A síndrome de Ulisses não está catalogada na Classificação Internacional de Doenças (CID 10), mas tem igual importância pela seriedade dos seus sintomas. A Síndrome de Ulisses pode acarretar problemas emocionais graves, embora, muitas vezes não conseguimos reconhecer que estamos passando pelo problema e acabamos minimizando nosso desgaste. Por conta disso, é importante disseminar o que é a síndrome e dar ferramentas de autoconhecimento para as pessoas que migram, facilitando a busca por ajuda.
Segundo o Itamaraty o número de brasileiros no exterior vem crescendo muito, somos mais de 4 milhões de imigrantes. Saímos em busca de uma vida melhor, de novas oportunidades, seja o objetivo que for, mas que de qualquer forma, deixamos família e um ambiente conhecido e seguro para trás. Mudar significa possibilidades de realização de sonhos, bem estar e maior facilidade de atingir nossos objetivos de vida. Porém, também significa vários tipos de dificuldades que, muitas vezes, na expectativa de sucesso, o imigrante não antevê e não se prepara da melhor maneira. Dessa forma, é possível encontrar uma avalanche de frustrações e, inclusive, pensar em desistir.
O que é Síndrome de Ulisses
Existe um sofrimento natural no ato de imigrar, porém, a Síndrome de Ulisses é reconhecida por um sofrimento agudo, com um estresse bem maior frente aos desafios comuns no novo país. E justamente pelo estresse ser algo esperado numa fase de ambientação que, muitas vezes, não damos a devida importância quando nos sentimos mais angustiados, ansiosos ou melancólicos. É comum então acharmos que estamos exagerando e se dermos uma relaxada vai melhorar. No caso da síndrome de Ulisses não é assim. Não irá passar se não tratada e pode levar a vida expatriada a um verdadeiro pesadelo com sintomas graves.
A Síndrome de Ulisses em si não é um transtorno mental. É como um comportamento desregulado frente a quantidade de estresse da nova vida. Existe dificuldade extrema de elaborar as situações não previstas, assim como, se sentir acuado e no limite. Geralmente está associado a não se sentir bem-vindo, se sentir desamparado, a ter dificuldades na cultura diferente ou não sentir que sua vida está realmente melhorando como previa. O estresse vai sendo acumulado até que a pessoa não saiba mais lidar. Problemas como insônia, cansaço intenso, esquecimentos diários, tristeza profunda e até confusão mental começam a acontecer.
Quais os sintomas
Alguns sintomas são bastante confundidos com outros transtornos, por isso cautela! Citarei os mais comuns e evidentes. Como já mencionado, o mais fácil de reconhecer é o estresse e a ansiedade permanentes. Basicamente não cessa! Além disso, nota-se sentimento de inferioridade e isolamento social, bem como uma tristeza intensa, muitas vezes confundida com depressão. Também existe sensação de não pertencimento, se sentir um estranho no ninho, além de muitos sintomas físicos como dores de cabeça, vertigem, enjoos e respiração difícil. Embora não sendo a melhor saída, procurar alívio no álcool e substâncias químicas é comum, assim como qualquer outro tipo de vício.
Todo imigrante pode desenvolver a síndrome?
É importante deixar claro que nem todo imigrante sofrerá da Síndrome de Ulisses. Podemos dizer que depende muito da personalidade de cada um, o poder de resiliência (saiba mais nesse artigo “Como ser resiliente”), o grau de autonomia que já tinha em sua terra natal, se é alguém que tem facilidade de adaptação e saúde mental em dia. Falo da saúde mental em dia, porque, muitas vezes, eventos estressantes e que saem de nosso controle podem fazer explodir problemas que já tínhamos mas estavam adormecidos.
Também é válido ressaltar que as condições da imigração farão muita diferença. Chegar no novo ambiente com a vida já, mais ou menos, estruturada facilita muito. Aquele que migra com um trabalho já preestabelecido ou uma bolsa de estudos organizada, ou mesmo um casamento já marcado tem menos possibilidade de desenvolver a síndrome. Isso não quer dizer que não corra o risco e que não vai passar pelos desafios da imigração. Já o imigrante que chega no novo país sem nenhum tipo de estrutura ou migra para fugir de coisas extremas como guerras, abusos, miséria, a possibilidade de desenvolver a síndrome é muito maior.
Tratamento
Por fim, as chances de um tratamento inadequado são grandes. A Síndrome de Ulisses, como já mencionei, pode ser confundida com transtornos mentais como depressão, estresse pós traumático e ansiedade generalizada e, por isso, acaba não sendo realmente tratada da melhor maneira. Nesses casos a própria pessoa vai ficar no escuro e pensar que tem uma coisa que não condiz com a realidade. Desse jeito não vai poder se ajudar porque não terá o entendimento certo pelo que ela está passando.
Medicação pode ser indicada, mas não basta só ela para um bom tratamento. É preciso a intervenção de um psicólogo que fará o que chamamos de psicoeducação. Nela o imigrante entende o que se passa com ele e consegue colocar para fora o que sente. A partir daí é ajudá-lo a descontruir todas as frustrações e crenças negativas adquiridas com a mudança e construir uma visão mais saudável e apropriada do que ele está vivendo. Com isso, vai estar pronto para novos relacionamentos e se integrar melhor no ambiente novo.
Espero que tenham curtido e estou a disposição para dúvidas e comentários. Vocês também me acham no Instagram @renatacastropsicologia ou pelo email de contato aqui do blog. Vou adorar ver todos por lá.
Psicóloga clínica, especializada em Terapia Cognitiva Comportamental, carioca, mãe de 2 amores de 4 patas.
Deixei meu consultório no Rio de Janeiro e vim morar na Capital da Croácia, Zagreb.
Hoje atuo com atendimentos online.
Respostas de 4
Obrigada, me identifico muito, com estes textos e tento aprender um pouco. Mas ajuda muito mesmo.
Que bom querida! E se tiver sugestões pode me escrever. Bjs