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Desafios no ciclo de desenvolvimento das famílias

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desafios no ciclo de desenvolvimento
Os vínculos entre os membros da família migrante ficam mais fortes - Imagem: Pixabay

No meu artigo anterior apresentei o conceito do ciclo de vida familiar com as fases descritas por Carter e McGoldricK, assim como algumas premissas para entender o funcionamento deste processo. Hoje, trago alguns desafios no ciclo de desenvolvimento das famílias naquelas fases e os impacto com a mudança de país. Contudo, a migração não é um evento natural no ciclo de desenvolvimento das famílias, mas tem se tornado bastante comum e, como já escrevi, impacta na vida de quem já partiu e também de quem ficou.

Apesar da família incluir pelo menos três gerações, – pais, filhos e avós – a convivência mais próxima fisicamente vai ser de apenas duas gerações – pais e filhos. Avós, tios e primos podem ser figuras emocionalmente muito próximas, mas estarão distantes. Os vínculos entre os membros da família migrante ficam muito mais fortes pois, até que todos se adaptem à nova cidade/país serão só eles. Inevitavelmente, as influências de uma outra cultura, e os rituais que serão passados para as gerações seguintes sofrerão muitas transformações.

Desafios e impactos de cada fase do ciclo

O desenvolvimento das famílias acontece de forma bem simplificada. É como num videogame – ele acontece em seis fases e é preciso alcançar os objetivos e superar os desafios para passar para a fase seguinte.

1. O jovem adulto

Essa é a primeira etapa e a tarefa principal desta fase é o processo de separação e diferenciação da família de origem. É esperado que o jovem adulto estabeleça relacionamentos, entre no mundo do trabalho e conquiste sua independência financeira. Em algumas culturas essa fase é bem marcada. Nos Estados Unidos, os jovens adultos costumam frequentar a faculdade em outra cidade, muitos trabalham e são bem independentes das suas famílias. No Brasil, no entanto, isso não é tão comum e os jovens saem de casa mais tarde.

desafios no ciclo de desenvolvimento
Um jovem casal está no inicio do ciclo de desenvolvimento da vida – Foto: Pixabay

2. Casal Recém-casado

A fase do casal recém-casado é uma fase de negociações. O novo casal vai criar as regras de funcionamento dessa nova família, a partir das suas experiências e expectativas. Certamente vai ser necessário negociar a entrada do cônjuge na sua família de origem e no seu círculo de amigos. Geralmente ambos trabalham e buscam consolidar uma carreira. E nos casais interculturais as negociações são ainda mais “intensas”, pois cada um traz os valores da sua família e a cultura do seu país. Assim sendo, iniciar uma vida de casal em um país novo vai ser diferente se o país for novidade para os dois ou quando um está em casa e o outro precisa construir novos vínculos.

3. O nascimento inaugura a etapa seguinte

Depois vem a fase da família com filhos pequenos, que é inaugurada com o nascimento (ou adoção) do primeiro filho. O principal desafio é formar um casal parental sem esquecer do casal conjugal, ou seja, manter a intimidade do casal e ao mesmo tempo abrir espaço para as crianças. O casal vai precisar se organizar com a educação das crianças, com as tarefas financeiras e domésticas. Se no passado o pai era o provedor e a mãe a responsável pelos cuidados com a casa e a educação dos filhos, hoje existe uma tendência a uma melhor divisão das tarefas, principalmente quando a família mora fora do Brasil e não conta com as “ajudantes do lar”.

Necessidades desta etapa

A falta da rede de apoio é o principal desafio no ciclo de desenvolvimento das famílias! Rede de apoio é apoio em todos os sentidos. É ter empregados domésticos, é ter a família por perto para dar uma palavra de apoio, um abraço confortante, para dividir alegrias, ansiedades, ou mesmo ter uma creche para a mãe poder trabalhar (em muitos lugares isso não existe ou o valor é proibitivo).

