Em 2004, meu marido veio à China para um projeto de 4 meses. Praticamente nunca mais voltou a trabalhar no Brasil. E assim começou nossa história com o “País do Meio”. Quase 16 anos se passaram, e tivemos o privilégio de presenciar um país crescer na velocidade da luz. As coisas mudaram da noite para o dia.
A família mudou, de fato, em 2009 e mesmo sem termos muita (quase nenhuma) consciência disso naquele tempo, hoje, olhando para trás, temos certeza que fazemos parte dessa história. O que vimos acontecer por aqui, não dá para descrever numa simples folha de papel.
Aprendemos a lidar com desafios diários: a língua, a cultura, as regras que não faziam sentido, a maneira de resolver problemas. Além das dificuldades básicas que todas as pessoas que resolvem viver pelo mundo enfrentam: adaptação, saudade, oscilações de humor e, sim isso existe, a tristeza de colocar em dúvida as nossas escolhas.
Muito se fala nas maravilhas de viver fora do nosso pais, nas vantagens, no aprendizado, que de fato existem e mudam nossa maneira de encarar o mundo, mas as dores dessa opção são grandes e, ao mesmo tempo, são as verdadeiras responsáveis pelo nosso crescimento, nossa vontade de superar os desafios.
Um dia de cada vez
E assim, fomos descobrindo esse país, cheio de mistérios, culturalmente intrigante, que nos faz todo o dia vencer um desafio. Zona de conforto aqui é artigo de luxo.
E minha paixão foi tanta por esse lugar que resolvi estudar, entender a cultura para viver melhor aqui, já que o idioma era uma barreira intransponível. Cada descoberta me abria um novo leque de curiosidades, e assim fui aprendendo um pouco todos os dias.
Tem fatos aqui na China que nos são bem estranhos e difíceis de decifrar, entender, aceitar. Não podemos negar, mas muita coisa, a partir do conhecimento dessa cultura milenar, fica mais fácil de entender (nem sempre concordar).
Ao mesmo tempo que isso acontecia, me incomodava a maneira como o Ocidente olhava a China, com muito preconceito vindo única e exclusivamente da falta de informação. Foi aí que decidi compartilhar tudo que eu estava descobrindo num blog e mostrar que aqui tem sim, muita coisa linda para ver e aprender. Me reinventei.
As nossas escolhas
Com todos os altos e baixos que a vida na China nos proporciona, sempre procuro lembrar que a escolha foi nossa em vir morar aqui. E se aceitamos o convite, temos que ao menos ser respeitosos com nosso anfitrião.
Escrevo isso, porque muitas vezes nos vemos envoltos numa “vibe” de dúvidas, que citei no início do texto, e elas não podem nos contaminar ao ponto de fazer nossa vida virar um martírio, uma situação pesada.
Mesmo amando viver aqui, sendo apaixonada pela cultura e pelo país, claro que tem os dias que chamo de “bad China day” (quem nunca? Só trocar o nome para o país que estamos, incluindo o Brasil).
E nesses dias que me olho no espelho e agradeço pela chance de poder estar aqui e aprender, inclusive, a me conhecer e me curar das armadilhas que meu ‘eu secreto’ teima em colocar no caminho. Afinal isso também é aprendizado.
No final, acabei filosofando
Bom, me perdoem os leitores, minha intenção era somente escrever sobre a China, mas quando vi, esse texto já estava na tela, e resolvi deixar assim.
Que ele sirva de inspiração para outras pessoas que num determinado momento estiverem passando por alguma discussão interna e possam ver que não estão sozinhas, que em qualquer lugar do mundo existem mulheres nos dando as mãos e nos ajudando a ser mais fortes, mais seguras das nossas escolhas, mais determinadas em buscar nosso caminho.
Se hoje não deu certo, tudo bem. Tentamos amanhã novamente.
O que não podemos é desistir de nos encontrar na vida que escolhemos viver.
Até a próxima!
Depois de 4 anos na “ponte-área” São Paulo – China (Chang Chun, Jilin Province), mudamos definitivamente para Shanghai em Janeiro de 2009. Ao iniciar os relatos sobre a China no blog que criei em 2010, descobri que sou apaixonada por escrever e pesquisar sobre a cultura Chinesa. O que era um diário de expatriada, tornou-se uma fonte de informação e busca constante pelas respostas às tantas questões que a China propõe ao estrangeiro que vive dentro das suas fronteiras.
Além de relatar minha experiência de mais de 15 anos no site chinanaminhavida.com, publiquei o livro “China na minha vida: O que aprendi com o dragão”. Participei como coautora da “Coletânea Reedificações – histórias de mulheres que se reinventaram pelo mundo”. Escrevo como colaboradora em outros blogs/publicações, atuo como palestrante sobre a Cultura Chinesa e presto assessoria para pessoas e empresas que vêm para a China para turismo, residência ou negócios.
Brasileira de Santos-SP, com formação em Educação e “MBA-China Business and Culture”, na Jiaotong University em Shanghai.
Apesar de ter atuado como professora no início da carreira, logo passei a ocupar cargos de liderança e a desenvolver minha grande paixão que é lidar com pessoas.