Parece que foi ontem que você chegou nesse novo país, não é mesmo? Te garanto que é normal. A vida no exterior parece que deixa o tempo meio bagunçado mesmo, os dias são tão intensos, mas ao mesmo tempo, tem horas que o tempo pára só pra doer mais por estarmos longe daqueles que amamos.
Vem chegando o fim do ano e vamos acompanhando no grupo da família os planos de quem vai na casa de quem, quem irá cozinhar o que. E, nem sempre é possível estarmos juntos nessas reuniões. Lidar com essas emoções, mais a loucura do dia a dia sem ajuda e ainda ser o porto de seguro de outra pessoa, não é pra qualquer uma mesmo. Agora, uma reflexão: quem cuida de você?
O cuidado e a reconexão
Encontre momentos de reconexão consigo mesma.
Lembrando: essa é uma época bem delicada. Morar fora e estar longe nas festas de fim de ano pode ser desafiador para muitas pessoas, mas vem aqui e reflita: o que você gosta de fazer nessa época? Estar rodeada de pessoas ou preparar refeições para você e uma pessoa querida?
Muitas vezes, nosso aparelho psíquico para nos manter “saudáveis” nos traz apenas lembranças boas, jogando para outras instâncias aquilo que não era tão agradável assim. Então faça uma lista das coisas que mais gostava de fazer no Brasil, lembrando dos detalhes, dos aromas e sensações dessa época do ano.
No hemisfério norte é tão comum as pessoas remeterem Natal ao cheiro de maçã com canela, especiarias. Isso traz o sentimento de lar. Ei, mas pera! Lar não é onde seu coração está? É isso mesmo!! Lar é onde você escolheu chamar assim, seja ele sozinho ou rodeado de pessoas queridas.
Trabalhar esse sentimento é algo importante, mas por enquanto vamos focar nas festas de fim de ano, ok?
As listas, as tão faladas listas
O que sempre compartilho com meus pacientes é lembrarem-se do que os levou até essa mudança, qual o propósito de mudar do Brasil? Esse é um ponto essencial de se lembrar todos os dias, pois nos colocamos sempre a prova, e a vontade de voltar por muitas vezes aperta.
Só que aí é que está: quem te define, o que busca, qual o propósito da mudança, a torna mais fácil de lidar? Como sou a “tia das listas” vou colocar aqui mais uma pra você criar: coloque num papel tudo aquilo que gostava de fazer durante essa época do ano estando no Brasil, vale de um tudo. Feita essa lista, escreva uma nova com tudo aquilo que aprendeu a gostar morando fora: novos hábitos e costumes, as delícias que aprendeu a degustar, as bebidas que te encantam. Feito as duas listas, está na hora de fazer um “tudo junto e misturado”.
Vamos pensar o que é possível você fazer estando aí: estar sentada na mesa da família não é possível, mas colocar no dia a dia – principalmente nessa época do aperto – uma ligação com as pessoas que mais sente falta, pode sim ser possível.
E ainda te digo que terá um bônus: não terá a disputa com outras pessoas pela atenção. E, essa ligação, ela pode ser de 30 segundos ou 3 horas. O que vale é ter um momento especial com essa pessoa tão importante pra você e também se fazer presente na vida dela. Agora, uma observação, talvez não seja assim tão proveitoso você fazer essa ligação na hora da ceia, pode ser um tanto incomodo tanto para você, quanto para quem recebe a ligação.
Uma ideia diferente que pode dar aquele quentinho no coração de quem recebe é gravar uma mensagem surpresa, só pra mostrar que você faz questão de estar ali, mesmo não estando.
Brasileiro deveria ser estudado pela NASA
Bem, vamos para a parte das delícias: brasileiro é o rei da criatividade, pelo menos é o que dizem na internet. Então pegue aquela receita sua de família, que te remeta as mais deliciosas ceias com eles e tente prepará-la, ao seu modo mas do seu jeito mesmo. Ela não ficará igual, mas terá a sua identidade.
Num outro ponto da mesa, é importante escolher um prato da culinária local, algo que te dê abraços quentinhos também, mas que é do país atual. Se você é uma pessoa que já passou por alguns países do mundo, o que a vida de expatriada tantas vezes nos faz vivenciar, tente escolher mais alguma delícia e aproveite!
Tente ainda estar com pessoas que gosta, que te fazem bem, ou se você é nova no lugar, vá em um local onde as pessoas tradicionalmente vão. Aí vale de tudo, eu mesma já estive a -31°C em Toronto, lá na Dundas Square pra ver as coisas acontecerem e não ficar sofrendo sozinha em casa. Portanto é hora de olhar pro novo, acolher e sonhar.
Tenho certeza que daqui há algum tempo, terá histórias para contar sobre esses dias. Lembre-se, tudo vira memória e história no final.
Você chegou até aqui, esse foi um ano de muitas batalhas, algumas vitórias e outras perdas, mas sempre haverá o que comemorar. O novo ano bate em sua porta, acolha-o de braços e mente aberta. Ano que vem nos falamos e vamos cuidando todos os dias do que mais importa: você e sua saúde mental. Um grande beijo e obrigada por estar aqui.
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Curiosa por natureza, sempre aberta a ouvir pessoas e opiniões diferentes e, com isso, conhecer mais sobre o mundo. Uni minhas paixões: conhecer lugares e pessoas, e me especializei no atendimento a brasileiros que moram no Brasil e no exterior, auxiliando-os nos desafios e adaptações da vida, pois morar fora, sabemos, não é uma decisão tranquila.
Respostas de 2
Sou muito grata por ter a Tabata como minha psicóloga, moro fora desde 2016, e a jornada é muitas vezes pesada emocionalmente.
Como disse a ela, me sinto um rádio fora de sintonia, e tá difícil de encontrar “a estação”… Pois estou no Brasil não me sinto mais em casa, estou na gringa tbm não me sinto em casa… É como ser um peixe fora d’água tanto aqui, quanto no Brasil…
E está sendo extremamente essencial a ajuda da Tabata me auxiliando a me encontrar nessa jornada doida chamada vida!
Pamela, eu que agradeço pela oportunidade de estarmos juntas nesse processo.
Morar fora não é fácil e exige muito de nós, mas ter a consciência que não é preciso estar sozinha, pode ser uma grande virada. ❤️