Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O jeitinho brasileiro de falar o português

Última atualização do post:

jeitinho brasileiro
"A Mineirês" é o dicionário organizado com expressões mineiras - Imagem: Arquivo Pessoal

Há também o jeitinho brasileiro de falar o português: ”Sô mineira, uai! E vô contá pro cê um trem interessante sobre o jeitinho brasileiro de falar. Pó pegá seu cafezin que aqui no blog – Diário de uma Expatriada – tem muito trem bão pra ler.”

Talvez um estrangeiro aprendiz do português tenha dificuldades de entender o parágrafo acima. Isso porque o Brasil, devido à sua extensão, é um país cheio de diversidades na língua. Dependendo da região em que se vive, mudam-se os costumes, os hábitos alimentares, os nomes das coisas e até mesmo o jeito de falar.

Durante minhas aulas de português, as seguintes perguntas são muito comuns: Por que você não usa o “tu”? Por que a sua pronúncia da palavra “porta” é diferente da do meu marido? Minha sogra não pronuncia “sexta” dessa forma, por quê?

jeitinho brasileiro
Trem é uma das expressões mineiras mais conhecidas no Brasil – Imagem: Unsplash

Variações linguísticas

Diante disso podemos definir variações linguísticas como as diferentes formas de falar uma mesma língua. Essas variações são estudadas na sociolinguística. E o que é sociolinguística? Trago esse conceito me apropriando de SILVA (2020)*, que define a sociolinguística como uma ciência que estuda a língua em uso, isto é, a língua dos falantes inseridos na sociedade, sendo ela mutável, heterogênea e multifacetada. Dessa forma, com base na sociolinguística, considera-se que as escolhas linguísticas dos falantes dependem do contexto social, econômico e da comunidade em que estão inseridos.

Sendo assim, podemos afirmar que o conceito de língua ultrapassa a norma padrão e a dicotomia de certo e errado, ou seja,  o mito de um “padrão único” falado por todas as pessoas. Acredite, a língua não é homogênea e ela sofre variações. A língua é viva!

Quando vamos à feira podemos observar isso

Morei muitos anos no norte do Brasil, onde convivi diariamente com a variação regional. O meu primeiro dia de feira foi de aprendizado “profundo” sobre o uso da palavra mandioca. Você deve estar pensando… quem não sabe que mandioca tem diversos nomes no Brasil? Bem, eu já sabia que em muitos lugares do Brasil, por exemplo Rio de Janeiro, mandioca se chama aipim. E se você for à feira comprar mandioca, te vendem o aipim e pronto!  Porém no Pará, confundir o nome do produto pode ser fatal! E quando eu falo fatal é no sentido literal da palavra. Vou te explicar! No Pará, o que se chama mandioca, na verdade é outra raiz, e não pode nem deve ser preparada ou consumida como a mandioca/aipim que conhecemos, por possuir grande concentração de ácido cianídrico – uma substância tóxica para o nosso organismo. Então fica a dica: no Pará, peça macaxeira!

jeitinho brasileiro
Macaxeira é aipim. Mandioca é aipim. – Imagem: Unsplash

Numa conversa informal, também observamos

Vamos começar essa conversa com a forma “a gente”. Alguns linguistas consideram a forma “a gente” incorreta, mas a verdade é que muitos falantes preferem o “a gente” ao “nós”. Da mesma forma, muitos brasileiros optam por abreviar o verbo estar (está – tá) em qualquer situação.  Veja esse exemplo na charge de DUKE, na qual o verbo estar também se encontra na forma abreviada (estou – tô).

Um bom exemplo de variação social e histórica é o pronome de tratamento “você”; segundo estudos apresentados por GONÇALVES (2008)* “vossa mercê”, devido a variações sociais, tornou-se “vosmecê”, e reduziu-se a “você”;  bem como, atualmente observamos o uso de “cê” ou “vc” (principalmente nas redes sociais).

jeitinho brasileiro
O jeitinho de falar do brasileiro – tô (estou) – Imagem: Charge Duke

Variação fonético-fonológica no dia a dia

Não sou especialista em linguística mas tenho curiosidade sobre o assunto, por isso, nas minhas andanças e mudanças sempre me envolvo com essas maneiras de falar. Meu marido sempre disse que se eu ficasse um mês no sul… voltaria gaúcha.

