Como a mulher expatriada se vê num país novo, numa cultura nova e falando um outro idioma depois da maternidade? Com certeza, é preciso muita reinvenção e autocontrole durante esse processo.
Junto com a maternidade, a mulher carrega um turbilhão de experiências novas: uma nova rotina, uma mudança brusca de vida, um serzinho totalmente frágil e dependente, novas sensações, alterações hormonais e corporais.
Enfim, uma série de transformações que chegam desavisadas e que nos fazem girar a cabeça e perder o chão algumas vezes. Sim, passei por todos esses processos, mas o que mais levou tempo para se restabelecer foi a volta a uma rotina de trabalho, ou uma readaptação a novas oportunidades profissionais.
Chegada a um novo país
Quando cheguei pra morar na Croácia, tinha recém saído da vida a bordo. Trabalhava como tripulante de navios de cruzeiro e estava habituada a uma vida sem rotina, cada dia num porto diferente e conhecendo um lugar novo.
Apesar de a vida no navio ter sim uma certa rotina (trabalhar todos os dias por 5 meses por pelo menos 12 horas, atividades com grupos de crianças presentes naquele determinado cruzeiro). Cada início de cruzeiro era um grupo variado de passageiros, e crianças de diversas nacionalidades passavam por nossas salas de recreação. (Eu era recreadora, depois de ter dado aulas no Rio de Janeiro em vários cursos de inglês e escolas de língua da região.).
E durante quase 5 anos, eu tive a felicidade de pôr em prática o que havia aprendido nos tempos de faculdade. Além disso, pude realizar meu sonho de via, que era conhecer o mundo! Trabalhar e ganhar para isso era o que mais me enchia de orgulho, após ter passado por um processo de separação no Brasil. Buscava me reinventar e me preencher de algo positivo pra superar aquela fase traumática.
Primeiras impressões
Aí quero chegar no seguinte ponto: vim pra Croácia depois de me casar com um croata, sem saber a língua, sem saber nada sobre o país e, principalmente, sem saber se voltaria a trabalhar logo de cara.
Primeiro, toda a dificuldade burocrática de papéis pra me estabelecer aqui (vistos e documentos pra casamento). Depois veio a necessidade de aprender a se comunicar em croata, língua nada fácil e zero de semelhança com o português ou inglês. Voltar a trabalhar, nesse caso, foi ficando pra depois, pra quando eu pudesse ao menos me virar sozinha em termos práticos por aqui.
Eu nunca havia dado aulas de português no Brasil, e surgiu uma proposta de emprego numa escola de línguas de Split pra dar aulas pra um grupo de alunos, a sua maioria guias de turismo da região. Me vi desafiada a fazer algo novo, mesmo tendo sido professora por anos no Brasil, ensinar português como língua estrangeira não era a mesma coisa.
Mais um desafio
E como é que eu iria explicar o conteúdo se eu não falava croata? No início, a base do aprendizado se deu em inglês e, aos poucos, a transição natural pro uso do português em sala de aula começou a acontecer.
Essa foi a primeira vez que precisei me reinventar aqui na Croácia. Trabalhei por dois anos nesse curso e, depois que engravidei, precisei me afastar pra cuidar exclusivamente de Gabriel, já que não podia contar com rede de apoio frequente aqui no país. Aí veio a segunda reinvenção.
Mas essa parte eu vou deixar pro próximo artigo.
Para mais textos sobre a Croácia, clique aqui.
Sou Debora, carioca de Niterói e moro na Croácia. Trabalho como produtora de conteúdo e redatora em redes sociais, sites e blogs. Sou também professora de línguas (inglês e português para estrangeiros) e tradutora EN-PT).
Antes dessa mudança total em minha vida de expatriada, trabalhei como professora de inglês em diversas escolas de línguas no Brasil e também em empresas com a Petrobras e Vale do Rio Doce. Fui recepcionista bilíngue em eventos voltados a plataformas de petróleo e gás. Viajei o mundo e conheci os 5 continentes e mais de 60 países, a bordo de navios de cruzeiro da empresa Royal Caribbean, onde era recreadora infantil.