Já parou para pensar quantas pessoas do seu passado conhecem uma versão sua que nem existe mais?
Antes de mais nada, quando se muda do Brasil para Portugal, por exemplo, não se muda só de país, muda-se do hemisfério sul para o norte, de clima tropical para temperado e para hábitos e costumes diferentes.
Essa oportunidade de experimentarmos coisas novas, vai aos pouquinhos nos transformando, moldando, lapidando um novo eu.
Quando mudamos de país mudamos também à cultura, precisamos abraçar a cultura do país para uma boa adaptação. Portugal apesar da semelhança no idioma, não se engane, apresenta uma grande distância no entendimento e uma grande diferença cultural.
Palavras que mudam o significado
Uma diferença cultural pelo mundo é a forma de usar as palavras. Pois muitas palavras, mesmo quando se usa um tradutor, a tradução nem sempre será a mesma que a nossa. A forma de comunicação também muda. Como por exemplo, listo abaixo algumas palavras no português de Portugal:
- Durex = Preservativo
- Puto = criança
- Sítio = Lugar/ Bairro
- Deitar = jogar fora
- Propinas = impostos
- Apelido = sobrenome
- Assento = certidão de nascimento, casamento e óbito
- Balneário = vestiário, Banheiro = Salva vidas.
- Ginásio = academia
- Estou sim = Alô
- Chupa = pirulito
- Emenda = cardápio
- Encher o saco = juntar dinheiro
- Engraxador = puxa saco
- Espectro = fantasma
- Estomatologista = Dentista
- Vulgar = ocorre com frequência usual
- Estrela = pipa / papagaio
- Favela = dente grande
- Treta = golpe, Trolha = pedreiro.
- Hospedeira = aeromoça
- Modista = costureira
- Morada = endereço
- Altamente = está na moda
- Palha = canudo
- Bicha = fila
- Galinha = mulher tagarela
- Punheta = prato típico português feito com bacalhau cru desfiado
- Prego = sanduíche de filé
- Canalha = criançada
- Acender = Acessar
- Matrícula = placa do carro
- Porra = churros
- Paneleiro = Gay
- Cu = Bunda
- Rabo = Bumbum
- Pica = injeção
- Boceta = caixa, caixinha
- Cacete = pão
- Fazer Bico = sexo oral
- Pastel = Doce (pode ser Salgado também, como pastel de bacalhau, porém não tem nada haver com o pastel do Brasil)
- Pastelaria = loja de doces.
Quando você for pedir algo, sua fala sempre deve ser clara e orientada para ser compreendida, ou seja; não adianta dizer frases subentendidas como: você tem água? Se você não disser, seguido de eu quero uma água, não irá ser atendido como espera ser.
Comunicação em inglês
É como no inglês, apesar de o britânico, o americano e o australiano falarem o mesmo idioma, no entendimento entre eles também existem suas distâncias, além de muitas gírias na linguagem. Não sou expert em inglês, até porque o meu inglês é funcional (rsrs).
Fazia Airbnb no meu apartamento, isso além de me ajudar financeiramente, ainda me ajudava a aprender e a me comunicar melhor, recebi: alemão, francês, americanos, inglês, australianos entre outros.
Era muito engraçado quando eles diziam rindo que, pediram uma água por exemplo, e a pessoa não entendia o que eles estavam falando e precisou repetir varias vezes e até mostrar (rsrs).
E atenção!!! se você usa tradutor para se comunicar, vai passar também por situações hilárias como essa, porque em muitas milhares de palavras a tradução do inglês para o português muda o sentido.
Como exemplo temos a palavra: combinado. Palavra que eu usava no Brasil, quando queria dizer que tava certo uma negociação, em inglês seria deal, mas a palavra combinado traduzida é Combinator porém, para eles, o entendimento dela não faz o sentido nesse mesmo contexto que usamos no português. Essas e outras coisas só aprendemos vivenciando no dia a dia. São exemplos de diferença cultural.
