista bilíngue em eventos voltados a plataformas de petróleo e gás. Viajei o mundo e conheci os 5 continentes e mais de 60 países, a bordo de navios de cruzeiro da empresa Royal Caribbean, onde era recreadora infantil.