Morar fora é chique?

Em comemoração ao meus 12 anos de expatriada, resolvi fazer uma autoanálise, para saber, além do aprendizado, o que esta mudança causou de mudança em mim. Então descubra a verdadeira realidade sobre morar fora.

Desmistificando a realidade de morar fora

“Nossa, que chique, você vai morar no exterior?” Sim, morar fora é incrível, é uma aventura, é crescimento constante. Eu recomendo! Porém, tenho que te alertar sobre vários detalhes que você irá enfrentar no seu dia a dia. Não quero te desanimar, quero que você venha preparada, é diferente! A realidade sobre morar fora é outra, acredite.

Grandes desafios vão aparecer, haverá  momentos em que você vai querer desistir. Já falei da saudade? Não? Essa vai ser uma constante na sua vida. Sem falar que você vai precisar descobrir como pagar contas,  como dirigir num lugar totalmente desconhecido, (e na Inglaterra que é do lado direito?). Ou ainda ter que pegar um transporte público e não fazer ideia de como comprar o bilhete e nem qual estação terá que descer. 

E o médico, como faço? Pastel? Feira? Onde encontro? – Não encontra!  Às vezes tem as santas brasileiras espalhadas pelo mundo que satisfazem nossas vontades com suas habilidades e dotes culinários na cozinha e, desta forma, conseguimos matar nossa vontade.

E a língua? Como falo fermento em inglês? E fubá? E Papanicolau? Entre outras dezenas de palavras que você terá que aprender para poder se comunicar, mas venha também preparada para fazer muitas mímicas rsrsrsr.

Escolhas e aprendizados de morar fora

Morar fora é uma oportunidade única. O que a maioria das pessoas não sabem é  que, para trilhar este novo caminho, você teve que fazer várias e  difíceis escolhas. Deixar para trás as pessoas que você ama, sair do conhecido para enfrentar o desconhecido e, principalmente, reinventar-se no meio dessas mudanças. 

Gente, isso é um recomeço total! É como nascer de novo estando já grandinha, sabe? É como se você tivesse que reaprender a andar, depois de já ter percorrido quilômetros e quilômetros. 

Você ainda terá que comer comidas com temperos totalmente diferentes, respeitar uma nova cultura, as leis etc.

Passado algum tempo, você se sente “em casa”, perde menos tempo nos supermercados, já sabe dirigir por vários caminhos, já tem alguns amigos e sua vida começa a ter um sentido maior.

São experiências incríveis, se você olhar pelo lado de aprendizado, crescimento e oportunidade. Sem falar da segurança. Andar por becos sem nenhum problema, ruas totalmente vazias e escuras e viadutos. Um sonho de consumo para qualquer brasileiro. Tenho como reclamar? Não!

A realidade sobre morar fora – saindo do piloto automático 

O que antes eu fazia de olhos fechados, no novo destino gastei um tempinho pensando em como fazer, falar ou onde encontrar. É a tal saída da zona de conforto que tanto se fala. É sair do automático e ir para o manual. E isso é bom, porque me faz pensar mais. 

Durante o processo inicial, muita coisa vai te estressar. Inicialmente você vai achar estranhas várias atitudes e hábitos, porém vai acabar se acostumando. Lembro-me de uma vez que a Juju (minha filhota) estava comendo com a mão. Ia repreendê-la quando lembrei que ela estudava numa escola, que só na sala dela, tinha pelo menos 12 países diferentes.  Os indianos em algumas ocasiões, por exemplo, comem com a mão. Como eu poderia dizer a ela que seria errado comer com a mão? Parei, pensei e disse: filha, se você comer com a mão, vai se sujar. Pronto, resolvi a questão…rsrsrs. 

Vai ser muito aprendizado a assimilar. Mas esse processo de certa forma passa rápido, fique tranquila. O importante é que isso tudo vai te tornar uma pessoa mais forte, independente e decidida.   

Vamos então aos fatos. 

O que aprendi nestes 12 anos de expatriada

• Sei que a qualquer momento eu posso partir;
• A qualquer momento um amigo pode ir embora;
• Aprendi uma língua nova e vários pedacinhos de outras línguas;
• Aceitar e respeitar diferenças culturais;
• Andar sozinha no sentido mais amplo da palavra;
• Amadurecer;
• Cada dia é um novo desafio, mesmo que chova, faça sol ou neve, o dia estará lá todinho para ser desfrutado;
• E por falar em temperatura, aprendi a conviver com o frio (E que frio!). Imagina não sair simplesmente por que está frio ou chovendo? Nunca sairia de casa, morando na Finlândia…rsrsrsrs.
• Ser forte;
• Desapegar de alguns “luxos”;
• Me tornei mais humilde;
• Fazer escolhas e tomar decisões muitas vezes sozinha.

Houve uma mudança significativa na minha vida, valorizo mais as pequenas coisas, me tornei mais independente, faço coisas que nunca imaginei na vida que um dia iria aprender a fazer. Até as coisas mais simples como escovar o cabelo!

Você  passa a ter novas visões, menos julgamento, enfrenta desafios que nunca imaginou que seria capaz, você se surpreende, se orgulha de si mesma.  E passa a se conhecer mais.

Você expatriada, já sentiu isso?

Um dos momentos mais felizes, é o momento das nossas férias. Visitar nosso amado país, rever a família, amigos, e aproveitar cada momento, pois passa muito rápido!! Saber que você tem um  lugar e pessoas que sempre vão te receber com carinho e atenção é um aconchego e tanto! Cada ano, nossa chegada se torna uma festa, tanta coisa pra contar, prá ouvir, pessoas prá rever… é revigorante! 

LEIA AQUI MAIS ARTIGOS DA AUTORA

Hoje me sinto uma outra pessoa. A cada dia aprendo mais e mais. E passaria por tudo isso novamente.  Agradeço sempre as oportunidades novas da nossa vida. Não e fácil, mas é engrandecedor.

E você? O que mudou na sua vida?

Bell

Nascida em São Paulo, com coração carioca, sou louca para ter meus quadros pendurados na parede e não tirar mais, ao mesmo tempo, a ideia de recomeçar também me fascina, o novo sempre me empolga e dá um frio na barriga. Morei em 6 países, atualmente na Finlândia. Mãe da Juju e do Fe e casada com Sid.
Link