Em uma noite qualquer de abril de 2016 enquanto apreciávamos um vinho, enquanto nosso filho de cinco meses dormia, surgiu a primeira faísca do desejo de sair do Brasil. Com a crise econômica e financeira que desestabilizava as empresas, trazendo insegurança e instabilidade às famílias, surgiu o questionamento: – “o que você acha de mudar de país?”
Viver uma vida diferente de tudo isso que já vivemos! Mudar de profissão, tentar algo novo e diferente!
E aquele espírito empreendedor e aventureiro ecoou em nossos corações como uma injeção de ânimo e adrenalina. Naquele momento, sentimos que estávamos prestes a fazer um upgrade em nossas vidas.
Aquela conversa acabou por desencadear o começo da nossa vida de expatriados pelo mundo. A sensação de não nos sentirmos mais pertencendo a um único lugar tomou conta do nosso coração. Queríamos algo que acreditávamos que ali jamais conseguiríamos encontrar.
Buscávamos um estilo de vida simples, não no sentido de facilidades, porque sabemos que a vida não é fácil no Brasil, e muito menos fora dele. Sempre haverá dificuldades a serem enfrentadas, e estávamos totalmente dispostos e motivados a encarar esse desafio.
E o que pesou quando decidimos morar no exterior?
Buscando um caminho diferente
O que buscávamos era uma forma de vivermos uma vida mais simples e com mais independência com os nossos filhos, livres da insegurança que nos cercava, Aquele contexto nos forçava a ter como prioridade um padrão de vida sempre além do que tínhamos, nos obrigando a trabalhar incansavelmente para mantê-lo.
Não concordávamos com isso. Não fazia o menor sentido! Tínhamos que priorizar o trabalho em lugar da família, para conseguirmos manter materialmente a família! E para isso, trabalhávamos horas a fio, embora nos encontrássemos sempre aquém da nossa real possibilidade financeira.
Foi aí que fizemos nossa primeira comparação entre o estilo de vida real e o ideal. E tudo fez sentido! Aquela vida que pretendíamos oferecer aos nossos filhos não estava ali. Estávamos propensos a falhar, não como pais, mas como inspiração.
Acredito que o começo de qualquer caminho é fundado no imaginário. Só status social não traz inspiração, e nós queríamos ser para nossos filhos aquilo que nos inspira a ser quem somos, tal qual nossos avós fizeram lá atrás como desbravadores, tanto os meus como os do meu marido, sendo eles sempre nosso assunto preferido como motivação e admiração.
Quando decidimos morar no exterior: reescrevendo nossa vida
Chegar ao final da vida e ter feito o que todo mundo fez não era um bom plano para nós. Então, em 3 de agosto de 2016, entramos na nossa cápsula do tempo (avião), rumo ao topo do mundo, o futuro.
A escolha do país
A escolha do país se dá a partir das suas prioridades. É preciso elencar primeiramente quais são elas. A partir daí começar as pesquisas, baseadas inicialmente nas experiências de outras pessoas que lá vivem. Depois então pesquisar sobre os aspectos importantes para a sua família e como é a vida naquele lugar.
Cada família tem as suas prioridades. A nossa é estar em um país onde haja saúde e boas escolas públicas. Percebemos isso depois de vivermos em Sydney na Austrália, onde apesar do nome público de alguns serviços, tudo é pago.
Tínhamos como linha de raciocínio que, se fôssemos para um país onde se ganhava bem, os custos de vida seriam sustentáveis e se equilibrariam. Apesar de Sydney estar em comparação com outros 50 países no ranking das cidades mais caras do mundo para se viver, achamos que conseguiríamos ter uma vida financeira equilibrada.
Colocando as contas no papel
Entretanto, o custo de vida lá era muito alto. Além disso, o aluguel era pago por semana, a escola paga por dia e o pagamento do período (family daycare) antecipado, sendo que consulta médica é paga mesmo tendo plano de saúde, incluindo as urgências.
Sem contar com os gastos que teríamos com a renovação do visto até obtermos a nacionalidade (tudo correndo bem, levaria um período de sete anos), o custo de vida para uma família recém chegada se mostrou inviável para um recomeço. Tudo seria bem mais fácil se fôssemos um casal sem filhos em que os dois trabalhassem. Mas para nós que somos um casal mais 1 filho e com mais uma filha a caminho, ficou difícil!
