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Morar fora é também mudar por dentro

Última atualização do post:

mudar por dentro
Um carioca na Croácia - arquivo pessoal

Quando estamos nos planejamentos para o novo caminho de mudar de país, não imaginamos tudo aquilo que vamos vivenciar. Seja no mundo externo, num novo país, nova cultura e costumes, começando quase do zero, quanto no mundo interno, onde podemos nos reinventar, onde ninguém nos conhece, as mudanças são inevitáveis. Sim, não só a mudança física, mas a mudança interna que acontece lentamente e, muitas vezes, nem percebemos.

Como escreveu Norman Doidge em seu livro “O cérebro que se transforma”, nosso cérebro não para de se desenvolver, de se alterar, a não ser que estejamos paralisados numa vida sem novas influências. Diante de novas atividades o cérebro foi descoberto como algo maleável e não imutável. A gente pode tudo minha gente, inclusive mudar nossa visão da vida, jeitos e hábitos diante do estímulo de um novo lugar. Então quer dizer que mudamos internamente sim quando mudamos de país. Então se quiser saber mais sobre o livro segue resenha no link: Resenha do vídeo o cérebro que se transforma

Muitos podem dizer que não querem mudar, que preferem estar dentro do controle do que já se está habituado, mas se você planeja morar fora saiba que isso é impossível e sua resistência ao novo só te fará sofrer. É como se, resistindo, você travasse uma batalha com seu próprio cérebro. Ele quer aprender, se adaptar e abrir espaço para novas habilidades e todas as novidades que chegam em enxurrada na sua direção.

Minhas próprias reflexões

Morei praticamente minha vida toda no Rio de Janeiro. Sem entrar no mérito se isso é bom ou ruim, era uma verdadeira carioca da gema. Isso significa todo um estilo de vida, hábitos e jeito de enxergar as coisas. Sempre pertinho da praia, no calor e usando minhas havaiana o ano inteiro. Do consultório, na hora do almoço, vez ou outra, dava um mergulho no mar e tomava minha água de coco. Começava meu dia falando com todo mundo que trabalhava no meu prédio, meus vizinhos em casa e no consultório e fim de expediente era bem provável ir tomar um chopp no meu boteco preferido.

Essa Renata ainda existe, no jeito de amar viver a vida, mas ela está muito mudada. Desde que cheguei na Europa me abri para esse processo e não fiquei presa aos meus hábitos do Brasil. Já que comecei uma vida nova, ousei me liberar para aprender tudo que podia, processo que ainda está em andamento. Andar nas ruas de noite sem sentir medo, experimentar andar de patins depois de 30 anos, acampar pela primeira vez na vida, me adaptar a não ter tanta gente na rua e um círculo de amigos menor mudou meu cérebro! Mudou a mim!

Outro dia escutei que sou uma pessoa reservada! Eu??!! Mas gente, eu?? Sim!! Aquela lá que falava com todo mundo cade? Mudou e está tudo bem. Estou em outro país, outra cultura, estou mais reservada mesmo. Isso não quer dizer antipática ou antissocial, apenas fluiu dessa forma. Porém, a Renata que tinha muitas reticências em coisas novas, seja por receio ou pela violência que me cercava no Brasil, desabrochou! Nunca achei que teria a coragem que tenho hoje! Viajo sozinha, salto em cachoeira, durmo no mato, como pimentão (não riam, eu odiava pimentão) e sento para tomar meu chopp sozinha por opção.

mudar por dentro
Nas idas ao Brasil passeando pelo Rio de Janeiro – arquivo pessoal

Se perde de um lado se ganha do outro

Da última vez que fui ao Rio, fiquei bem ansiosa nos primeiros dias. Hoje moro numa capital de 900 mil habitantes e lidar com aquela multidão da minha cidade natal já me atinge de forma diferente. É o cérebro adaptado a outra realidade e precisando de tempo para entrar no ritmo de novo! Já sabia que isso poderia acontecer, então respiro e dou meu tempo. A cada vez que vou ao Brasil noto mais e mais diferenças em mim, ao ponto de me pegar pensando em querer voltar logo para casa, que hoje é a Croácia.

Não me entendam mal! Eu amo o Brasil, amo o Rio, mas a intenção do texto é mostrar como realmente mudamos quando passamos a morar fora. Nosso cérebro se adapta a uma nova realidade e é só isso. Eu acho muito interessante o quanto somos adaptáveis quando nos abrimos!

Mas se você ficar todos os dias preso no pensamento do que você tinha no Brasil e não tem no seu novo lar, é ansiedade na certa! Inclusive um passo para depressão também. Aliás leia esse artigo que escrevi Síndrome de Ulisses a síndrome do imigrante para entender melhor sobre as dificuldade psicológicas que um imigrante pode passar.

Ganhei muita coisa ao vir morar aqui. Eu cresci, minha autoconfiança aumentou, minha qualidade de vida também, sou mais consciente com gasto de dinheiro, mais seletiva com quem e o que quero fazer e me sinto muito livre. Porém, também perdi muita coisa. Não gosto de usar a palavra perdi, talvez, me afastei de muita coisa, principalmente estar longe de quem amo, minha família e amigos especiais. Também me afastei daquela que estava todo dia pronta para sair… eu mesma. Talvez seja a maturidade alidada com o morar fora, o clima, mas me pego muito mais caseira e em paz com minha própria companhia.

O que se tira disso tudo

Só nós somos capazes de mudarmos nossa vida, fazermos novas escolhas e nos abrirmos para novas oportunidades. Por isso, não deposite uma decisão de mudança de país em mais ninguém a não ser em você mesmo. Só a gente é capaz de saber o que se passa dentro de nós num mundo novo, diferente e cheio de desafios. Por mais que tenhamos ajuda, só quem passa sabe não é?

Se essa for a sua decisão, você vai sentir medo, mas se estiver decidido, tudo entra nos eixos conforme o caminhar pela nova vida. A sua mudança, seja externa ou interna, te fará feliz se souber aproveitar e olhar com equilíbrio os pontos positivos de cada novo dia no novo país. Então estamos nesse mundo para vivenciarmos as coisas, termos experiências que nos desenvolvam e nosso cérebro é capaz de superar tudo se você souber dar os estímulos que ele precisa.

Obrigada por chegar ao fim desse texto e te encontro também no Instagram.

Cliquem aqui para mais textos da autora

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Picture of Renata Castro

Renata Castro

Psicóloga clínica, especializada em Terapia Cognitiva Comportamental, carioca, mãe de 2 amores de 4 patas. Deixei meu consultório no Rio de Janeiro e vim morar na Capital da Croácia, Zagreb. Hoje atuo com atendimentos online.

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