Dizem que acontece uma mudança brutal em nós a cada 7 anos, porém quem muda de país e cultura sente um impacto bem grande, que é como se vivêssemos a cada um ano, a sensação de ter vivido sete, é bem radical!.
Mudamos tanto, que, na medida em que os anos vão passando e vamos adquirindo experiências novas, parece que precisaremos nos apresentar novamente para as pessoas que fizeram parte do nosso passado.
O que muda?
Já fui a engraçada, a danada, a tímida, a namoradeira, a conservadora e hoje me vejo mais centrada, consciente de que nada é permanente. Atualmente me sinto mais leve, apesar do peso da bagagem que carrego com as experiências que adquiri nessa jornada pelo mundo.
Pelo menos tenho a sensação de que encontrei meu centro, estou mais leve e não me atribuo nenhum rótulo, ao contrário de antes.
Só quero me misturar ao mundo, aceitar a vida como ela é. Sou uma metamorfose ambulante. Abraço a mudança da mesma forma e com a mesma facilidade que abraço os meus filhos. E hoje procuro me fazer florir em qualquer estação.
Entendi que no processo de imigração sentimos uma saudade da gente mesmo, de quem éramos, do que fazíamos e precisamos gerenciar quem vamos ser a partir de agora, e que prá cada escolha existe uma renúncia.
Aprendi que uma hora ou outra a gente acaba entendendo que criticar é se excluir. Essa é uma auto defesa que criamos para que a gente não se sinta “excluído”, é uma forma de dizermos que não pertencemos ao lugar porque não queremos e não porque não somos aceitos.
Hoje o lugar pouco importa, dou mais valor às experiências que vivemos em família e os momentos de qualidade que estamos tendo juntos. Em um mundo onde todos buscam a perfeição, eu só quero me tornar mais humana e mais consciente a cada dia, pois nesse ínterim, percebi que o vazio de uma vida ocupada demais não traz benefício algum á família.
Hoje me apresento assim, cidadã do mundo!
O que posso dizer de Portugal ?
Vivemos em Lisboa há 1 ano. Uma nova adaptação ao velho mundo. Depois de ter vivido no novo mundo (Sydney- Austrália), algumas coisas ainda estão se remodelando em nossa mente.
Então, o que posso te dizer de Portugal? Na minha experiência, desde que desembarcamos, tive aquela sensação de pertencer ao lugar. As pessoas até têm me falado muito: – nossa como vocês estão felizes! Realmente estamos.
À cultura é semelhante a nossa, assim como o idioma; escolas públicas totalmente gratuita e saúde pública, o que nos proporciona muito mais oportunidades de termos qualidade de vida real em um país de primeiro mundo e nos sentimos menos imigrantes.
Aqui em Portugal, podemos nos candidatar às vagas de empregos que almejamos mediante nosso currículo de experiências e grau de escolaridade do Brasil ou prestar concurso público, logo após ter a autorização de residência.
Validação do diploma brasileiro em Portugal
Temos também a facilidade de validação do diploma do Brasil em Portugal, Através do reconhecimento e equivalência da sua grade curricular, procurando uma faculdade e apresentando o seu histórico escolar, devidamente apostilado e posteriormente solicitar a validação do diploma.
Reconhecimento e equivalência são coisas diferentes. O reconhecimento reconhece um grau obtido fora de Portugal no país europeu, já a equivalência serve para dizer que o grau obtido no Brasil é “o mesmo” que em Portugal. Isso é feito através de comparação da grade curricular cursada.
Tanto o reconhecimento quanto a equivalência são oferecidos pelas universidades portuguesas. As instituições possuem valores e procedimentos diferentes, então é bom se informar no site de cada uma.
Além disso, você deve priorizar uma instituição em Portugal que possua uma ementa próxima da sua. Isso pode facilitar bastante os trâmites – que são burocráticos e levam até 180 dias.
Em média, o preço cobrado é de mais ou menos € 450, em grande parte das universidades portuguesas públicas você paga 30% quando solicita o processo e os outros 70% do valor, quando for retirar o documento.