A partir desta experiência foi possível percebermos e definirmos mais um ponto do que seria o padrão de vida ideal para nós, e o que o próximo país de nossa escolha deveria oferecer para nossa família.
Outro ponto que também teríamos que pesquisar seria em relação ao bebê que estava para nascer, e Portugal foi o que melhor se alinhou nesse quesito.
Ponto importante que levamos em conta para ter o bebê e viver em Portugal
Pela nova lei de junho de 2018 a criança nascida em Portugal terá a nacionalidade portuguesa, após cinco anos, vivendo e frequentando a escola primária no país. Os pais podem fazer o pedido para autorização de residência para a criança e ambos os pais assim que a criança nascer.
Agora, se os pais já forem legalizados residentes há dois anos e tiverem um filho, a criança já nascerá portuguesa de origem e adquire a cidadania e o passaporte assim que nasce.
Ambas as crianças serão portuguesas. A diferença é que a que adquiriu a nacionalidade após os cinco anos de residência não poderá se candidatar à presidência ou participar do parlamento, por exemplo, enquanto que a que nasce portuguesa de origem tem os mesmos direitos e deveres dos demais cidadãos.
Aqui em Portugal o país adota tanto o critério do jus sanguinis (critério da consanguinidade / parentesco) como do jus solis (critério do solo / território) para delimitar quem pode ser requerente e detentor da nacionalidade portuguesa.
Em resumo, o jus sanguinis (critério do parentesco) é aquele que garante ao indivíduo o direito à nacionalidade de um determinado país em função da sua ascendência (da nacionalidade dos seus pais ou avós, por exemplo).
Por sua vez, o jus solis (critério do território) garante ao indivíduo o direito à nacionalidade de um determinado país pelo seu nascimento naquele local ou a sua permanência prolongada no país.
Isso significa que, pelo jus solis (critério do território) filhos de estrangeiros nascidos em Portugal não nascerão portugueses, mas irão adquirir a nacionalidade portuguesa, morando em Portugal, depois de cinco anos permanecendo aqui e frequentando a escola.
Valeu a pena morar fora?
Recomeçar em outro país é como ter a oportunidade de começar de novo, porém com mais inteligência. É a chance de meter o saca rolhas e não deixar os melhores vinhos para depois. Por isso sentimos essa adrenalina e motivação em fazê-lo quantas e quantas vezes for possível, tentado zerar as nossas opções de oportunidades.
Vale a pena morar fora do Brasil? Tudo depende. Depende de quais são suas prioridades, depende do que você busca, depende do que você almeja; então a resposta é: depende de você! Você precisa experimentar por você mesmo, olhar tudo do seu ponto de vista e, de acordo com suas experiências e referências de vida, obterá essa resposta.
É preciso estar aberto para provar novos sabores, ter a mente aberta para aprender e absorver novos valores, saber administrar a saudade e o estresse. Se abrir para o novo que está se abrindo para você.
Aceitar a cultura. Não julgar ou fazer comparações. Se sentir mesmo parte de tudo, afinal, nem tudo são flores no Brasil ou em qualquer lugar que você estiver. Terá dias bons e dias mais ou menos bons. Entender que não será com um mês de luta que irá vencer uma batalha, faz parte do equilíbrio emocional.
Temos que entender que vamos ser sempre expatriados, independentemente do tempo que residamos no país ou dos documentos de cidadania que possuirmos. Seremos sempre o/a brasileiro/a; e essa é a sua nacionalidade, nada muda isso!
Enfim, se valeu a pena? A nossa resposta é: faríamos tudo de novo se preciso fosse, estamos vivendo os melhores anos de nossas vidas, e sentimos que esse é só o começo.
Somos resultado de vários recomeços, pense nisso!
Casada há 21 anos, 39 anos, Mãe da Zoe (5 anos) e do Hiram (9 anos). Ex bancária, formada em Contabilidade, ex-sócia e proprietária da empresa Brazil Country Boots, fui por 3 anos Travell Planer na agência de viagem hm miles and tour e atualmente estou em transição de carreira em Dublin na Irlanda.
Com experiência e memórias de 5 países onde morei e tenho na bagagem: Itália, Inglaterra, Austrália, Portugal e atualmente Irlanda. Venho compartilhar com vocês experiências de mãe para mãe e a vida de uma expatriada pelo mundo.
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