O nascimento do primeiro filho é um evento tão mágico quanto transformador para as famílias. Ao mesmo tempo em que inaugura a “família com crianças pequenas” traz uma série de mudanças para as famílias nuclear e ampliada.
Em 2023 escrevi um texto falando sobre as fases do ciclo de vida da família e suas características. Hoje vou me concentrar no nascimento do primeiro filho e as mudanças do casal, que passa se tornar pais.
Marido e mulher são promovidos a pai e mãe, seus pais a avós e seus irmãos a tios. Todos precisam aprender sobre seus novos papéis e funções nessa nova configuração familiar.
A família, inicialmente formada apenas pelo casal, precisa abrir espaço para a inclusão de um terceiro – o filho. E não há como negar: a chegada desse bebezinho causa o maior rebuliço na vida do casal e transforma a sua vida. Vale dizer que algumas transformações já são sentidas logo que se confirma o estado de gravidez.

Gravidez confirmada
Independentemente de ter sido planejada ou não, depois que o casal descobre e confirma a gravidez, ele passa por uma série de desafios e ajustes internos e externos. Sera que é preciso mudar de apartamento ou onde estamos tem lugar para mais um?
Para a mulher, a gravidez é um período que traz muitas transformações internas, que refletem na sua auto-imagem, nos seus valores, nos comportamentos e relacionamentos, principalmente com o seu parceiro. Para algumas mulheres, gerar um filho é uma situação privilegiada. Contudo, para outras, pode gerar sentimentos de insatisfação e preocupação.
Já os homens, vivenciam a gravidez das suas esposas, principalmente, a partir do que elas demonstram. Existe a possibilidade de que o futuro pai desenvolva novos hobbies e novos interesses para ficar mais tempo fora de casa e não ter que lidar com todas as incertezas desse período.
Além disso, a sexualidade do casal pode ser afetada em função de diversos fatores : seja pelo medo de prejudicar o bebê, da eliminação do colostro, dos movimentos do bebê, do excesso de peso ou mesmo pelo mal-estar físico da gestante.
Um novo planejamento após o nascimento do primeiro filho
Um pouco depois da confirmação da gravidez, os futuros pais começam a tentar planejar o funcionamento da nova família. Além da mudança nos papéis e acúmulo de funções, existe a preocupação com o aumento das despesas, que já começam com o enxoval, preparação do quarto e etc.
Um dilema importante para a mulher é decidir se continua trabalhando fora ou não. Apesar de todo o avanço da medicina, os melhores anos para a maternidade ainda são os melhores anos para se dedicar a uma carreira profissional.
Para as famílias mundo afora, surgem muitas outras questões, tais como: em qual país o bebê vai nascer? Será que vou conseguir dar conta de fazer um pré-natal, parir um bebê e passar pelo puerpério em outro país, em outra língua, em outra cultura e sem a familia por perto?
Nasceu e agora? – o nascimento do primeiro filho traz inseguranças
Primeiramente, homem e mulher precisam lidar com o fato de que ter um bebê em casa é muito diferente do que eles imaginavam. O bebezinho pode chorar muito, dormir pouco, querer mamar muito ou não querer mamar. A mãe pode se desesperar, o pai pode não ser tão participativo quanto a sua parceira imaginava. É a hora de lidar com dados da realidade!

Na fase inicial da relação mãe-bebê, principalmente no 1º mês, a mulher parece se dedicar exclusivamente ao filho. O que é muito natural, pois há muitas novidades e afazeres. São tantas as tarefas com o bebê que muitas vezes as mães ficam tão cansadas e sobrecarregadas que se esquecem de comer, de descansar, de tomar banho e de trocar de roupa.
Tem um texto lindo que já circulou muito na internet sobre o papel da mãe da mãe. Essa é uma tarefa da avó materna, mas também pode ser uma tarefa do pai! E hoje temos visto casais que conseguem se organizar e dividir muito bem os cuidados nesta fase.
O bebezinho não vem com manual de instruções
Dar conta dos cuidados após o nascimento do primeiro filho é um desafio para o casal parental. Agora marido e mulher são também pai e mãe, responsáveis por outro ser e a falta de experiência em cuidar de um bebezinho pode trazer grande insegurança ao casal, principalmente à mulher.
Além do bebê não vir com um manual de instruções, a maternidade ainda é muito romantizada. É no dia a dia que a gente descobre que amamentar sem sempre é fácil e que pode ser muito dolorido. Além disso, existe a tal da “baby blues” (aquela tristeza que pode acometer as mães no pós-parto), a depressão pós-parto, o cansaço extremo e que aqueles dias que deveriam ser os mais lindos e felizes da sua vida, podem ser muito difíceis.
Porque ninguém fala sobre essas coisas?
Os desafios do pós-parto em um novo país
Ser mãe de primeira (2ª ou 3ª) viagem em outro país pode tornar a tarefa bastante desafiadora. Além das possíveis dificuldades com a língua, os usos e costumes podem ser diferentes de uma cultura para outra. Ademais, não ter uma rede de apoio por perto pode ser extremamente angustiante.
Portanto, uma alternativa para driblar (ou minimizar) essa angustia ou insegurança é participar das atividades promovidas pelas maternidades ou consultórios de famílias no novo país. Além disso, fazer parte de rodas de conversas com pessoas que passam por situações parecidas e estar aberta para conversar são outras alternativas a esses desafios.

A Comunidade no Colo é uma rede de apoio para mulheres brasileiras que estão espalhadas pelo mundo e oferece, de forma gratuita, uma roda de conversa mensal, on line, para gestantes e mães de crianças de 0 a 2 anos.
Particularmente acredito muito no poder dos grupos presenciais e online . O blog diário de uma expatriada é muito mais do que um site, pode ser uma importante rede de apoio e vou usar esse canal para “conversar” com as mães mundo afora.
About The Author
Carla Bottino
Olá! Sou Carla Bottino, psicóloga, terapeuta de família e muito curiosa. Sempre gostei de ler sobre a cultura e em especial, sobre os hábitos, costumes e desafios de quem vive em outros países. Sou carioca, de descendência italiana e em 2017 embarquei para uma aventura ( que deveria ser de 8 meses) do outro lado do Oceano Atlântico, em Pádua na Italia. Sou mãe de filhos grandes – Mariana de 19 e Joao de 14 anos e nas minhas redes sociais conto sobre a vida nova no velho continente e trago algumas das minhas reflexões sobre os processos de mudança e adaptação.