Não existe fórmula mágica contra a birra dos pequenos. Por certo, se você tem uma criança pequena em casa, provavelmente já se deparou com um episódio de birra. E não se preocupe: não é só o seu príncipe ou princesa que passa por isso! Especialmente entre os 2 e 3 anos, as birras são muito frequentes e fazem parte do desenvolvimento infantil. Essa fase é popularmente conhecida como “terrible twos”. No entanto, antes de entender essas crises, precisamos lembrar que as crianças nessa idade ainda não têm maturidade cerebral para lidar com frustrações e se autorregular.
Costumo dizer que as crianças são pequenas pessoas com grandes emoções. Aos dois anos, elas começam a desenvolver novos sentimentos, mas ainda não sabem expressá-los verbalmente. Isso pode resultar em ataques de choro, gritos e acessos de raiva. Muitos pais chegam aos atendimentos procurando a “fórmula mágica” para evitar birras, mas essa fórmula simplesmente não existe! No entanto, entender o que está por trás desse comportamento e aplicar estratégias de parentalidade positiva pode fazer toda a diferença.
O que pode influenciar a birra dos pequenos?
Vários fatores podem estar relacionados a esse comportamento, incluindo:
- Temperamento da criança –algumas crianças são naturalmente mais intensas e sensíveis;
- Dinâmica da rotina familiar – falta de previsibilidade pode aumentar a insegurança da criança;
- O preparo dos pais – entender que as birras são parte do desenvolvimento e aprender a lidar com elas de forma respeitosa faz toda a diferença.
Lembre-se: as birras não são “frescura” ou “manipulação”. Elas são, acima de tudo, uma manifestação do desenvolvimento emocional do seu filho. E você é o adulto nessa relação, ou seja, o modelo de regulação emocional dele.

Como prevenir as birras com parentalidade positiva?
Quando possível, tente antecipar os gatilhos que podem desencadear as birras. Os mais comuns incluem:
- Cansaço – uma criança exausta tende a perder o controle emocional com mais facilidade;
- Fome – baixos níveis de energia podem aumentar a irritabilidade;
- Sono insuficiente – horários irregulares de sono afetam o humor e a capacidade de lidar com frustrações;
- Superestimulação – muitos barulhos, luzes ou interações podem sobrecarregar o sistema nervoso da criança.
Um exemplo pessoal: uma das minhas filhas sempre tinha uma crise de irritação às onze da manhã em ponto. Observando, percebi que era o horário em que ela sentia fome, mas não conseguia expressar. Sendo assim, para evitar a birra, passei a ter sempre um lanche disponível antes do almoço, e isso reduziu muito as crises.
Outro exemplo: uma mãe contou que sua filha de três anos sempre fazia birra quando saíam do parque. Para evitar esse momento estressante, ela começou a avisar a filha cinco minutos antes que a brincadeira terminaria e oferecia uma escolha para a saída, como ir até o carro pulando como um coelho ou andando devagar. Com essa estratégia, a criança se sentia mais no controle e as birras diminuíram significativamente.
Como reagir de forma positiva a uma birra?
Quando a birra acontece, sobretudo, é importante manter a calma e adotar estratégias que ajudam a criança a se acalmar. Veja algumas sugestões:
- Se a birra acontecer em um local público, tente levar seu filho para um ambiente mais tranquilo;
- Fale com a criança na altura dela, com um tom de voz calmo e, se ela permitir, ofereça um abraço;
- Reconheça os sentimentos do seu filho, mas sem ceder ao comportamento inadequado. Por exemplo: “Eu entendo que você está triste porque o brinquedo quebrou. Eu também ficaria chateada, mas não podemos jogar as coisas no chão”;
- Reflita sobre o que o comportamento está tentando comunicar – Muitas vezes, a criança só precisa de apoio para se sentir segura;
- Ajude seu filho a respirar fundo e se acalmar, ensinando técnicas de respiração simples;
- Após a crise passar, converse sobre o ocorrido e pergunte como ele se sentiu e, assim, o que poderia ajudar numa próxima vez.
Outro exemplo: um pai relatou que seu filho de quatro anos ficava muito frustrado ao perder um jogo. Em vez de ignorar a raiva da criança, ele começou a ensiná-lo sobre a importância de perder e ganhar, usando frases como “Eu sei que é difícil perder, mas podemos tentar de novo!”. Com o tempo, o filho aprendeu a lidar melhor com a frustração.

E quando os pais também estão sobrecarregados?
Certamente, é natural que nós, como pais, também fiquemos cansados e sem paciência. No entanto, se você se sentir sobrecarregado, tente:
- Respirar fundo antes de reagir;
- Se precisar, se afaste por alguns segundos para recuperar o equilíbrio emocional;
- Conversar com outros pais e buscar apoio emocional;
- Praticar o autocuidado sempre que possível.
A boa notícia é que, conforme as crianças crescem, seu cérebro amadurece e elas aprendem a se autorregular. Aos poucos, as crises de birra se tornam menos frequentes e as crianças desenvolvem um vocabulário mais amplo para expressar seus sentimentos.
Quando procurar ajuda profissional?
No entanto, se após os 7 anos, seu filho ainda tem crises frequentes de choro, raiva e dificuldade em lidar com frustrações, pode ser interessante buscar um psicólogo infantil. Profissionais especializados podem oferecer ferramentas para auxiliar no desenvolvimento da autorregulação emocional.
Conclusão
As birras são uma fase natural do desenvolvimento infantil. Criar uma rede de apoio, trocar experiências com outros pais e observar atentamente seu filho pode ajudar muito. Com estratégias de parentalidade positiva, paciência e compreensão, esse período pode ser atravessado de forma mais tranquila para todos.
Quer aprender mais? Confira algumas leituras recomendadas:
- Disciplina Positiva para Pais
- O Cérebro da Criança – Daniel J. Siegel
- Educação Não Violenta – Elisama Santos
- Crianças Francesas Não Fazem Manha – Pamela Druckerman
E lembre-se: você não está sozinho nessa jornada! Leia mais artigos da autora aqui.
About The Author
Isabella Martins
Ola! Meu nome é Isabella Martins e trabalho como Orientadora parental e como professora de educação infantil em Londres.
Tenho três filhos adolescentes e moro fora do Brasil há dez anos.
Já morei em Londres, Arábia Saudita, Singapura e agora retornei para Londres.
Tenho a oportunidade de conhecer diversas culturas e o
impacto delas na educação dos meus filhos e alunos.
Sou apaixonada por educação e adoro explicar as etapas do desenvolvimento infantil. Faço atendimentos online em Português e Inglês.
Acredito que criar relações de afeto melhoram as dinâmicas familiares e permite que tenhamos um lar onde a base seja o amor entre pais e filhos.
Siga meu Instagram para mais informações: @isabellagmartins03
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