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Entrevista com Viviane Holland: “Nunca pensei que iria morrer e me curei”

Última atualização do post:

Nunca pensei que iria morre e me curei

“Nunca pensei que iria morrer e me curei”! Que força e fé na vida contém esta declaração!

Viviane, a nossa entrevistada, representa tudo o que significa o OUTUBRO ROSA para todas as mulheres e em especial para aquelas que vivem ou viveram os enormes desafios do diagnóstico, tratamento e na maioria dos casos a cura do câncer de mama.

Olhando os desafios – e não foram poucos!!! – de frente e com o apoio incondicional da família, amigos e médicos ela travou inúmeras batalhas. E venceu!

Uma mulher forte e com um coração gigante e solidário que divide conosco sua história.

Boa leitura!

Nunca achei que iria morrer e me curei
Viviane e a filha Christine durante tratamento do câncer – Arquivo pessoal

Por favor, nos conte sobre quem é a Viviane

Meu nome é Viviane Holland. Eu nasci e fui criada em São Paulo. Quando eu tinha 15 anos fui com minha mãe e minha irmã fazer um curso de inglês em uma universidade na Flórida. Lá conheci um americano e ficamos amigos.

Voltei para são Paulo e me formei em pedagogia na PUC. Trabalhei muito com crianças, o que era um grande prazer.

Passados alguns anos, em 1981 o irmão do meu amigo americano ia casar e ele me convidou para o casamento. Passei um mês maravilhoso lá e sem pensarmos muito decidimos nos casar. Voltei para o Brasil e a família em choque preparou o casamento. Mas, foi lindo. Depois do casamento me mudei para o Texas. Vivi lá por cinco anos e no último ano tive uma filha, Christine. Posteriormente, quando ela tinha oito meses voltei com ela para o Brasil.

Foi um período de readaptação desafiador, mas fui me organizando e consegui um trabalho no Royal Bank of Canada onde comecei como assistente financeira e ao sair alguns anos mais tarde ocupava um cargo gerencial. Certamente, dominar fluentemente o inglês me ajudou nessa conquista.

Quando você saiu novamente do Brasil e onde viveu ?

Em 1991 conheci Terry, meu segundo marido, e pelo fato dele ser inglês e trabalhar para uma empresa internacional mudamos em 1994 para a Inglaterra com minha filha. Passamos sete anos em Midlands, em uma pequena cidade chamada Derby. Foi um período muito bom da minha vida. Minha filha logo se adaptou e gostava muito desse novo momento, além disso consegui rapidamente um trabalho temporário e logo depois um definitivo na área de tecnologia em uma escola secundária. Meu marido, eu e a Tina éramos felizes lá.

Em 2001 Terry foi transferido para Dubai. Para falar a verdade nunca tinha escutado sobre Dubai, mas ele tinha previamente morado no Oriente Médio e garantiu que eu iria gostar muito.

Adorei minha vida em Dubai.

Mas, nem tudo foi como planejáramos e como não conseguimos vaga para minha filha na escola inglesa em Dubai decidimos que ela iria ficar num colégio interno na Inglaterra. Foi com muita tristeza que a deixamos na Inglaterra e mudamos para Dubai.

De que forma você descobriu que estava com câncer?

A vida social em Dubai era extremamente intensa, incluindo muitos jantares, almoços e cafés de amigos e também relacionados com o trabalho do Terry, por conta disso ganhei alguns quilos. Com uma querida amiga brasileira fomos para um grupo do Weight Watchers ( Vigilantes do Peso ) e perdi os quilos em excesso.
Como resultado, a primeira coisa que notei quando diminui de peso foi que tinha um caroço no seio direito.

Eu sempre me chequei regularmente e já havia tido dois ou três caroços que não eram nada, mas todas as vezes que descobria um ia ao médico para checar.
Portanto, marquei uma consulta só por desencargo de consciência. Fiz todos os exames necessários e quando fui buscar o resultado da mamografia a médica perguntou se eu estava sozinha. E eu estava.

