Feriado escolar de uma semana em Dubai e nós, os expatriados, aproveitamos para viajar para os países próximos. Morar no Golfo Pérsico tem uma grande vantagem, pois estamos geograficamente bem localizados no meio do mundo. Um privilégio que aguça ainda mais o nosso lado explorador.
E dessa vez, fui com a minha família passar férias no Sri Lanka. Viajamos por quatro horas de avião. Foi a nossa segunda visita nesse país, mas a primeira vez em um surf camp. Logo no Duty free do aeroporto de Colombo, vi com estranhamento as geladeiras, fogões, máquinas de lavar e televisões à venda, todos próximos dos perfumes e bebidas.
No Duty Free, geladeiras e fogões
Tinha esquecido desse comércio atípico no aeroporto no Sri Lanka, coisa que jamais notei nos vários outros aeroportos por onde passei. Fiquei sabendo que isso acontece devido às exorbitantes taxas de imposto que o governo cobra na importação desses aparelhos, enquanto que no aeroporto eles não são taxados (duty free). Consequentemente, vemos pessoas saindo e empurrando não só as malas, mas caixas de geladeiras, micro-ondas e tudo mais nos seus carrinhos.
Era noite. Deixamos o terminal aeroportuário, pegamos uma van a caminho de Dikwella, na parte sul da ilha e de belas praias. Para nossa alegria uma chuva forte começou — quem mora em Dubai festeja a chuva — e uma saudade bateu. Comecei a lembrar que da última vez em que estive no país, as minhas filhas tinham oito e três anos.
Me veio à mente, o passeio de trem pelas montanhas até as plantações de chá em Nuwara Eliya; o lenço colorido que eu usava no pescoço no dia da foto que tiramos no safári em Udawalawe. Relembrei das nossas caras de medo, quando sentados na corcunda de um elefante em Kandy. Fomos descendo uma ladeira até chegar no riacho onde demos um banho no bicho, de bucha e tudo mais.
Templo do Dente Sagrado
Até hoje, tenho na memória a cara do nosso guia-motorista que mal falava inglês. Anura nos levou por todos os lugares. Cuidou da gente com simpatia e paciência. Foram nove dias naquele abril de 2014 onde fizemos a rota circular feita por muitos turistas.
A cada dois dias dormíamos em lugares diferentes, nos charmosos hotéis espalhados pelo Sri Lanka. Um deles foi o Jetwing St. Andrews, próximo à uma plantação de chá. Curtimos o friozinho de 14 graus e a comida deliciosa.
Um outro passeio marcante foi a visita a um templo budista situado em Kandy. O Templo do Dente Sagrado, se chama assim pelo fato, de ali ser guardado um dente do Buda (o original Sidarta Gautama). Após sua morte seus seguidores disputaram seus restos mortais, sendo que a arcada dentária fora a mais disputada pela seu potencial de duração.
Foi o dia mais sagrado, o único do ano em que o templo exibia o tal dente para visitação pública. A cidade inteira em procissão caminhava rumo ao templo. Nós nos juntamos à multidão. Eu, segurava a minha mais nova no colo, o meu marido a mão da mais velha. Éramos levados pela massa de devotos. Caminhávamos ao lado das pessoas vestidas de branco e sentindo o cheiro dos incensos, lótus, sândalo e lavanda que se fundiam no ar.
Voltando à nossa viagem em destino ao surf camp, via pela janela aquelas letras ininteligíveis nos letreiros de propagandas. Um idioma oriundo do sânscrito antigo, que me parecia mais uma obra de arte do que uma simples grafia. Na minha cabeça eram vários caracóis uns ao lado dos outros. Chegamos no Surf Camp Jungalows. Sete chalés super aconchegantes rodeados por coqueiros. Fomos muito bem recebidos pelos funcionários de sorrisos genuínos.
Surf Camp nas férias no Sri Lanka
A principio não iria fazer aula de surf, mas no terceiro dia me aventurei pela primeira vez. Então fomos os quatro para a praia de Corners em Kudwella. Pequena, de águas mornas e com ondas calmas — ideal para principiantes. Sabia que não seria fácil, e não foi. Me desequilibrava e só caía. Comemorei os únicos segundos que consegui ficar de pé mesmo desajeitada e na última tentativa antes de irmos embora.
Nos outros dias, enquanto meu marido e filha mais velha continuavam na prática do surf, eu e a caçula nos ocupamos com aulas de yoga ao ar livre e idas a piscina.
Acordávamos de manhã diariamente com o barulho dos esquilos do lado de fora e por uma música vindo do tuk-tuk, anunciando a chegada do entregador de pães. A melodia era da música “Pequeno Mundo”, aquela tocada na Disney.
Saiba mais sobre o Sri Lanka nesse site: Leroyviagens/blog/sri-lanka
Dia de Lua Cheia
No Sri Lanka, há uma tradição que eu desconhecia. Cada primeiro dia de lua cheia é feriado no país, dia de Poya. Os praticantes do budismo enchem os templos para celebrarem essa data. O Budismo foi introduzido no Sri Lanka cerca de 2.500 anos atrás. Acredita-se que o dia em que a lua cheia brilha, é um dia sagrado para os cingaleses porque o Buda veio da Índia para o Sri Lanka na primeira lua cheia.
Nesse dia à noite, fomos para um luau na praia. Para nossa surpresa assistimos os corajosos surfistas entrarem no mar enquanto observáramos a Lua sagrada.
Vou ficando por aqui, e deixo pra você um trecho da letra da música “Pequeno Mundo” — título original em inglês: It’s a small world.
Cliquem aqui para mais textos da autora
Passou pelo Canadá e Bahrein antes de firmar residência em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Escreve também literatura infantil, haicais e contos. É autora do “O Jardim da Lua” (finalista do Prêmio Jabuti 2022 na categoria ilustração) da editora Tigrito.
“Sarah & The Pink Dolphin” é seu primeiro livro bilíngue (inglês e árabe) publicado pela Nour Publishing.
Participou do Festival de Literatura da Emirates Airline em 2019 com o livro: “Pepa e Keca em Quem viu rimas por aí?”.
Atualmente cursa a pós-graduação “O livro para a Infância: processos de criação, circulação, mediação contemporâneos” na A Casa Tombada. É parceira do clube de assinatura de livros infantis, A Taba, nos Emirados.
Respostas de 3
Adorei o artigo querida !
Beijos
Fico contente que gostou. Obrigada 🙂
Muito bacana!! Quero ir! Adorei as dicas