O casal com crianças pequenas vai precisar construir a sua rede de apoio. Pode ser um grupo de pessoas da mesma nacionalidade, ou o grupo que faz o curso de língua, ou mães de amiguinhos da escola. Às vezes, o grupo é apenas virtual, em redes sociais, e aos poucos pode vir a passar para o real. Assim, independentemente de como seja, ter uma rede de apoio é fundamental.

Outros desafios

Ao mesmo tempo em que os membros do casal se tornam pais, seus pais se tornam avós e certamente vão querer participar mais da vida dessa nova família para acompanhar o desenvolvimento dos netinhos. Quando as famílias moram em outras cidades ou em outros países é preciso pensar sobre isso.

Geralmente é nesta fase em que muitas mulheres colocam na balança a carreira e a maternidade e, independente da situação socioeconômica da família, a decisão por voltar ou não ao trabalho depois da licença, é sempre muito difícil.

A fase família com crianças pequenas já foi carinhosamente apelidada de “panela de pressão”, pois pode explodir a qualquer momento. Além das questões já mencionadas, essas famílias precisam decidir qual língua falar em casa, sobretudo quando apenas um dos pais fala o português; quais tradições passar para os filhos; como se organizar para visitar a família que ficou no Brasil.

4. Famílias com filhos adolescentes

Na fase da família com filhos adolescentes, os pais precisam dar cada vez mais autonomia para os filhos.  A família deve se adaptar a um novo sistema de valores com a entrada dos amigos e de novas ideias que os adolescentes trazem para casa. Em outro artigo, contei a minha experiência de ser mãe de adolescente em outro país. Ter uma rede de apoio – com mães de adolescentes- pode ser de grande ajuda pois, além da diferença de anos que separa a nossa adolescência daquela dos nossos filhos, estamos em outro país e em outro século!

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Na fase da “família mais velha” os pais se tornam avós – Imagem: Pixabay

5. Família mais velha

O ninho vazio é o momento em que os pais lançam seus filhos no mundo e seguem em frente. Além de ser uma fase nova, ela é longa e exige uma completa renegociação do casamento, agora que as funções parentais não são mais necessárias.  Para as mulheres, pode ser o momento de voltar (ou começar) a trabalhar e de lidar com a menopausa e todas as suas questões.

A etapa família mais velha traz mudanças dolorosas, como a perda de autonomia e a possível perda de um dos cônjuges, depois de tantos anos. Contudo, a condição de avós pode proporcionar um renovado interesse pela vida e oportunidades de relacionamentos especiais sem as responsabilidades da paternidade.  Sei que essa frase faz reverberar um monte de culpas, e sempre digo para mim mesma: a cada escolha, muitas renúncias!

Para as famílias que moram longe dos seus pais e avós, essa fase traz uma série de dilemas pois a responsabilidade pelos cuidados com a geração mais velha fica com os filhos que estão por perto, que podem se sentir sobrecarregados e às vezes abandonados pelo irmão que está longe.

Desafio não é sinônimo de problema

Claro que o início de uma nova fase pode ser difícil – como no videogame – mas a gente aprende é na prática. Resumindo, erramos tentando acertar e acertamos meio sem querer (na sorte!). Além disso, em muitos momentos, pode dar um certo desespero, por não sabermos o que fazer, e isso acontece em todas as famílias.

Em qual fase do ciclo da vida a sua família está? Morando no Brasil ou mundo afora? E quais são os principais desafios que vocês enfrentam?

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Carla Bottino

Olá! Sou Carla Bottino, psicóloga, terapeuta de família e muito curiosa. Sempre gostei de ler sobre a cultura e em especial, sobre os hábitos, costumes e desafios de quem vive em outros países. Sou carioca, de descendência italiana e em 2017 embarquei para uma aventura ( que deveria ser de 8 meses) do outro lado do Oceano Atlântico, em Pádua na Italia. Sou mãe de filhos grandes – Mariana de 19 e Joao de 14 anos e nas minhas redes sociais conto sobre a vida nova no velho continente e trago algumas das minhas reflexões sobre os processos de mudança e adaptação.

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