A volta é mais difícil do que a ida

Não é fácil retornar. Eu diria que requer mais coragem do que ir pela primeira vez. Passa um filme na minha cabeça enquanto escrevo esse texto. Tudo aconteceu muito rápido. Morei cinco anos na Austrália e agora estou de volta ao Brasil, às voltas com a minha readaptação, que nem sempre é fácil.
Confesso que admiro quem mora fora e não pensa em retornar. Eu queria ter tido essa força e coragem – afinal, cada caminho que a gente escolhe significa deixar o outro para trás.
Aliás, esse sentimento de voltar é muito comum. A Marianne Pires também compartilhou a opinião dela aqui.
Até a vida normal começar
Nos primeiros meses, foi tudo incrível. Reencontrei a família, os amigos, matei a saudade da comida brasileira (sério, nada supera um arroz com feijão e farofa). Enfim, tudo parecia um grande feriado, uma festa prolongada. Mas, depois da euforia, a vida começou ao ritmo “normal”. E então começou o trabalho, rotina, contas, mercado. E, sem dúvida, foi aí que o choque cultural bateu com força.
Uma das coisas que mais me surpreendeu ao voltar foi perceber a diferença no poder de compra e na liberdade que eu tinha na Austrália. Lá, eu podia ir ao restaurante que quisesse, quantas vezes quisesse no mês. Eu viajava, acampava, tirava folga num dia que eu não estava me sentindo bem e, aproveitava a vida com mais intensidade. A qualidade de vida é prioridade para os australianos. Já no Brasil, o trabalho que vem em primeiro lugar. Essa mudança de mentalidade foi um dos primeiros grandes desafios na readaptação.

Rotina e estilo de vida
Minha rotina na Austrália era simples: acordar, ir à academia, trabalhar quatro ou seis horas por dia, focar no meu projeto pessoal. Apesar das mudanças, tento manter esse estilo de vida aqui. Escolhi morar em Itapema, SC, porque não queria perder a conexão com o mar. Manter um pouco do que eu tinha lá me ajudou muito no processo de adaptação. Apesar de me readaptar a um estilo de vida mais contido.
Readaptação também em relação ao o custo da vida brasileiro
As primeiras idas ao supermercado foram um susto. Produtos que antes eram básicos no meu dia a dia, aqui são considerados itens de luxo. As conversas também são diferentes. Por exemplo, no Brasil, viajar é um sonho distante para a maioria. Ouvi várias vezes: “Ah, esse ano minhas férias serão em Paris!” seguido de uma risada, como se fosse uma piada. E isso é uma pena. Conhecer novos lugares, novas culturas, foi uma das melhores coisas que já fiz, e me pego pensando em como seria incrível se mais pessoas tivessem essa oportunidade.
Por falar nisso, uma das viagens que mais me marcaram foi para o Egito. A conexão com a história e as raízes da civilização foi algo transformador. Se quiser saber mais sobre essa experiência, contei tudo neste post, que vocês poderão conferir, clicando aqui.
Mercado de trabalho – outra face da readaptação a enfrentar
Voltar para o mercado de trabalho no Brasil foi mais complicado do que eu imaginei. Por um lado, ter estudado fora trouxe um reconhecimento profissional maior. Mas, por outro, achei que, com inglês fluente e pós-graduação no exterior, as portas se abririam mais rápido. E não foi bem assim. O processo exigiu mais paciência e estratégia do que eu imaginava.
Voltei a trabalhar presencialmente. Depois de anos acostumada a um modelo flexível, onde eu podia escolher quantas horas trabalharia por dia, foi um grande desafio encarar a rotina fixa de segunda a sexta, oito horas por dia. No início, parecia insuportável. Mas escolhi uma boa empresa, e aos poucos fui encontrando um equilíbrio. Ainda assim, percebi como a cultura do trabalho remoto ou híbrido ainda é pouco compreendida na região onde eu moro. Dizer que prezo por qualidade de vida e tempo às vezes parece que soa como ofensa.
Por outro lado, estar perto da família é um presente. Mesmo que minha rotina tenha menos pessoas e programas do que antes, o calor de estar entre eles compensa muita coisa. A sensação de estar dividada entre dois mundos é constante. Eu não sou mais a mesma pessoa que foi embora, mas também não sou 100% a pessoa que voltou.

Expectativa vs. realidade do processo de readaptação
Antes de voltar, eu até imaginava como seria a minha readaptação, mas a realidade me surpreendeu um pouco. O custo de vida é muito mais alto do que eu esperava, e o salário não acompanha essa alta. Isso fez com que algumas coisas que eu fazia com facilidade na Austrália se tornassem mais raras aqui.
Mas, no fim das contas, eu quis voltar! Mesmo com o visto ainda válido, senti que minha missão na Austrália tinha sido cumprida. E, claro, isso não significa que eu não vá explorar outros países no futuro. O mundo é grande demais para ficarmos parados em um só lugar.
Meu conselho para quem está pensando em voltar
Se você está em dúvida, pense bem. Converse com pessoas que já passaram por essa experiência. A saudade da família é grande, e esse foi um dos motivos pelos quais voltei. Mas se você ainda não tem certeza, talvez valha a pena vir ao Brasil por um ou dois meses para testar se essa é realmente a melhor decisão para você. Fui muito sincera ao escrever esse texto. Essa é a minha visão e sentimento hoje, mas talvez num futuro isso mude. É claro que existe o lado bom que a gente bem sabe o que é. O Brasil é único!
Morar fora muda a gente. Voltar também.
O que posso dizer é que readaptação exige força, saúde mental e resiliência. Se você nunca morou fora, talvez seja difícil entender essa sensação de deslocamento dentro do próprio país. Mas se você já passou por isso, sabe bem do que estou falando.
No fim das contas, morar fora muda a gente para sempre. Mas voltar também. E eu sigo aprendendo a equilibrar os dois mundos.
About The Author
Aline Bandeira
A paixão por escrever, fotografar e contar histórias me fizeram escolher a comunicação. Em 2018, me tornei jornalista e, em 2019, embarquei numa aventura para a Austrália, para aprimorar meu inglês e aprofundar meus estudos em comunicação e marketing. Lá, também me tornei pós-graduada em Marketing e Comunicação. Sou apaixonada por criar e contar histórias atraentes.