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Imigrar é enfrentar você mesma

Última atualização do post:

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Depois de 5 anos fora do país, eu consigo ver o quanto cresci e amadureci. Coloquei os pés no chão mesmo com a cabeça ainda sonhadora. Lá em 2016 quando me mudei e mesmo em 2015 quando comecei a considerar me mudar pro exterior, eu não tinha ideia do que me esperava.

Eu não tinha ideia da profundidade de sentimentos e de dores que estar longe do meu país poderia me trazer. Pra mim era: oba! Vou fugir dos meus problemas, mas o que eu não sabia era que os problemas viriam comigo e mais, muitos outros questionamentos surgiriam pelo caminho. 

Imigrar Diário de uma expatriada
Istambul- Turquia /Arquivo Pessoal

A armadilha de imigrar sem os pés no chão

Me mudei muito feliz, achando que ia tirar de letra a saudade, afinal eu saí de casa com 18 anos e sempre fui meio desgarrada mesmo, o tchau já era familiar pra mim. Mas o que eu mal sabia era que a saudade era só um dos obstáculos que eu enfrentaria.

Mesmo já tendo outra experiência no exterior, aquela foi uma experiência limitada onde eu tinha dia pra ir e dia pra voltar. Dessa vez era diferente, pois eu estava vindo pra Turquia pra fazer a minha vida com a minha família, sem data pra voltar.

Tudo novo de novo

Assim que cheguei, me sentia uma criança. Eu não sabia andar, falar, e não tinha amigos além do meu marido e do meu filho. Mas depois de 3 meses morando aqui, eu criei coragem e saí sozinha pela primeira vez.

Era meu aniversário, e fui ao distrito de Kadıköy (uma espécie de centro bem movimentado do lado Ásiatico de İstambul), peguei minibüs (transporte público, um microônibus), comprei um batom de presente de aniversário pra mim e comi um durum. Tudo SO ZI NHA. Eu lembro da sensação de liberdade que senti naquele dia.

Leiam aqui: sobre Kadıköy

Eu enfrentei muitos medos ali. Na época nem pareceu grande coisa mas hoje eu vejo e reconheço o tamanho da minha coragem. E me orgulho de mim. Foi fácil? Não. Eu recuei várias vezes, tive medo, vergonha. Enfrentei muitos medos aquele dia mas mesmo encarando alguns, deixei de entrar em várias lojas por vergonha, como se eu naquele momento fosse um incomodo pras pessoas, afinal eu não falava aquela língua e precisaria de algum esforço pra ser entendida.

É preciso conhecer-se novamente

Me sentia uma estranha, inclusive a palavra usada para “estrangeiro” e “estranho” é a mesma em turco, o que traduzia exatamente o que eu sentia e ainda sinto as vezes. Conhecer as minhas primeiras amigas aqui, a Camila e a Mara, me deu um respiro e preencheu um vazio que eu não sabia que eu tinha.

Eu não sabia ou não queria aceitar que eu precisava das pessoas, eu precisava de acolhimento e descobri que não era assim tão desgarrada como pensei. Eu mudei a minha forma de ver muitas coisas e de me ver também, porque de repente as minhas fraquezas estavam ali, expostas e doendo. E doendo longe de casa, doendo sem um abraço de mãe e sem o carinho das minhas melhores amigas. 

Bolu – Turquia 2021/ Arquivo Pessoal

Hoje em dia a Turquia é a minha casa, e apesar de ter meu trabalho, minhas várias amigas e de ja ter saído sozinha milhões de vezes depois daquela, eu ainda tenho medo e vergonha, ainda tenho minhas dificuldades de comunicação. Ainda conto pequenas conquistas do dia a dia como ir ao médico sozinha, como uma grande vitória.

Assim como uma criança, eu sigo aprendendo a cada dia porque afinal a vida é isso, aprendendo um dia de cada vez e assim como as crianças, cada um aprende no seu próprio ritmo!

Leiam aqui outros textos das nossas colaboradoras na Ásia

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Carol Serpa

Merhaba! Eu sou a Carol. Gaúcha de sorriso fácil e que chora em comercial de margarina. Sou mãe do Vítor e da Luna e esposa do Fernando. Ensino inglês para pequenos seres humaninhos e desde 2016 faço da Turquia o meu lar! Compartilho meu dia a dia de expatriada na única cidade do mundo que fica em dois continentes no @aquinaturquia.

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