Estudantes de português e turistas no Brasil percebem esse jeito brasileiro de falar nos primeiros contatos com o idioma. O Brasil é repleto de sotaques: mineiro, carioca, paulistano, gaúcho, nordestino, nortista dentre outros.

Sou mineira e, quando me mudei para o Pará é que me dei conta que tinha sotaque. A fala mineira carrega um pouco do caipira no uso do diminutivo, somado à omissão de letras nas palavras na linguagem oral, tais como, o “r” no final do verbo no infinitivo”; o “d” no gerúndio e o “u” da primeira pessoa dos verbos ir, ser e estar: (vou) comê (comer) um queijin (queijo) agora. Estô (estou) bebeno (bebendo) café.”; “Eu (sou) brasileira.” Tinha um professor no Pará que sempre dizia: “Adoro essa silabação mineira!”

Morei também no Rio de Janeiro, e os cariocas tal como os nortistas se apropriaram do português de Portugal utilizando o “s” com som de “x”.

Em Dubai, tenho muitos amigos gaúchos. A região sul foi fortemente influenciada pelos imigrantes europeus, principalmente alemães. A fala de gaúchos e catarinenses apresenta o “r” retroflexo, que se pronúncia com a língua voltada para trás, típico nas palavras porta, arroz e etc. Os paulistanos acabaram incorporando um pouco do estilo italiano.

Dica de leitura: Curiosidades da nossa Língua Portuguesa

O que é certo e errado?

É sempre bom lembrar que não existe sotaque certo ou errado, melhor ou pior.  Devemos tratar essas diferenças de forma respeitosa e rejeitar os preconceitos. A meu ver, a flexibilidade da língua portuguesa no Brasil é fascinante. A sociolinguística é o campo da linguística que compreende a língua como um sistema heterogêneo, dotado de variação, e, por isso, contribui para que o preconceito linguístico seja erradicado.

Então, você deve estar se perguntando: E como fica na sala de aula? Que conhecimento linguístico deve ser apresentado aos alunos?  Na minha opinião, o professor não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas. Sendo assim, os alunos, devem ser conscientizados de que diferentes culturas e costumes geram diferentes formas de expressão da língua, que muitas vezes fogem às normas impostas pela gramática normativa.

Ao escrever esse artigo encontrei um site muito interessante chamado locallingual, o qual disponibiliza a escuta de sotaques/dialetos de todo o mundo. Vá lá conferir e depois me conta, qual é o seu “jeitinho” brasileiro de falar?

Se tiver interesse em aprender ou aprimorar seus conhecimentos na língua portuguesa entre em contato comigo nas redes sociais @portuguesestation.

*Referências citadas no texto:

GONÇALVES, C. R. Uma abordagem sociolinguística do uso das formas você, ocê, cê no português. 2008. 349 f. Tese (Doutorado ) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

SILVA, Vera Lucia. Linguística II, Maringá, PR: UniCesumar, 2020.

Gostou deste artigo?

Compartilhe no Facebook
Compartilhe no Twitter
Compartilhe por E-mail
Compartilhe no Pinterest
Compartilhe no Linkedin
Picture of Anapaula Vilas Boas Neves

Anapaula Vilas Boas Neves

Sou professsora de português para falantes de outras línguas , certificada pelo TESOL l TEFL (Teaching English (Languages) to Speakers of Other Languages l Teaching Languages (Portuguese) as a Foreign Language) . Moro em Dubai desde 2010 onde venho me dedicando ao ensino da língua portuguesa para estrangeiros e brasileiros que moram fora do Brasil . Sou autora do livro 'Expresso Português - Guia prático de estudo de Potuguês para estrangeiros - nível A1 E A2. Tenho um canal no Instagram e YouTube @portuguesestation que tem como conteúdo curiosidades, vocabulário e dicas de gramática da língua portuguesa .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

4 × 4 =

LEIA TAMBÉM

plugins premium WordPress

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site. Clique aqui para saber mais.