Em minha primeira experiência viajando para fora do Brasil há 12 anos, escolhi mudar para Dubai-EAU. No primeiro ano em Dubai me casei com um romeno e hoje tenho um filho que está com 9 anos e outro de 21 anos do meu primeiro casamento. Desde de que me mudei, não voltei ao Brasil, mas minha família sempre vem me visitar.
Descobri que tinha câncer de uma forma incomum: por erro médico. Em dezembro de 2017 fiz uma mamografia e descobri um pequeno caroço do tamanho de um feijão no seio. Mas a médica disse que não me preocupasse, pois era benigno e que talvez crescesse um pouquinho.
Em agosto de 2018 eu estava de férias na Romênia quando o pequeno caroço em duas semanas triplicou de tamanho. Apavorada voltei a Dubai e a médica que me atendeu (não foi a mesma do inicio) me encaminhou direto para biópsia e foi constatado o câncer. Mas como era altamente agressivo(RH+/HER2), ele já havia se espalhado para os pulmões, coluna, clavícula, pélvis e crânio.
Confesso que me senti sem chão, pois a primeira coisa que pensei é que não teria tempo mais para estar com minha família e não sabia quanto tempo teria de vida.
Começo do meu tratamento
Estava para começar meu tratamento e precisava decidir o mais rápido o possível se o faria no Brasil ou em Dubai.
No Brasil estaria com minha mãe, irmã, sobrinha… todos meus parentes e amigos antigos e, lógico: médicos falando o mesmo idioma que eu. Porém em Dubai estaria com meus filhos, marido e amigos queridos, mas tendo que lidar com médicos de várias nacionalidades.
Mesmo sendo muito difícil a decisão, optei por ficar em Dubai, porque jamais teria condições psicológicas de estar longe de meus filhos e meu marido em uma fase delicada como essa.
O câncer mudou minha vida e muitas coisas em mim como pessoa também. O início é muito difícil.
Como mudou minha vida?
Para meu tipo de câncer a maioria das quimioterapias e terapias não estão disponíveis no SUS, isso me limitaria a um tratamento bem caro no Brasil. Através do meu plano de saúde daqui tive acesso ao Basmah, uma iniciativa do Dubai Health Authority que cobre todo o meu tratamento.
Devido à metástase (não tem cura por enquanto!) o meu tratamento é constante e para toda vida. E está sendo realizado no Dubai Hospital, um hospital árabe, e meus médicos são de várias nacionalidades.
A equipe médica que me trata me oferece a melhor qualidade de vida possível para minha situação. Mas preciso cuidar também muito bem da minha cabeça, meu corpo, meu espírito e meu coração.
Inicialmente tive que parar de trabalhar (sou arquiteta), pois faço quimioterapias semanais e os efeitos colaterais são desconfortáveis, mas assim que parar as quimos semanais quero muito voltar a trabalhar. Acredito que, quando se faz o que se gosta, o trabalho acaba virando terapia.
Aqui não temos frutas e verduras de formas variadas como no Brasil, mas temos acesso a algumas opções orgânicas, o que ajuda bastante. Acredito que se estivesse no Brasil estaria experimentando todos os chás que vejo em posts na internet. Mas acreditem – eles são algumas vezes extremamente perigosos para o fígado se tomados em excesso, e a quimioterapia nos deixa com a imunidade baixa, nos colocando em riscos se ingerirmos determinadas ervas ou folhas.
As atividades físicas para mim ficam limitadas a caminhadas, devido ao meu problema de coluna estar avançado e nessa época do ano somente “indoor”, pois ainda esta muito quente para caminhadas ao ar livre.
Como me mudou como pessoa?
No inicio é muito difícil lidar com a aceitação da doença, por isso achei uma boa opção abrir meu problema em rede social e o publiquei no Facebook. Não para que as pessoas sentissem pena de mim, mas para ajudar a mim mesma a aceitar minha situação.
Descobri quem eram realmente meus amigos. Muitos permaneceram ao meu lado me apoiando, mas algumas pessoas que eu tinha certeza que iriam me acompanhar, simplesmente sumiram. E ainda existem as pessoas que não sabem lidar com a situação e acham que eu posso morrer a qualquer momento. Elas não entendem bem o que eu tenho e se apegam a preconceitos que a própria mídia promove.