Era câncer.

Foi o maior choque da minha vida.

Minha família não tem histórico de câncer.

Quando contei para minha filha ela desmaiou. Naquele momento me invadiu uma enorme tristeza pela minha filha, muito mais do que por mim, porque nunca tive medo da morte. Eu disse a ela que eu ia sobreviver e eu acreditava que iria sobreviver. Nunca pensei que iria morrer. Tina, como chamo carinhosamente minha filha, estava de férias em Dubai e minha mãe também. Decidi com meu esposo que minha filha voltaria para a escola na Inglaterra, porque ela não precisaria passar por aqueles momentos e eu precisava cuidar muito de mim, e nisso contei com minha mãe, meu marido e minhas amigas desde o diagnóstico.

Quanto tempo durou o tratamento e onde ele foi realizado?

Fui a três médicos em Dubai que me ofereceram três tratamentos diferentes. As sugestões de tratamento eram quimioterapia e tratamento hormonal, o segundo passava pela retirada apenas do tumor e o terceiro a mastectomia total da mama afetada e hormonioterapia. Decidi pela mastectomia total, pois acima de tudo queria o protocolo médico mais rigoroso e que me daria mais chance de cura. Lembro que ainda falei ” se precisar retirar as duas mamas pode”.

Minha mãe ainda estava em Dubai e foi fundamental contar com seu apoio, assim como com o amor e apoio incondicional do Terry e da Tina.

Poderia nos contar um pouco sobre a mastectomia e o tratamento?

Eu sabia que depois da perda do seio meu único desejo seria ter uma reconstrução. Pensando nisso, quando fiz a mastectomia pedi para deixar tanta pele quanto possível. Hoje, lembrando aquele dia, não sei como me ocorreu essa ideia que veio a ser importante para a perfeita reconstrução realizada meses depois.

Fiz também tratamento de hormônio depois da mastectomia e tive a menopausa antecipada. Eu tinha 46 anos e foi difícil aceitar. Os sintomas eram muito presentes, calorões, insônia e todos os outros.

Por outro lado, nessa época não havia tratamento oncológico em Dubai e meu tratamento foi feito em Al Ain, uma pequena cidade do emirado de Abu Dhabi, para onde viajávamos por quase duas horas para as visitas médicas.

Quando somos expatriadas precisamos nos adaptar a muitas novas formas de viver, mas as questões de saúde na minha opinião estão entre as mais delicadas de resolver. Então, por motivos estritamente pessoais acabei decidindo mudar o tratamento para a Inglaterra, onde me senti mais confortável à época.

E a reconstrução mamária?

Cinco meses depois da mastectomia fui para o Brasil e fiz uma cirurgia de reconstrução. O cirurgião plástico foi indicado por um familiar, o que me trouxe mais segurança ainda. Decidi fazer as duas mamas, para que pudessem ficar iguais. Por outro lado, me dei “um presente” e decidi fazer plástica da barriga junto, em razão disso a reconstrução do seio foi um enxerto com matéria do meu próprio corpo.
A cirurgia plástica foi um sucesso total, apenas uma ínfima diferença na sensibilidade entre os seios. Eu nunca me arrependi da decisão da mastectomia. Quando voltei a Dubai e fui ao médico ele ficou realmente impressionado com o resultado da plástica, inclusive pedindo para tirar uma foto, onde não apareceria meu rosto, para ser usada com futuras pacientes. Uma forma de encorajar as mulheres que viessem a decidir por uma mastectomia total.

Como ficou a sua saúde emocional?

Perder o seio foi terrível. E a saúde emocional foi junto. Era extremamente difícil me olhar no espelho! Não tem como explicar o exato sentimento, você fica muito triste.

Não nos sentimos completa, falta uma parte sua. Mas, como sabia que iria fazer a reconstrução conseguia atenuar aquela sensação tão ruim

Passei a precisar escolher roupas diferentes das que costumava usar, menos decotes e mais folgadas. Sentar também era uma preocupação incorporada ao meu mundo novo, ficava preocupada que iriam olhar e notar a falta do seio direito, pedia para o meu marido sentar do lado que não tinha o seio evitando os supostos olhares. É traumatizante.

