Já ouviu falar do “Brasileiras Não Se Calam“? Então hoje vamos te contar sobre esse movimento que deu voz às brasileiras que vivem no exterior.
Toda mulher brasileira que vive no exterior já sentiu em algum momento que a sua nacionalidade carregava mais do que símbolos de festa, praia e futebol. A má fama que persegue as brasileiras é muitas vezes um empecilho na vida profissional, social e acadêmica de imigrantes e expatriadas mundo afora.
Foi em meio à discriminação pela nacionalidade brasileira em Portugal que, em 2020, surgiu nas redes sociais o movimento Brasileiras Não Se Calam, expondo relatos de centenas de mulheres vítimas do preconceito.
O que é o Brasileiras Não Se Calam?
Criado em 2020, o projeto Brasileiras Não Se Calam trouxe à discussão um grande tabu: a discriminação pela nacionalidade. Pois o grupo de voluntárias se dispôs a expor nas redes sociais os relatos anônimos de mulheres brasileiras no exterior que cansaram de se sentirem injustiçadas.
A conta de Instagram do movimento cresceu rapidamente, atingindo mais de 30 mil seguidores em 3 meses, e além disso as denúncias viraram manchetes dos maiores jornais de Portugal e do Brasil.
Embora a maior parte das denúncias de discriminação e xenofobia sejam em Portugal, a página também recebe muitos relatos de brasileiras que vivem em outros países, como Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, entre outros.
Hoje o Brasileiras Não Se Calam vai além de expor denúncias e dar voz às brasileiras imigrantes. Graças à rede de voluntárias, o projeto também oferece de forma gratuita:
- Apoio psicológico;
- Aulas de inglês;
- Apoio jurídico com advogadas;
- Aulas de yoga;
- Grupo de apoio semanal.
Para a segurança das criadoras do movimento as suas identidades são mantidas anônimas, visto que o Brasileiras Não Se Calam já recebeu ameaças.
Quem é a mulher brasileira para o exterior
A fama não pode ser assim tão ruim, certo? Errado. Pois o tema da imagem da mulher brasileira entre os portugueses já foi alvo de estudo de várias pesquisas, a mais relevante sendo da doutora Mariana Selister Gomes.
Em sua tese Mulheres Brasileiras em Portugal e imaginários sociais, a professora universitária da Universidade de Santa Maria explica que o centro do estigma das brasileiras em Portugal se deve a:
- Imaginários coloniais que continuam reproduzidos na mídia e entre as pessoas (da inferioridade do Brasil, dos afro-descendentes e nativos americanos);
- História do século XX e da não crítica dos ideais coloniais;
- Turismo brasileiro que várias vezes promoveu o país como destino sexual.
Além disso, especialmente em Portugal e na Europa, o caso das Mães de Bragança colaborou para a disseminação da associação das mulheres brasileiras com a prostituição.
Face a essa imagem distorcida da realidade, torna-se mais difícil para mulheres brasileiras no exterior se adaptarem e se integrarem na sociedade.
Como combater o nosso estereótipo?
Não é fácil criar uma vida aqui fora e fugir do estereótipo. Nós carregamos esse fardo no nosso sotaque, na nossa pele. Mas e daí? Nós temos orgulho de sermos brasileiras!
Pois nós conhecemos a beleza e variedade da nossa cultura e do nosso povo. Então não existe um país melhor que o outro, devemos ser respeitadas como qualquer ser humano.
Denuncie casos de discriminação
Quem discrimina a brasileira e a trata pior que os demais é um agressor. Em Portugal, por exemplo, a xenofobia é punível por lei, podendo gerar multa de até 8750 euros. Portanto se você presenciar um caso de discriminação pela nacionalidade, procure as autoridades e faça uma denúncia. Em Portugal essa denúncia é gratuita e feita online no site da Comissão pela Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR).
Converse sobre o assunto
É chato falar sobre assuntos tristes, pior ainda é fingir que eles não existem. Mas se ignorarmos o problema, brasileiras ao redor do mundo vão continuar sendo prejudicadas pelo estereótipo.
Então ensinem os seus filhos a terem orgulho da nacionalidade brasileira e do português do Brasil. Compartilhem as suas vitórias e desafios como expatriadas com outras mulheres. Defendam as suas irmãs e ajude empreendedoras brasileiras no exterior.
Cada mulher brasileira é única e capaz de qualquer coisa. Apoie a sua comunidade. Não abaixe a cabeça para o preconceito. Pois estamos juntas e não nos calaremos!
Leiam aqui outros textos da autora
Letícia Melo é uma redatora e gestora de conteúdo que em 2017 trocou Brasília por Portugal. Formada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve e pós-graduanda em Saúde Mental pela PUC Minas, ela escreve sobre viagem e imigração e seus desafios. Leia seus trabalhos publicados em sites como o Diário de uma Expatriada, Euro Dicas, Viv Europe e muito mais.
Uma resposta