Antes de mais nada gostaríamos de agradecer a disponibilidade da Farah em compartilhar com nossas leitoras sua história de expatriação. Mulher brasileira acostumada a trabalhar intensamente precisou se ajustar a uma nova realidade ao deixar o Brasil. Na Itália as coisas eram diferentes, foi preciso adaptações e reedificações na vida pessoal e profissional.
Decidiu assumir uma paixão, que virou amor e originou uma família. Hoje Farah vive em Genova com o marido e a filha pequena e se dedica a escrita em grupos de mulheres, criando rede de apoio e inspiração para expatriadas.
Quer saber tudo sobre essa linda caminhada?
Vem com a gente na leitura desse texto! Temos certeza de que voce vai gostar de conhecer nossa entrevistada.
1- Conte um pouco sobre você (família, idade, onde vivia no Brasil, o que fazia lá e sua formação escolar).
Eu me chamo Farah Serra, tenho 39 anos e sou campineira. Antes de me mudar para outro país, morava sozinha e trabalhava em São Paulo. Lá estava fazendo meu segundo MBA e trabalhando em uma importante associação de turismo.
2- Qual o motivo que levou você a morar na Itália? Por favor nos fale como foi seu processo de mudança.
Gostava do que fazia, mas estava começando a me sentir incomodada, naquele momento acreditava que satisfação profissional fosse ter uma carreira em constante crescimento. Coincidentemente naquela época, resolvi assumir uma paixão antiga e me mudar para a Itália. A possibilidade de viver um grande amor e expandir minha carreira internacionalmente não me deixaram hesitar.
3- Quais foram os desafios durante esse processo de mudança de vida e país? Precisou se reinventar muito?
O problema foi que aqui, na dolce Italia, só encontrei o amor. Minha carreira profissional foi para o espaço. De repente, meu diploma universitário e meus dois MBAs não serviam para nada. Vim parar em uma cidade pequena, de um país que estava em recessão. Mal tinha emprego para os italianos, imagina para os estrangeiros. Sem mencionar que em Gênova, turismo praticamente não existe. Nesta parte, a minha grande aventura virou uma tragédia. Tentei até um novo master, pensei que se tivesse uma formação italiana o cenário poderia melhorar, mas não.
Bati muito a cabeça até perceber que era eu quem tinha que mudar. Levei uns três anos para entender isso.
Eu precisava mudar, de verdade, por dentro e por fora. Só quando me dei conta de que eu deveria inventar meu próprio trabalho, porque daí em diante nunca mais estaria desempregada, foi então que as coisas nesse sentindo começaram a melhorar.
4- Como você se preparou para essa mudança? Pesquisou sobre o país, contatou brasileiros que viviam no lugar, buscou informação nas embaixadas?
Já conhecia Gênova e outras cidades da Itália, passei por aqui nos dois mochilões que havia feito pela Europa. Claro que vir para passear e fazer turismo é muito diferente do que vir para morar. Meu marido (namorado à época) já morava aqui há quatro anos. Ele já tinha amigos, falava bem o idioma, conhecia tudo da cidade e de como funcionavam as coisas, por isso me adaptei super fácil assim que cheguei. Os italianos são bem amigáveis também. Não são tão cordiais e receptivos como nós, mas são “tutto buona gente”.
Estudei um pouco antes de vir para cá, mas praticamente não falava o idioma. Por um ano e meio frequentei diariamente uma escola que dava aulas de italiano para estrangeiros. Fiz todos os níveis e fiz o exame de proficiência. O italiano é uma língua muito semelhante ao português, o que faz a gente pensar que dá para embromar, mas não dá. Se você quer viver em um país você precisa se comunicar bem na língua dele.
Então, tirando a questão do trabalho de lado, foi tudo muito fácil. No amor, tudo sempre andou “a la grande”. Tão perfeito, que depois de quatro anos me casei e um ano depois engravidei.
5- Poderia nos contar um pouco mais sobre isso ?
Minha filha nasceu aqui. Meu marido também não é italiano, mas finalmente saiu a cidadania e minha filha e eu nos tornamos cidadãs italianas. Mas o nosso sangue é brasileiro, minha cultura é brasileira, minha língua é o português.
Falo o italiano, mas todos sacam que sou estrangeira assim que abro a boca. Não tem jeito, por mais que tente usar todos os meus aprendizados, eles sabem. Deve estar na “ginga”, diz um amigo meu.
Agora com o crescimento da minha filha e a sua inserção na alfabetização, estamos lidando com alguns conflitos quanto a como não criá-la como estrangeira no país em que ela nasceu, do qual é cidadã e que conhece muito mais do que a minha terra natal. Estamos fazendo uma nova imersão na cultura italiana, de uma maneira totalmente diferente da que tínhamos feito até agora.
