Nesse texto quero relatar quais foram os pontos mais relevantes que passei no meu intercâmbio após os 35 anos. Levando em considerações os medos, superações e perrengues que podem acontecer quando estamos diante de uma experiência que nos proporciona tanto autoconhecimento.
Para que serve um intercâmbio?
Quando pensamos em intercâmbio, nos vêm a cabeça os jovens entre 14 a 25 anos a procura de experiências em outros países, dispostos a aprenderem e aproveitarem o máximo dessa vivência.
Mas esse pensamento está cada vez mais no passado, um estudo feito em 2016 pelo grupo de pesquisa Mobilidade Acadêmica, encomendado pela Belta – Associação de Agências de Intercâmbio atribui o segundo lugar as pessoas entre 30 a 39 anos que procuram uma nova experiência de vida, desenvolvimento acadêmico, aprendizado de línguas ou trabalho pelo mundo.
E são várias as razões que levam as pessoas dessa faixa etária a estarem dispostas a encararem esse desafio. Como, por exemplo: maturidade emocional, independência financeira para custear as despesas, desenvolvimento profissional, mudança de carreira… Ou até mesmo um recomeço de vida após o término de um relacionamento.
E esse último foi o meu caso. Em 2017 eu estava com 36 anos, vivendo na Alemanha, terminando um relacionamento de 14 anos, portanto me vi sozinha tendo de recomeçar a minha vida.
Confesso que não foi fácil!
Dublin: a melhor escolha!
Por isso, decidi que era hora de fazer algo diferente. Decidi realizar um sonho que estava engavetado a muitos anos, o de fazer intercâmbio para aprender inglês.
Eu queria uma cidade grande, cosmopolita onde eu pudesse ter contato com muitas pessoas de diferentes culturas. Então, a cidade que melhor se encaixava nos meus quesitos foi Dublin, capital da Irlanda. Assim, fechei com uma agência de viagens um curso de 8 meses, que me permitia estudar inglês e trabalhar.
Com a cara e a coragem, fui! Foi a primeira vez na vida que me vi literalmente independente. Até então eu sempre estive sob a proteção ou dos meus pais, ou do meu ex marido. Ali eu estava por mim mesma. Tomando as decisões da minha vida, administrando o meu dinheiro que era limitado, planilhando o aluguel, supermercado, gastos com minhas pints do final de semana e por aí vai…
Alguns desafios surgem no caminho
Outra mudança foi morar em acomodações estudantis e ter que compartilhar meu espaço com outras pessoas. Afinal, chegamos aos 35 anos cheios de manias e rotinas, porém sou uma pessoa bem sociável e adaptável. Sei que tive sorte, pois nas 2 casas que passei, por mais que houvesse diferenças de idade e culturais, sempre nos tratamos com respeito e educação. Mas infelizmente sabemos que nem sempre é assim.
E lógico que tinha que ter um perrengue nos meus primeiros dias de intercâmbio. Quis explorar a cidade em um domingo de tarde, parei para tomar uma pint em um pub e fui furtada. Levaram minha bolsa por debaixo da cadeira, com passaporte, dinheiro e celular. Claro que na hora entrei em desespero! Mas depois levei como um grande aprendizado, pois foi ali que eu vi que eu podia resolver meus problemas sozinha.
Medos e superações de uma intercambista de 35 anos
Confesso que no início tive dificuldades em fazer amigos, estava dentro de mim todos aqueles preconceitos sobre a idade. O que eu estava fazendo ali? Não era muito velha para aquilo? Me sentia sem graça e deslocada.
Procurei ajuda de uma psicóloga que foi essencial para me fazer entender que tudo aquilo era um recomeço. Ou seja, que eu deveria estar aberta para o novo e me sentir parte daquele meio que eu havia escolhido.
A partir daí muita coisa mudou, me senti mais confiante tanto por dentro quanto por fora. Elevei minha auto estima e foi tudo acontecendo naturalmente. Me permiti sorrir mais, a falar minhas ideias, a aceitar as minhas vontades. E assim foram surgindo novos amigos que com o tempo se tornaram minha família em Dublin.
Fiz valer a pena
A cidade me proporcionou experiências maravilhosas, como: quantas vezes após uma aula tensa de inglês fui com meus colegas de classe, para um pub do outro lado da rua para tomar uma pint e relaxar. Ou, por exemplo de um sábado a noite no Temple Bar quando reunirmos em torno de 20 pessoas de 8 nacionalidades diferentes em uma mesa para conversar (em inglês claro), beber e ouvir música. Memórias inesquecíveis!
E em todo esse processo, nunca perdi meu foco que era aprender Inglês. Assistia e participava das aulas, fazia minhas lições de casa, ficava feliz sempre que tinha a oportunidade de conversar com um nativo. Infelizmente isso não acontece com todo intercambista, principalmente com os mais jovens. Muitos perdem o foco no aprendizado e priorizam lazer ou trabalho e não desenvolvem os conhecimentos da língua.
Não que eles estejam errados, mas o aprendizado de uma língua é algo que carregamos para a vida toda e que, em um país como o Brasil, abre muitas portas de trabalho com melhores remunerações.
O que aprendi com o meu intercâmbio
Então, aprendi que não há uma barreira de idade que nos impede de recomeçar, de aprender algo novo e de seguir nossos sonhos.
Criei coragem para viajar sozinha para outros países, tenho muito mais desenvoltura para lidar com situações adversas e por isso sou estou mais destemida do que nunca!
O que posso dizer sobre a minha experiência é que, em um intercâmbio, a gente vive um dia de cada vez!
Portanto, tenha sempre em mente que existe um mundo lá fora esperando por nós, que temos asas e não devemos ter medo de voar!
Sou Camila Sales, coach de mudanças e adaptação entre culturas, com ênfase em psicologia positiva formada pela Sociedade Brasileira de Coaching com certificados em: Personal e Professional Coaching, Ferramentas do Coach e Coach Aplicado à Psicologia Positiva.
Como mulher e ex expatriada, sei por experiência própria como é desgastante a adaptação à nova língua, cultura, relacionamentos com outras pessoas, rotina da nova casa, lidar com saudade da família e dos amigos, incerteza profissional (sendo esse para mim o mais impactante), o sentimento de dependência psicológica e financeira. E, após passar por todas essas fases, que levou 7 anos de mudança e adaptações, me vi tendo de recomeçar a minha vida sozinha, mas dessa vez utilizando todos os aprendizados adquiridos anteriormente.
Respostas de 2
Maravilhosa história 😀
Parabéns pela coragem! Me senti mais motivada para ter a mesma iniciativa c a mesma idade q vc tinha. Obrigada!