Meu esposo Terry, minha mãe e eu durante tratamento. O maior apoio veio da minha família -Arquivo pessoal

Algum controle pós tratamento ?

Tive seis anos de follow-up com os exames médicos que integram o protocolo clinico pós câncer. No começo eram visitas médicas a cada duas semanas, depois a cada quatro semanas, logo passaram para serem de seis em seis meses e finalmente anuais.

Como tudo deu certo a vida seguiu seu rumo tranquilamente.

Em 2013 eu mudei de volta para a Inglaterra. Para o Terry e para mim foi mais uma fase de adaptação que passada abriu espaço para a alegria.

O que aconteceu depois?

Em 2015 eu ia para o Brasil visitar minha mãe. Embarcaria numa quarta-feira, mas no fim de semana o Terry disse que eu estava muito pálida. Segunda era feriado então ele marcou uma consulta para terça. Quando cheguei lá a médica me disse que achava que eu não estava bem e devia cancelar minha viagem. Eu, fora a palidez, não tinha sintoma algum. Não tinha ideia do que ela estava falando. Na quinta fui ver um especialista e ele me disse que eu tinha leucemia.

Como lidar com o câncer novamente?

Não podia acreditar!

O médico olhou para mim e disse “Eu não vou tratar você. Eu vou te curar”. Eu acreditei nele. era ” Dessa vez o tratamento indicado foi o quimioterápico, que estava previsto ser realizado em seis sessões. Trata-se de medicação que em primeiro lugar vai combater as células doentes e na segunda parte zerar o seu sistema imunológico. Fiz várias sessões de quimioterapia, tive a queda de cabelo e apoio excepcional do meu marido, filha e genro. Mas, mesmo assim o médico na metade do tratamento avaliou que sem um transplante de medula óssea eu não conseguiria ser curada. Decidimos pelo transplante e quase imediatamente entrei na fila por um doador. Meu único medo era que não encontrassem alguém compatível, mas encontraram !

Todo o tratamento estava sendo feito pelo sistema público de saúde inglês e o transplante também seria. Na Inglaterra existe uma instituição que coordena o cadastramento e busca de doadores de medula e é totalmente gratuito. Encontraram meu doador e o transplante foi feito com sucesso.

Fui me recuperando primeiro no hospital por duas semanas e depois em casa. Seguiram-se exames e revisões médicas periódicas dentro do protocolo.

Como agradecer a um doador anônimo de medula?

Passado algum tempo meu doador se apresentou, já que só o doador pode entrar em contato. O meu foi um rapaz alemão, ele me escreveu perto do Natal uma carta muito linda que eu tenho em um porta retrato no meu quarto. Agora ele anda meio sumido. A última carta que tive foi quando ele é a mulher tiveram um bebê. Mandou foto dos três e mais um cachorro . O sentimento é da mais profunda gratidão !

O agradecimento mais lindo foi realizado pela minha filha Tina, pois ela se tronou doadora de medula e um rapaz belga foi beneficiado.

Tina, minha filha doando parte de sua medula óssea em retribuição a que eu recebi meses antes-Arquivo pessoal


Que conselhos você daria às mulheres com câncer de mama?

Eu acho que é importante se manter positiva. Tentar pensar que câncer de mama tem cura. Confiar no médico é decisivo. E se alguém oferece ajuda aceite. Não se isole.
Lembrem de mim com esse pensamento : ” Nunca pensei que iria morrer e me curei”


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Picture of Iarema Araújo H.

Iarema Araújo H.

Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é " Vida Linda e Abençoada ! "

3 respostas

  1. Quelle belle histoire dans tous les sens.
    Bravo Viviane pour avoir partagé votre histoire pleine d’amour , foi et grand courage . Quel grand exemple
    Félicitations à Tina pour son grand cœur aussi
    Merci Iarema de l’avoir publié 💗

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