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Entrevista com Ladimari Hoeppler sobre Educação Especial

Última atualização do post:

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Aprendendo a plantar mudas para o jardim da escola - Imagem: Arquivo Pessoal

Nesta entrevista exclusiva, conheça a inspiradora história de Ladimari Hoeppler, uma profissional apaixonada pela área de Educação Especial em Dubai. A trajetória de Ladimari é um exemplo vivo de como um sentimento de frustração com a sociedade, ainda na juventude, pode se transformar em um propósito de vida.

Ladimari nasceu em Erechim, no Rio Grande do Sul e cresceu na cidade de Santa Maria, que fica no mesmo estado. Com quase 51 anos, é casada e tem um filho de 16 anos. É uma mulher que transmite amor em suas palavras e que tem um trabalho que encoraja outros profissionais a serem como ela. Em outras palavras, a não desistirem desse universo incrível da Educação Especial. Além de professora, Ladi como gosta de ser chamada, publicou recentemente o seu segundo livro para o público infantil.

Cada expatriada tem a sua história e, sendo assim, o que desejamos é que essas histórias possam inspirar mais mulheres a irem além de suas limitações. Temos certeza de que essa entrevista vai inspirar vocês a acreditarem que todos nós temos muito a oferecer, independente de onde estivermos. Boa leitura!

Diário de uma Expatriada – Ao ler um pouco sobre sua trajetória, a minha maior curiosidade foi saber como surgiu sua paixão pela educação especial

L.H – Minha paixão na área da educação especial começou quando eu ainda era muito menina. Comecei a observar que as pessoas com deficiência muitas vezes não eram nem ao menos percebidas pela sociedade. Além disso, ainda sentia frequentemente descaso e desprezo em relação a elas. E eu não me conformava com essa situação. 

Meu pensamento sempre foi o de que todos temos habilidades e limitações. Por isso iniciei meu curso de educação especial pela Universidade Federal de Santa Maria – para comprovar que eu estava certa. A paixão nesta área era tão grande que acabei a graduação e segui estudando até chegar ao mestrado pela Universidade Federal de Santa Maria. Já o Doutorado fiz na UNESP em Araraquara, SP. 

Diário de uma Expatriada – Sua trajetória profissional é bem extensa. Pode nos contar um pouco?

L.H – Desde a época de faculdade, eu realizava trabalhos voluntários, auxiliando famílias e pessoas com deficiência. Trabalhei com a estimulação precoce, atividades de desenvolvimento social e independência. Desenvolvi atividades de habilidades sociais com jovens com T21. Dei aula em Universidades para alunos que iriam se formar em educação especial. 

Em Santa Maria, juntamente com duas amigas, montamos uma escola inclusiva, favorecendo atendimentos multidisciplinares para alunos com deficiência, muitos deles com T21 (Trissomia 21), que é a nomenclatura atual para a síndrome de Down. Também em Santa Maria fundamos a associação de síndrome de Down “Bem Viver”. 

Coordenei um trabalho de dança juntamente com uma mãe para um grupo de adolescentes e adultos com T21, grupo que até hoje faz sucesso na cidade de Santa Maria e arredores. O grupo se chama “Marcando Presença”. E atualmente trabalho em um centro para pessoas com deficiência. Além disso, sou responsável por uma turma com nove alunas entre 17 e 34 anos, sendo a maioria delas com T21.

Diário de uma Expatriada – Sabemos que você teve a oportunidade de viver em outros países. Por que você se mudou para Dubai?

L.H – O trabalho do meu marido foi o motivo de nossa mudança para os Emirados Árabes, mas já tive a oportunidade de viver no Canadá, Estados Unidos e Chile; e nesta jornada de transições e mudanças nunca deixei de lado o meu amor pela educação especial.

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Na escola em Dubai, atividade em classe para homenagear o Brasil – Imagem: Arquivo Pessoal

Diário de uma Expatriada – Você enfrentou muitos obstáculos no processo de imigração? 

L.H – Não posso dizer que enfrentei obstáculos, porque logo que cheguei em Dubai já iniciei meu trabalho. Comecei trabalhando como professora particular de um menino com T21, que na época tinha 11 anos. Foram sete meses de trabalho, e como a família percebeu um avanço significativo no desenvolvimento social, acadêmico e emocional do filho, resolveram abrir um centro para pessoas com T21 em Dubai. Nessa escola, fui diretora, coordenadora pedagógica e responsável por uma turma de meninos adolescentes. Entretanto, durante a pandemia do COVID-19, infelizmente a família resolveu fechar o o local.

Diário de uma Expatriada – Como funciona a educação especial em Dubai? 

L.H – Percebe-se muito o trabalho que se chama “Shadow Teacher” ou o “Teacher Assistent”. Esses são profissionais, na verdade, podem ser babás, cuidadoras, ou seja, pessoas sem conhecimento educacional, que vão para as escolas e ficam lá fazendo atividades exclusivamente com aquele aluno.

