Em primeiro lugar gostaria de dizer que, para mim, a vida a dois para os imigrantes é verdadeiramente uma prova de amor, pois você descobre se o seu casamento é de rocha ou de barro. Pois, é aqui fora temos essa revelação sobre o matrimônio. Então, venha comigo saber como é a vida de um casal de imigrantes.
Obrigações que no Brasil poderíamos delegar , aqui fora, marido e mulher certamente irão dividir, já que os dois tem o mesmo papel dentro de casa. Acima de tudo, aprendemos a ver um no outro a força que precisamos para seguir em frente juntos. Temos que ser parceiros de vida e de sonhos para dar certo.
A falta de uma rede de apoio, alinhada à sobrecarga emocional gerada pelas crises de síndrome de ansiedade, nos dois primeiros anos após a mudança, muitas vezes fazem com que percamos o sentido no meio do caminho. Nesse momento é que o casal precisa ter muita cumplicidade, se fortalecer para o sonho não virar pesadelo.
Cada escolha uma renúncia
Os primeiros três anos da vida de um imigrante não são fáceis! Além de todo o processo de mudança cultural, tem o estilo de vida que muda consideravelmente.
Nós, mulheres no exterior, a maioria quando tem filhos, tem que abrir mão da vida profissional pelo menos em um primeiro momento, até que os filhos possam ir para a escola ou creche. Dependemos de conseguir uma vaga na escolinha pública, não particular, já que nem sempre o salário será compatível e compensador. (Falando da região da Europa)
Lembrando sempre que, caso seu filho fique doente, quem irá faltar ao trabalho para cuidar dele? Na maioria das vezes seremos nós mulheres, claro! Por esses e outros motivos é que os primeiros anos se fazem bem difíceis para um casal de imigrantes. Imigração é uma prova de fogo e compartilhamos cumplicidade ao extremo.
Enfim, aqui fora conhecemos o sentido da palavra autocontrole. E descobrimos que a decepção faz parte das melhores relações. Aprendemos que o silêncio é a nossa melhor arma e só com ele se obtém a tolerância para mantermos e melhorar a relação e o relacionamento.
Primeiro desafio: encontrar onde morar
O primeiro grande desafio é o de encontrar um lugar para morar. Na grande maioria das vezes, a primeira opção é dividir espaço com mais alguém, para poder economizar algum dinheiro, se estabilizar em um emprego e depois alugar o próprio apartamento, de acordo com o orçamento familiar.
Porém, nem todos têm sucesso nessa escolha. Porque a convivência entre um casal já é uma prova de fogo, imagina só quando moramos juntos com outras pessoas e temos que dividir tudo. A convivência afeta o relacionamento tanto entre o casal, como entre as pessoas que estarão dividindo esse espaço com você.
A arte de viver é conviver, e pra quem acaba de chegar do Brasil que está acostumado com grande espaços, dividir 70 ou 90 metros quadrados será uma grande missão, mesmo que em um curto espaço de tempo.
Segundo desafio: encontrar um emprego
Encontrar um emprego não é algo tão simples como parece ser. A princípio, é preciso aceitar qualquer trabalho, esse recomeçar de vida é literalmente zerada, e você esquece suas experiências do Brasil, esquece o que você fazia lá, é momento de se reinventar.
Foca em delinear quais habilidades você tem para oferecer em serviços que não exigem qualificações, nem documentos de regularização de residência, a maioria vem na situação de fazer a regularização aqui, então qualquer subemprego é bem vindo.
Afinal, precisamos começar de algum ponto, para entender como funcionam os trabalhos aqui no exterior. Compreender o que seria o ideal para você, qual o salário que fecha com suas contas e despesas, e só então traçar uma meta e objetivos.
Terceiro desafio: documentos para se regularizar
Esse passo causa muita ansiedade e muitos altos e baixos. Por não conseguir todos os documentos para realizar aplicação da manifestação de interesse, que é a solicitação do visto de residência ao SEF.
É preciso esperar a aprovação, que pode demorar meses, e só depois, partir para o próximo passo, que é do agendamento da entrevista no SEF. Todos os procedimentos tem tempo e fila de espera, que podem demorar de quatro até seis meses ou um ano, tudo depende da sua sorte em conseguir a vaga.
Hoje, o tempo de espera está de um ano à um ano e meio para conseguir regularizar. Enquanto isso, tentamos viver um dia de cada vez.
Porém, a ânsia que dá, por ver a vida estagnada naquele ponto, esperando para dar o próximo passo e se ajeitar da forma como idealizou, abala o emocional e muitos acabam desistindo nesse ponto, se desequilibrando e colocando tudo a perder. Por isso é importante sempre olhar para o céu e lembrar-se quais foram as estrelas e os motivos que te guiaram até ali.
Se me permite deixar um conselho é esse do Antoine de Saint-Exupéry:
“Se ao escalar uma montanha na direção de uma estrela, o viajante se deixa absorver demasiado pelos problemas da escalada, arrisca-se a esquecer qual é a estrela que o guia.” Seja persistente e resiliente em suas escolhas, lembre-se, que esse é só um mau pedaço de um bom caminho.
Quarto e último desafio: colocar o planejamento e o objetivo em curso
Se você chegou até aqui, chegou ao auge. Ao ápice do apogeu, então parabéns! Você conquistou o seu espaço, fixou sua bandeira no topo da montanha. Agora é o momento de se estruturar.
Enviar novos currículos para empregos com melhores salários e oportunidades, procurar um imóvel e o banco para tentar um financiamento da casa própria, após conseguir um bom emprego com contrato de trabalho que te traga estabilidade financeira e o orçamento financeiro esteja organizado.
Apesar de o seu respirar ser mais leve e profundo, ainda não será o momento de relaxar, mas sim de trabalhar duro para conquistar aqueles objetivos que veio buscar, e não esquecer acima de tudo, de curtir o percurso, brindar as conquistas e fazer da felicidade o caminho.
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Casada há 21 anos, 39 anos, Mãe da Zoe (5 anos) e do Hiram (9 anos). Ex bancária, formada em Contabilidade, ex-sócia e proprietária da empresa Brazil Country Boots, fui por 3 anos Travell Planer na agência de viagem hm miles and tour e atualmente estou em transição de carreira em Dublin na Irlanda.
Com experiência e memórias de 5 países onde morei e tenho na bagagem: Itália, Inglaterra, Austrália, Portugal e atualmente Irlanda. Venho compartilhar com vocês experiências de mãe para mãe e a vida de uma expatriada pelo mundo.