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Encontrar amor na guerra, é possível?

Última atualização do post:

Encontrar amor na guerra
Tempestade de areia em Camp Anaconda, Iraque. Arquivo pessoal

Encontrar amor na guerra, é possível? É sim, e hoje eu vou contar como conheci meu marido na guerra do Iraque, enquanto trabalhávamos lá como civis, apoiando os militares americanos.

Como tudo começou

Durante sete anos trabalhei na guerra do Iraque como civil, dando apoio às tropas Americanas que estavam no Oriente Médio e Ásia Central.

Saí do Brasil em Maio de 2004, com o intuito de ficar apenas seis meses no Iraque, e, no final das contas, sete anos se passaram antes do meu contrato terminar.

No mês de agosto de 2008, dia de calor, literalmente escaldante, 54 graus Celsius na sombra, quando eu, sem nenhuma intenção, encontrei meu amor na guerra.

Lembro como se fosse hoje, eu estava no meu “escritório” (um container), quando o pessoal da segurança patrimonial bateu na porta e perguntou de quem era o carro branco estacionado na frente.

Brinquei com eles, pois 90% dos carros do projeto eram brancos! Mas imaginei que, para estarem na minha porta, era meu carro.

Saí naquele calor escaldante para ver o que havia acontecido e, para minha total surpresa, o vidro traseiro do carro estava estilhaçado!

Indo atrás dos fatos

Ter acidentes desse tipo em zona de guerra é muito complicado, pois não é como em qualquer outra parte do mundo, que se sua vidraça quebrou, você chama alguém para trocar e pronto.

As peças de reposição poderiam levar até seis meses para chegar, e como ficariámos naquele calor? Eu não me importaria de caminhar, mas tinham outros cinco funcionários sob minha responsabilidade, que precisavam do carro para trabalhar.

A base militar que eu estava, Camp Anaconda, era a maior base americana na região com aproximadamente 28 mil militares e oito mil civis.

Depois de conversar com o pessoal da segurança, fiquei sabendo que o que atingiu a vidraça do carro foi um pedregulho, e que os responsáveis trabalhavam no Recovery Department.

Ou, para entender melhor, o pessoal do guincho! O Recovery era o departamento que saía das bases, para recuperar o que havia explodido durante a guerra.

Eu, furiosa, atrás do gerente do departamento

O Recovery, ficava exatamente atrás do meu departamento, haviam algumas T-Walls (paredes de concreto de 2,20m de altura por 25cm de largura) protegendo as áreas, e caminhar entre um departamento e outro, era possível.

Acredito não ter caminhado, e sim marchado! Estava furiosa! Principalmente com a falta de responsabilidade, de quem quer que comandasse aquele setor!

Chegando lá descobri que os dois responsáveis não estavam disponíveis, pois tinham ido tomar café no refeitório!

Consigo lembrar do que senti, furiosa era pouco! Sou uma pessoa calma, tranquila, e é muito difícil eu perder o controle, mas confesso que nesse dia, eu estava por um fio…

Fiquei lá, igual uma planta, esperando pelos responsáveis chegarem. Infrações como essas são sérias, e quem quebrou o vidro, poderia perder o emprego. E isso era a última coisa que eu queria, mas sabia que se não negociasse rápido com os gerentes do departamento, era o final da linha para os dois funcionários.

Shawn e eu, Camp Anaconda 2008 – Arquivo pessoal

E assim foi, que acabei por encontrar o amor na guerra

Pouco mais de uma hora se passou, e chegou uma pickup, branca obviamente, e estacionou.

Saíram dois homens dela, e eu fui marchando, perguntando quem era o gerente sênior do departamento, nesse momento o Shawn disse que era ele.

E, eu comecei meu discurso furioso, dizendo que se ele não tinha responsabilidade, eu tinha, que se os funcionários dele tinham tempo para brincar com pedregulhos, os meus não tinham.

Que se ele não sabia, era meu departamento que processava todas as requisições para compras de peças de todos os equipamentos que ele tinha, e que ficar sem o carro iria atrapalhar a logística do processo.

Falei, falei e falei, ele nem abria a boca, só ouvia, aí eu fiquei mais zangada ainda, ele não dizia absolutamente nada! Foi nesse momento, que, de tanta raiva, eu fiquei sem vocabulário em inglês e comecei a falar em português sem perceber.

E, ele olhou para mim dizendo that is so cute. Fiquei sem palavras! E, olhei para cima, percebendo pela primeira vez, os olhos verdes, que me olhavam sem entender o que eu estava falando, mas achando “bonitinho”.

Ele ofereceu o carro dos funcionários que quebraram meu vidro para o meu pessoal e, como “punição”, todos os funcionários dele, que não tivessem o que fazer, porque não tinha missão para eles, iriam reportar para o meu departamento, para fazer contagem de estoque.

Brincamos dizendo que nosso caso foi de “amor à primeira briga”.

Encontrar amor na guerra é possível

E, depois de 13 anos, somos prova disso!

Ficamos juntos no Iraque até 2011, fomos para o Brasil tentar abrir um negócio próprio, mas isso é história para outro dia.

Em 2012 ele foi para o Afeganistão, e eu para Dubai, em projetos diferentes, estando separados pela primeira vez, desde que começamos a namorar; nos vimos duas vezes durante os dois anos e pouco que passei em Dubai.

Em 2013, viemos de férias para os Estados Unidos, para casar e oficializar o relacionamento de cinco anos.

Junho de 2013, nosso casamento. Arquivo pessoal

Em 2014 nos encontramos no Haiti, mas não fiquei muito tempo lá, voltei para o Brasil por um tempo, e não nos vimos por 11 meses, até março de 2015, quando mudamos para o estado da Vírgina, EUA.

Hoje, estou em Delaware, ele na Arábia Saudita, onde trabalha desde novembro de 2018. Devido ao covid, não o encontro há mais de um ano.

Encontrar amor na guerra é possível sim, e eu encontrei um amor para sempre! Dizemos que o amor que nos une é infinitamente maior que a distância que nos separa.

Para mais textos da autora, clique aqui

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Luciana

Meu nome é Luciana Barletta, mas meus amigos me chamam de Lu. Estou fora do Brasil há 17 anos. Já morei no Iraque, Dubai e estamos nos EUA há 5 anos, sendo 2 anos em Delaware. Sou natural de Paranaguá, no litoral do Paraná, mãe orgulhosa do Gabriel e Raphael, e avó babona do Davi e Benjamim; Sou casada com o Shawn há 8 anos, mas estamos juntos há 13. Trabalho, gosto de fotografar paisagens, ler, cozinhar e de sair para caminhar com o Finn, meu cachorro, nas horas vagas.

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