O Brasil tem mais de um acordo com Portugal, que nos ampara muito através do direto de igualdade, ou seja, que nos dá os mesmos direitos que os cidadãos têm, com bastante facilidade e opção para vivermos aqui legalizados.
E posso te dizer com experiência que a qualidade de vida vem a partir da sua legalização. A liberdade é libertadora e não tem nada melhor. Aqui somos bem amparados e acolhidos nesse quesito. Depois de ter seus documentos, o céu é o limite para uma vida com um leque de opções e oportunidades nas mãos. A partir daí é só escolher aquela que irá te proporcionar aquilo que você veio buscar.
Experiências
É como se tivéssemos vivido várias vidas em uma só. Vivemos mais nesses últimos 3 anos do que vivemos a vida toda no Brasil. Em cada país tivemos a oportunidade de ser outra pessoa, pela transformação que o lugar causou em nossa vida: novos hábitos, nova cultura, tudo novo. Uma oportunidade de começar de novo de uma forma diferente e isso é realmente excitante.
Porém nem todos os planejamentos acontecem como pensávamos que seria. A realidade é sempre diferente ou divergente da expectativa que geramos. O ideal é sempre ter em mente que, por mais difícil que seja, o importante é não desistir, ou seja, a resiliência e a paciência fazem parte do processo de recomeço.
Fomos transformados pelos lugares que passamos, pelas pessoas que fizeram parte da jornada, e pelas coisas que vivemos. Essa conexão de fazer parte e se sentir pertencente ao lugar, faz com que a gente valorize mais as experiências que estamos vivendo do que os lugares que vemos.
Aquela importância que dávamos quando chegamos, de ir a um monte de lugares, fotografar e postar nas redes sociais, vai passando. Tudo é um processo, e o de dizer adeus ao olhar de turista e viver os momentos independente dos holofotes, é mesmo um despreendimento.
As diversas fases no processo de adaptação
Depois vem a fase da desilusão, cair na realidade de tudo o que está acontecendo, cheio de altos e baixos, uma montanha russa de emoções. Sentimos que não vamos dar conta!
Temos medo e às vezes nos pegamos pensando se o que fizemos valeu mesmo a pena. Vivemos várias fases nesse processo, inclusive o luto do desapego de toda uma vida que deixamos pra trás, o que faz parte desse processo de imigração nos dois primeiros anos.
Poder viver de forma simples, e viver bem com o mínimo, é mais umas das vantagens que temos aqui fora. O que se ganha, mesmo que seja salário mínimo, nos possibilita ter uma vida de qualidade. Aqui em Portugal o custo de vida é baixo, o dinheiro tem valor e você não levará anos para conseguir estruturar sua vida.
Assim aprendi a promover momentos de qualidade em família todos os dias. Se o dia foi tempestuoso à noite será de abraços, beijos e calmaria. Assim, tento ao máximo marcar o dia com boas recordações, seja um passeio no parque pela manhã ou à tarde, seja uma horinha de brincadeira com as crianças, um carinho, um jantar especial num dia comum.
Esse talvez seja o grande aprendizado que carrego comigo depois da experiência como imigrantes: que o mais importante da vida é fazer da felicidade o caminho com bons momentos para recordar. E, acima de tudo, ver essa diferença cultural como parte dessa jornada.
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Casada há 21 anos, 39 anos, Mãe da Zoe (5 anos) e do Hiram (9 anos). Ex bancária, formada em Contabilidade, ex-sócia e proprietária da empresa Brazil Country Boots, fui por 3 anos Travell Planer na agência de viagem hm miles and tour e atualmente estou em transição de carreira em Dublin na Irlanda.
Com experiência e memórias de 5 países onde morei e tenho na bagagem: Itália, Inglaterra, Austrália, Portugal e atualmente Irlanda. Venho compartilhar com vocês experiências de mãe para mãe e a vida de uma expatriada pelo mundo.