Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Desafios de uma casa bicultural

Última atualização do post:

Desafio bi-cultural
Cultura brasileira e italiana na educação de Francesca - Imagem: Arquivo Pessoal

Quando tomei a decisão de me casar com um homem Italiano, eu já sabia que, se um dia decidíssemos ter filhos, nossa casa seria bicultural. Essa era uma de nossas conversas frequentes. Pensávamos em valorizar as duas culturas igualmente, em todos os seus aspectos. Ou seja, entendemos que uma criança, filha de pais de duas culturas diferentes, tem o direito de aprender a língua de ambos.

Em outras palavras, aprender a ler e escrever nos dois idiomas, além de conhecer os costumes, as usanças, a história. Dessa forma, acreditávamos que seria possível construir uma relação de amor e proximidade com os dois países. Sempre imaginamos como deveria ser maravilhoso ter duas culturas.

Quando engravidei, decidimos que, quando a Francesca nascesse, cada um de nós falaria com ela no seu próprio idioma. Ensinaríamos nossa filha a comer macarrão e pizza, como também arroz e feijão. Além disso, seguiríamos apresentando para ela tanto as maravilhas do Brasil quanto as da Itália.

Expectativas versus realidade

Viver duas culturas não é para qualquer pessoa, porque é necessário ter uma mentalidade mais aberta. Em outras palavras, é preciso compreender e aceitar as diferenças, principalmente quando esse casal “misto” decide ter filhos. Sendo assim, temos que afastar a crença de que a nossa verdade é única.

Por este motivo, esse processo nem sempre é muito fácil. O casal precisa estar alinhado quanto à educação que pretende dar aos filhos. Assim, tem que literalmente “fechar os olhos” para a opinião e o julgamento dos outros.

Os meus maiores desafios NÃO foram com meu marido nem com meu sogro, que era um amante do Brasil. Por outro lado, tive que explicar muitas vezes meus comportamentos e minhas decisões à minha sogra. Tive também que internalizar o funcionamento da medicina e as orientações do pediatra italianos. E, além disso, quando minha filha começou a frequentar a escola, precisei ainda me adequar a diversas situações com as mães das colegas da escola e as professoras.

Percebi várias incompreensões culturais. Por exemplo, ninguém entendia o porquê de eu dar banho em minha filha todos os dias (demorei para compreender o contrário). Também achavam estranho que eu deixasse a Francesca andar descalça em casa. Além disso, ficavam estarrecidos quando eu dizia que comia pão com manteiga ou misto quente no café da manhã, e não um belo croissant recheado com Nutella.

Confesso que o julgamento e os questionamentos sobre a minha forma de educar vindo dos italianos, inicialmente me estressavam e entristeciam. Por muitas vezes me senti errando ao tomar uma decisão que era contrária à minha cultura.

Vou dar um exemplo. Quando minha filha entrou no processo do desmame, fui orientada pelo pediatra (aqui na Itália) a oferecer alimentos que não me pareciam adequados. Uma das sugestões alimentares que recebi foi a de dar para ela carne liofilizada (em pó) dissolvida em caldo de carne industrializado (tipo Maggi) com macarrãozinho e muito queijo parmesão.

Aceitar a realidade é o que realmente faz a diferença!

Na minha cabeça esse tipo de alimentação não era saudável. Então o meu discurso interno era: “gente, mas por que não usar um caldo de carne feito naturalmente com músculo e vegetais frescos? Que comida estranha é essa?”. Uma outra situação que me deixava muito confusa era o calendário de vacinas e o movimento antivacinas muito forte que existia aqui.

O que me ajudou muito a lidar com todas estas diferenças culturais, foi buscar o autoconhecimento e aprender mais sobre a cultura italiana. A primeira ficha que me caiu foi: “SOU EU QUEM ESTÁ FORA DO BRASIL ENTÃO PRECISO ME ADAPTAR”.

Não adiantava esperar encontrar brigadeiro e pão de queijo nas festinhas infantis. Quando baixei minha expectativas e aceitei que minha filha estava crescendo em um país que não era o meu, a realidade ficou mais leve. A partir daí, eu decidi adotar hábitos culturais que faziam sentido para mim e descartar o que não fazia sentido.

O Brasil que mora em mim!

casa bicultural
Francesca (4 anos) fazendo pão de queijo – Imagem: Arquivo Pessoal

O Brasil que mora em mim também veio morar dentro da nossa casa. À medida em que minha filha cresce, eu vou ensinando coisas que considero importantes sobre o meu país. Por exemplo, a história do Brasil e o hino nacional. O que eu quero, é que ela se sinta tão brasileira quanto italiana.

Aproveito as datas festivas, para contar das músicas, das histórias, do folclore, das comidas e do próprio idioma! A Fran está crescendo e compreendendo que temos uma casa com duas culturas, e que ambas têm seu valor e importância.

Infelizmente muitas famílias constituídas, principalmente por mulheres brasileiras e maridos estrangeiros, não ensinam português para os filhos e, ainda por cima, e nada sobre a cultura brasileira. Acredito que o principal motivo para que isso aconteça, seja o medo de confundir a cabeça da criança com o que se refere ao idioma.

O que muitas pessoas desconhecem é que as crianças são verdadeiras esponjas, e que podem aprender muito rapidamente mais de um idioma ao mesmo tempo.

Talvez seja porque é desafiador dedicar um tempo para ensinar tudo isso para a criança, tendo que superar o julgamento dos outros quanto à decisão de oferecer as duas culturas. Mas é inegável que criar um filho madre língua de dois idiomas, pode oferecer a ele mais oportunidades no futuro. Além disso, toda criança que é filha de pais de nacionalidades diferentes, tem o direito de conhecer e se apropriar de suas raízes. Direito a saber de onde veio a mãe, e de onde veio o pai. E assim receber dupla cidadania, aprender os dois idiomas, conhecer a história e a cultura dos dois países.

E é nossa a responsabilidade preservar este direito!

Gostou deste artigo?

Compartilhe no Facebook
Compartilhe no Twitter
Compartilhe por E-mail
Compartilhe no Pinterest
Compartilhe no Linkedin
Picture of Alessandra de Paula Reino

Alessandra de Paula Reino

Olá, sou Alessandra Reino, brasileira, de São Paulo. Vivo na Itália há 16 anos, casada com o Lorenzo e mãe da Francesca de 11 anos. Dentista de formação e aos 47 anos comecei uma transição de carreira. Hoje atuo como Educadora Parental e Mentora de Mães brasileiras, no Brasil e fora dele, fortalecendo o desenvolvimento físico, mental e emocional de crianças, adolescentes e famílias, através da parceria com as mães e pais. Sonho com um mundo mais justo, igual e sem violência e acredito que a mudança começa na forma como educamos nossas crianças. Sou muito curiosa, amo ajudar, ler, escrever, conversar, trocar experiências, conhecer novas culturas, dançar, viajar e ser feliz.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

10 − 9 =

LEIA TAMBÉM

plugins premium WordPress

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Clique aqui para saber mais.