Conheci a Jean Badayos quando ela tinha 27 anos, veio na minha casa fazer uma entrevista de trabalho trazida pela irmã mais velha. Franzina, baixinha e mal falava inglês, era das Filipinas, solteira e filha de agricultores. Se você não sabe, nos Emirados Árabes, a maioria das trabalhadoras domésticas vêm desse país asiático, em que deixam marido e filhos e ficam anos trabalhando para sustentar a família que ficou longe.
Primeiramente, eu já tinha entrevistado por telefone e pessoalmente quarenta candidatas e estava exaurida e ansiosa para encontrar a empregada ideal. Na época, eu trabalhava o dia inteiro e precisava de alguém para ficar em casa cuidando da minha filha de dois anos enquanto eu me ausentava. No início, pelo seu tipo físico frágil suspeitei que ela fosse dar conta de uma casa inteira para limpar, cozinhar e cuidar da minha filha. Mas tinha algo lá no fundo que me dizia que ela seria a pessoa ideal.
Enfim, decidi ficar com ela e prosseguir com a papelada de visto para ela poder ficar conosco, como chamamos aqui, eu seria a sua ‘sponsor’, uma patrocinadora responsável por ela – qualquer trabalhador nos Emirados só permanece no país se ficar legalmente. Dessa maneira, segui com a minha intuição e a contratei.
Uma ajudinha por favor
No inicio não foi fácil, a dificuldade de comunicação atrapalhava e vários mal entendidos aconteciam: remédio que seria para passar no braço da minha filha ela passou na boca; cozinhando trocou o açúcar pelo sal e por aí se foram várias situações desastrosas em que hoje eu dou risadas. Mas eu sabia que precisaria dar tempo ao tempo e ser paciente para as coisas fluírem.
A Jean, era muito esforçada para aprender, e acima de tudo demonstrava desde o início carinho por nós e para salientar sabia cozinhar o básico – o que tinha aprendido com uma família australiana anteriormente. Lembro que na primeira semana, fez frango assado recheado e berinjela com molho de tomate. Pronto! Foi isso que eu precisava no começo dos 12 anos em que ela morou na minha casa.
Com o passar do tempo ela me fazia relembrar dos tempos de infância quando morei no norte do Brasil e meus pais contrataram uma empregada daquelas que eram a segunda mãe da casa. Era paciente, bem humorada e proativa – a querida Raimunda que dedicou com afinco 15 anos da sua vida na minha casa, uma família com cinco filhos. Era como se a Raimunda estivesse na minha casa novamente cuidando de tudo e cozinhado pra gente. A Jean me trouxe essa lembrança e experiência afetiva de volta.
Lavar, passar e cozinhar
Com o passar do tempo o inglês dela foi melhorando e em paralelo ela foi pegando o jeito da cozinha brasileira. Desse modo, ficou craque no feijão, fazia carne assada de panela, e até pão de queijo aprendeu a fazer quando a minha sogra vinha de férias. Que mordomia chegar em casa do trabalho e encontrar tudo limpo e comida feita para janta. Um luxo accesível que nós expatriadas por aqui aproveitamos.
Contudo, ela tinha um grande defeito, era desastrada, quebrava muitos objetos pela casa. Perdi a conta de quantos copos, enfeites, pratos se foram pelas suas mãos. Por mais que eu conversasse com ela, não tinha jeito, na semana seguinte um novo episódio se sucedia. Ficava chateada mas pensava que eu tinha que priorizar, eu iria demiti-la só por isso? Claro que não. Eu priorizei o que realmente importava, a grande ajuda que ela nos dava. Como expatriada não temos familiares por perto e isso pesa muito quando temos filhos para criar e uma casa para administrar.
Lembranças
Dia 4 de junho de 2018 foi o seu último dia conosco, ela tinha casado e decidiu voltar para as Filipinas, e esse foi também o último dia no meu trabalho. Tinha feito um trato de quando ela partisse eu iria me demitir. As filhas (tive a segunda filha no meio desse caminho) já estavam crescidas e assim eu não precisaria mais de uma empregada em tempo integral.
Acima de tudo, lembro com carinho desses anos que se passaram tão rápido. Tenho a Jean como uma pessoa especial que fez parte da nossa família, assim como a Raimunda num passado bem distante. Ainda tenho contato com ela pelo Whatsapp e a boa notícia é que ela está grávida de seis meses e em breve vai começar a cuidar do seu próprio filho. Muitas bençãos para você, querida Jean!
Dicas úteis
Deixo abaixo algumas informações de como conseguir uma empregada doméstica em Dubai.
Onde buscar?
Através de sites, como Maid Finder ou em agências como a Maids.cc.
Dias e carga horária do trabalho
De sábado à quinta. Sexta é dia de folga. Carga horária diária de 8 horas.
Salário mensal da empregada doméstica em Dubai
Você contratando diretamente: em média Aed 2,300/U$627* mensal (você providencia a acomodação e gastos com visto, seguro de saúde e passagem aérea de férias anuais).
Através de agência: Em média Aed 5mil/U$1,362* mensal (com gastos de visto, seguro saúde e passagem aérea incluídos, além de substituição de empregada caso você não se adapte com a primeira opção – acomodação por sua conta).
Como proceder com visto?
Você terá que fazer um contrato anual ou de dois anos e a aplicante terá que fazer um exame de saúde.
Valor da taxa do visto: Aed 5mil por ano/U$ 1,362*
*Todos os valores acima podem ser alterados sem aviso prévio.
Papelada e onde fazer o visto?
No Tadbeer Service Centre (há uma opção VIP para coleta dos documentos no seu endereço).
Dica de leitura: Leia o romance “Maid in Dubai” (em inglês) da autora Zana Bonafe, expatriada em Dubai.
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Passou pelo Canadá e Bahrein antes de firmar residência em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Escreve também literatura infantil, haicais e contos. É autora do “O Jardim da Lua” (finalista do Prêmio Jabuti 2022 na categoria ilustração) da editora Tigrito.
“Sarah & The Pink Dolphin” é seu primeiro livro bilíngue (inglês e árabe) publicado pela Nour Publishing.
Participou do Festival de Literatura da Emirates Airline em 2019 com o livro: “Pepa e Keca em Quem viu rimas por aí?”.
Atualmente cursa a pós-graduação “O livro para a Infância: processos de criação, circulação, mediação contemporâneos” na A Casa Tombada. É parceira do clube de assinatura de livros infantis, A Taba, nos Emirados.
Respostas de 2
Olá tenho muita vontade de trabalhar fora do brasil,pode ser de qualquer coisa como faço pra conseguir trabalho em Dubai?
no brasil tu está muito bem. Fica aí quietinha