As escolas se dizem inclusivas! Mas na verdade a inclusão é social e não educacional, porque as pessoas com deficiência estão nas escolas, no fundo da sala, no canto do corredor, ou com a “shadow” ao lado, parecendo que é melhor não interagirem com os colegas de aula. 

Diário de uma Expatriada – Você tem uma experiência de mais de 20 anos. Quais as maiores dificuldades em ensinar para crianças especiais? Existe muito preconceito?

L.H – A maior dificuldade do meu trabalho é o fato dos familiares não acreditarem na potencialidade dos seus filhos, e com isso não auxiliarem os profissionais no que deve ser feito. Nós professores estamos em contato com nossos alunos por poucas horas, no máximo seis horas por dia. No restante do tempo eles estão em casa, e lá nada é feito. Em suma, não se canta, não se dança, não se brinca, não há a leitura, caminhada, movimento, ou comunicação. Outra dificuldade é, infelizmente, o fato de que muitos professores também não acreditam no potencial desses alunos, e não têm interesse em aprender sobre as deficiências.

Diário de uma Expatriada – Seu livro mais recente conta a história de um menino com síndrome de Down. Como surgiu sua inspiração para o livro “Meu nome é Miguel, qual é o seu?” 

L.H – Livro para mim é aprendizagem, conhecimento, esclarecimento. Compreendo também que, quando pais ou professores lêem para os seus filhos ou estudantes, se inicia uma interação maior entre eles, onde a comunicação, o diálogo, as perguntas e as curiosidades se fazem presentes, originando assim a aprendizagem, o gosto e o amor pela leitura. Sempre que possível, esclareço às crianças, principalmente à “nova geração”, sobre o que significa a deficiência, o que é a limitação, suas possibilidades e dificuldades.

Além disso, fazendo palestras em escolas para professores e observando classes que têm alunos inclusos, percebi que não há informação sobre as pessoas com deficiência, deixando os alunos com dúvidas e sem saber o porquê de algumas características dos seus colegas com deficiência.

Assim nasceu Miguel – trazendo informações sobre sua síndrome, mas mostrando, antes de tudo, que é um menino que brinca, que pula, que come e que é feliz. De fato, as deficiências se revelam assim: através de pessoas, seres humanos que apresentam limitações, mas que, apesar das limitações, não deixam de ser pessoas, com sentimentos e, prontos para aprender e ensinar.

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Atenção, carinho, afeto e uma rede de apoio profissional – Imagem: Arquivo Pessoal

Diário de uma Expatriada – O que mais motiva o seu trabalho?

L.H – A motivação do meu trabalho é poder perceber que com auxílio e cuidado extra, o desenvolvimento, seja ele social, acadêmico, motor ou emocional vai ocorrer. Enfim, é saber que, com amor, atenção e dedicação, as pessoas com deficiência podem aprender, se socializar e mais do que tudo podem se realizar como indivíduos. Isso porque alguém auxiliou, alguém parou e deu a devida atenção!

Ser professor é amar, é ensinar, é se dedicar. Da mesma forma, ser professor é transformar vidas, fazer pelo aluno o que você faria para seus filhos, sobrinhos e amigos. É ensinar e aprender ao mesmo tempo. É viver, criar, estar disposto e, mais do que tudo, acreditar nas potencialidades dos seus alunos com deficiência.

Diário de uma Expatriada  – Qual seu maior vínculo com o Brasil atualmente? Você sente vontade de voltar a morar no Brasil?

L.H – Já defini com minha família que iremos retornar ao Brasil em quatro anos, no máximo. Meu desejo é voltar a trabalhar em uma Universidade, ensinando futuros professores, para que estes estejam melhor preparados e desenvolvam suas atividades com maior eficiência, mais amor e dedicação.

Diário de uma Expatriada –  O que você diria para uma mulher brasileira que quisesse emigrar hoje?

L.H – Se você está pensando em morar fora do seu país precisa ser uma mulher flexível. Estar aberta a aventuras, a viver experiências desta nova cultura com alegria. Em suma, a adaptação será muito difícil se você não estiver receptiva ao novo. Viver fora é muitas vezes aprender a viver sozinha, fazer suas coisas sem ter apoio. É Desbravar! Pode não ser fácil no início, mas com flexibilidade tudo acaba entrando no lugar rapidamente.

Nós do Diário de uma Expatriada agradecemos pela entrevista! E para conhecer mais sobre o trabalho da Ladimari confira sua rede social, e para adquirir o livro “Meu nome é Miguel – qual é o seu?” acesse o site da Editora.

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Erinice Eversvik

Sou paranaense. Moro em Bergen, na Noruega, há nove anos com meu marido e nossa filha. Sou formada em História com especialização na área de pedagogia e na Noruega precisei começar do zero. Me surpreendi com o resultado.

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