Claro que explico a gravidade da situação, mas que eu não vou morrer amanhã, aliás a única certeza que temos na vida é que para morrer, basta estar vivo!
O mais incrível aconteceu: surgiram brasileiras que eu não conhecia e que moravam em Dubai e outras que moravam em outros países e que me encontraram através de amigos e que me ajudaram com informações e muita força espiritual.
Daí tive a prova de como existem pessoas boas nesse mundo, que mesmo distante de mim ou sem me conhecerem pessoalmente, doavam um pouco de seu tempo e de seu carinho comigo, e isso me ajudou a enfrentar essa jornada longe de meu país, de meus familiares e amigos de infância.
Os efeitos colaterais do câncer de mama
Devido aos efeitos colaterais, fiquei careca logo no inicio e, em um país muçulmano onde a maioria das mulheres cobrem a cabeça, comecei a usar lenços. Mas com o tempo, comecei a me sentir oprimida – como se tivesse que cobrir algo errado em mim e não gostei. Então, eu assumi minha “carequice” e somente cobria quando estava no sol.
Essa foi uma fase muito interessante, muitos olhavam curiosos, outros evitavam olhar, mas eu estava determinada a continuar a ser “ponto de referência no shopping” (muitos risos!).
Para mim, a autoestima começa quando você se sente bonita e se aceita como está! Que graça tem em eu lutar para ficar viva e, ao mesmo tempo, não me dar o valor que eu mereço? Para mim, beleza é atitude e todas somos incríveis como somos!
Digo atitude porque basta a atitude de se sentir bonita já é o suficiente para você se cuidar e ter orgulho de você mesma. A maior beleza vem de dentro e não tem a ver com cabelo ou peso. Trabalhe sempre seus pontos positivos. Se ame, se valorize, se cuide, se respeite.
Esperança e fé
Esperança e fé andam de mãos dadas e encontro uma palavra amiga vinda de pessoas de todas as nacionalidades e religiões. Essa experiência está me mostrando que não importa a nacionalidade ou religião, quando alguém quer te passar esperança ela traduz de uma forma muito única a sua fé e isso me transforma cada vez que um árabe, um indiano, chinês, russo… me diz que está orando por mim.
Aprendi a não ter medo de morrer e sim ter medo de não viver, isso significa valorizar ao máximo o tempo com sua família e todos aqueles que te amam, estando longe ou pertinho, ao vivo ou pela tela do celular/computador, já que a vida de expatriada é assim. E que é importante que, mesmo estando quente lá fora (às vezes 47 graus), eu possa agradecer a Deus por ver mais um dia acontecer e eu poder participar dele plenamente.
Campanhas do OUTUBRO ROSA
As campanhas do OUTUBRO ROSA são importantíssimas! Elas estimulam a prevenção do câncer e o DIAGNÓSTICO PRECOCE do Câncer de Mama.
A prevenção significa fazer algo para não desenvolver a doença. E diagnóstico precoce é saber se está com a doença o quanto antes.
Faça o auto-exame todo mês e pelo menos uma mamografia uma vez por ano. Caso encontre algum caroço, faça novamente o exame e vá a pelo menos dois médicos para ter certeza dos resultados.
A mamografia não previne câncer de mama, mas ajuda a descobrir algo bem no comecinho e torna o tratamento menos agressivo.
Espero que a cada campanha o preconceito desapareça e que as pessoas percam o medo de falar a palavra câncer, porque não é contagioso. Que a imagem de uma mulher careca transmita orgulho e admiração e não pena ou compaixão.
E, principalmente, que você se ame e demonstre isso fazendo seus exames periódicos por amor e respeito a você.
Arquiteta com mais de 20 anos de experiência, especializada em construção civil e decoração de interiores de residências e ambientes comerciais. Trabalhando para pessoas de várias nacionalidades, consigo adaptar as necessidades de meus clientes à cultura e ao país que reside ou vai residir.