6- Como esta sua vida profissional atualmente?
Hoje sigo inventando meu trabalho. Após quase três anos dedicados à minha filha, aproveitei da situação para me dedicar quase que exclusivamente a sua primeira infância, agora estou retomando minhas atividades profissionais.
Nesses oito anos que estou aqui, aprendi muito, me reinventei e me reedifiquei mais de uma vez. Em meio a esses aprendizados, descobri meu propósito: procurar ajudar as mulheres que estão passando pelas mesmas dores que eu já passei. Através da escrita ajudo mulheres a se apropriarem de suas experiências e se empoderarem de quem realmente são.
7- De que forma surgiu esse empoderamento ?
No ano passado idealizei e organizei a Coletânea Reedificações – Histórias de mulheres brasileiras que se reinventaram pelo mundo (Fafalag,2019), que fala sobre brasileiras que acreditam em si mesmas, que vivem os seus sonhos e os fazem, de um modo ou de outro, acontecer. O realizei com a ajuda de muita gente, trinta e três autoras, cento e sessenta e seis apoiadores do financiamento coletivo, vários parceiros. Hoje ela está à venda nas versões ebook e impressa. Para saber mais: https://bit.ly/coletaneareedificacoes
Esse ano criei o Movimento Mulheres que inspiram, com o intuito de dar perspectiva para as mulheres que não se acham no lugar/na situação em que estão. De dar suporte para aquelas que estão aí sobrevivendo e está pesado, está puxado. Com esse movimento quero criar uma rede de apoio, estimular trocas, vivências, compartilhar histórias de mulheres reais, normais, que igualmente superaram seus momentos de reinvenção. Quem quiser acompanhar é só acessar meu Instagram @farahserra.
E também idealizei e organizei a Coletânea Mães – Ser mãe acrescenta um quê ao senso comum, com a produção da In-Finita, que será lançada em dezembro de 2020. Dessa vez minha pretensão foi dar a devida voz às mulheres-mães, resilientes, protagonistas de suas circunstâncias, mas que tantas vezes passam despercebidas aos olhos dos outros. Reuni 91 mulheres que compartilharam suas vivências comuns de afeto, família, trabalho e vida. Não do ponto de vista idealizado, mas sim de um retrato contemporâneo, cru, da mulher-mãe, com seus defeitos e qualidades. Aqui nessa apresentação estão todos os detalhes: https://bit.ly/coletaneamaes
8- Que diferenças culturais mais te chamaram a atenção quando mudou do Brasil para a Itália ?
O modo como os italianos levam a vida. Eles têm um ritmo muito diferente do nosso, principalmente quando se fala de trabalho. Aqui as pessoas trabalham para viver, não o contrário. Feriado é feriado. Tutto chiuso! Não se trabalha. Férias também são férias. Arrivederci! Época de trégua, de fazer as malas, ir viajar e aproveitar o melhor daquela estação.
Outra coisa é que aqui não existe o que chamamos de subemprego. Claro que existem trabalhos mais ou menos nobres, porém todos – sem exceção – são dignos, respeitados e valorizados. Os italianos não sentem vergonha das suas atividades laborais, pois mesmo os trabalhos mais simples são considerados tão dignos e importantes como os outros. E isso é uma das coisas que eu acho mais legal daqui.
9- Que dicas você deixaria pra quem pretende começar uma nova etapa da vida como expatriada?
Prepare-se, nada será como você idealizou. Ser expatriada, cedo ou tarde, te levará a conhecer você mesma.
Cheguei aqui com as minhas malinhas e muitos sonhos, sem nem imaginar o que significava “ser estrangeira”. Vim com uma passagem só de ida, que não me levou, mas me trouxe. Trouxe ao meu encontro comigo mesma. Hoje percebo que é para isso que temos que estar preparadas, ao ser estrangeiras a nós mesmas.
Com o tempo, tudo ficará bem, mas só encontraremos a felicidade quando habitar em nosso coração a sabedoria e paciência dos tempos e dos momentos, a paz de quem sabe que são muitos os porquês e para quês que ultrapassam a capacidade humana de compreensão.
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Sou Debora, carioca de Niterói e moro na Croácia. Trabalho como produtora de conteúdo e redatora em redes sociais, sites e blogs. Sou também professora de línguas (inglês e português para estrangeiros) e tradutora EN-PT).
Antes dessa mudança total em minha vida de expatriada, trabalhei como professora de inglês em diversas escolas de línguas no Brasil e também em empresas com a Petrobras e Vale do Rio Doce. Fui recepcionista bilíngue em eventos voltados a plataformas de petróleo e gás. Viajei o mundo e conheci os 5 continentes e mais de 60 países, a bordo de navios de cruzeiro da empresa Royal Caribbean, onde era recreadora infantil.
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