Esse título pareceu estranho para você? Como assim não é? A gente só vai começar a vencer um câncer de mama quando souber que ele existe e fizermos alguma coisa para isso não? Não! A resposta é não. Porque, se pararmos para pensar racionalmente, essa “batalha” começa a ser vencida quando nós interiorizarmos que na condição de mulher, estamos suscetíveis a esta doença. E não importa apenas se temos fatores genéticos ou hormonais que nos tornam mais propícias ao desenvolvimento de um câncer de mama. Começamos a vencer a batalha na prevenção!
O câncer de mama é a forma de tumor maligno mais diagnosticada no mundo, sendo em torno de 12% do total de todos os diagnósticos em todos os tipos. Porém, também é o câncer com maior taxa de sobrevida e se detectado precocemente, com até 95% de cura ou estabilidade. Se quiser dados e informações mais detalhadas sobre o câncer de mama pode dar uma lida no site do INCA (Instituto Nacional de Câncer). O site é super didático e bem explicativo!
Nós, mulheres, somos tão empoderadas em tantas coisas, lutamos tanto para melhorar nosso papel na sociedade e como não nos cuidarmos para que não seja preciso passarmos por todo o processo físico e psicológico de um tratamento de câncer? Fazer a nossa parte é estar, mesmo de forma invisível, apenas fazendo a nossa parte, ao lado das mulheres que, literalmente, enfrentam essa batalha.
Descobri que tenho câncer
O tema existencial que mais causa medo no ser humano é a morte e o câncer, por mais que a ciência tenha evoluído e a possibilidade de tratamento e sobrevida seja super possível, ainda é uma palavra totalmente associada a morte. Dito isso, ao receber um diagnóstico de câncer, é inevitável uma crise, um choque emocional muito grande. Costumo dizer que tudo aquilo que afeta nosso corpo, nossa saúde, afeta nosso emocional. Nosso corpo nem é muito percebido no dia a dia quando ele está em bom funcionamento, mas quando precisamos lidar com algum freio nas suas atividades normais, nos vemos impotentes e isso não tem como não abalar o psicológico.
Esse abalo emocional vai desestabilizar as estruturas de qualquer um, inclusive dos familiares, amigos em volta. Mas no caso de um câncer de mama, existe um plus nesse abalo, considerando o SER mulher! Um grupo de apoio ao qual participei anos atrás atuava com pacientes de câncer de mama. Ele acompanhava a trajetória emocional dessa mulheres desde o recebimento do diagnóstico até, mais ou menos, a metade do tratamento. Infelizmente, o projeto acabou por falta de verba, mas foi possível notarmos que a queda de autoestima nessas mulheres era muito maior que em qualquer outro grupo com câncer. O medo com a probabilidade de perder cabelo, retirar as mamas é avassalador e é por isso, que o apoio psicológico é ainda mais fundamental!
Encare a doença o quanto antes
Na descoberta da doença uma montanha-russa de emoções aparece. Vem o choque e, geralmente a tristeza misturada com o medo logo em seguida. Dentro do pacote desse medo tem o pavor da possibilidade de não ser vista mais como mulher e perder o poder da sensualidade. A raiva também surge e os questionamentos de “por que comigo” ou “o que eu fiz para isso”. Um misto de culpa, falta de perspectiva e impotência também podem aparecer.
Mas é aí que precisamos trabalhar com a parte de aceitação e do enfrentamento da doença! Embora a palavra câncer esteja associada a morte, existe muita vida existente no diagnóstico do câncer de mama! A fase do encarar a doença e começar o trabalho para vencê-la precisa chegar logo. Por isso, quanto antes aceitarmos o diagnóstico e começarmos a enfrentar de frente a questão, melhor!
Acredite. Você pode SIM!
Embora o aceitar e começar a enfrentar a doença seja necessário o mais rápido possível para ajudar o psicológico a se fortalecer, é preciso ter empatia pelo que aquela mulher está passando. Além disso, dar tempo para que ela interiorize as coisas e se sinta pronta para começar o tratamento e o trabalho com suas emoções. A sensação de perda de controle da vida vem como uma avalanche e é fundamental que essa sensação retorne. Isso acontece quando esta mulher decide que está no comando e quer lutar para ficar bem em todos os sentidos. É chegada a hora de arrumar suas forças, ficar consciente do processo do tratamento, ter ideia de onde vai e do que pode ter que passar para vencer essa doença.
Não será fácil ter que lidar com os tratamentos muitas vezes invasivos, dolorosos, efeitos colaterais e o medos durante o processo, mas saber que está no controle, tendo a exata noção do passo a passo, deixa a pessoa mais forte e preparada. A linguagem de equipe médica, familiares e amigos não pode ser pouco clara ou omitir as coisas. Precisa ser empática, mas verdadeira, enfrentando o problema junto com ela, dando a mão e não vendando os olhos. É preciso passar a sensação de estar junto, de falar a verdade, porém com calor emocional. Sendo assim, se pensarmos em mulher expatriada, é preciso considerar que o diagnóstico e tratamento serão diferentes em países fora da América Latina.
O que fortalecer
Qualquer indício de ansiedade, depressão, oscilações de humor, devem ser consideradas e tratadas. Por mais normal que seja esperar por isso em pacientes com este tipo de enfrentamento, é preciso cuidar. Ou seja, dar estrutura psicológica e fortalecer o emocional e não deixar de lado já que pode passar assim que a doença começar a regredir. Neste momento é fundamental entrar com apoio na saúde mental e a espiritualidade. Não falo de religião propriamente dita, mas de saber que existe algo maior que nós e que nos da sensação de amparo e encoraja a seguir adiante, não esmorecer, saber que vale a pena e que é possível sair dessa.
Por fim gente, toda e qualquer crise que o ser humano passa é possibilidade de transformação. Quantas histórias você não já ouviu de alguém que passou por situação difícil ter mudado sua maneira de pensar e agir para melhor? Quantos exemplos admiráveis de pessoas que passaram e venceram situações adversas, que foram resilientes, e hoje são pontinho de luz na terra ajudando a motivar e modificar a trajetória de vida de vários de nós? Só de escrever esse parágrafo para vocês, me veio mais de cinco exemplos na cabeça.
Um deles é a minha ex sogra! Venceu o câncer de mama, está sem recidiva tem mais de 10 anos e ela mesmo diz que é uma pessoa muito melhor hoje, mais humana, mais empática e mais grata. Porém, aprender a ser resiliente é parte fundamental nesse processo de enfrentamento de momentos difíceis. Quer entender melhor o que é ser resiliente? Veja o meu artigo Como ser resiliente.
Conclusão
De novo gente, câncer de mama tem 95% de cura no diagnóstico precoce. É a forma de câncer com maior taxa de sobrevida! SIM mulher, você pode vencer isso! Ademais, se quiserem ler mais artigos meus, tanto com conteúdo da psicologia quanto do país que sou expatriada, a Croácia, dá uma busca aqui no blog. Também me segue no Instagram @renatacastropsicologia. Até breve 🙂
Psicóloga clínica, especializada em Terapia Cognitiva Comportamental, carioca, mãe de 2 amores de 4 patas.
Deixei meu consultório no Rio de Janeiro e vim morar na Capital da Croácia, Zagreb.
Hoje atuo com atendimentos online.