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Entrevista: Patrícia, como fazer o caminho de volta?

Última atualização do post:

Patricia, Reinaldo e os filhos voltaram ao Brasil depois de muitos anos em Dubai.

Quem vê a Patrícia pela primeira vez sente na hora a delicadeza no trato e a doçura da voz dessa carioca de aparência delicada, mas não imagina nem de longe a gigante em que ela se transforma quando o assunto é solidariedade, empatia e espiritualidade!

“Quem a conhece jamais esquece”, fica contaminado pelo amor fraterno!

Patrícia e Rinaldo, amor de vida e parceiraço de todos projetos, com os filhos Miguel e Daniel viveram como expatriados em Dubai por 15 anos e se tornaram referencia por lá. Um pouco antes da pandemia fizeram o caminho de volta ao Brasil.

Fácil ? Valeu a pena? Como foi a adaptação do casal e dos filhos?

Quer saber mais sobre isso ? Vem com a gente na leitura desta entrevista com uma mulher especial, humana, que foi vivendo os ventos do Oriente como eles sopraram e transformando desafios em aprendizado! Sempre com muita leveza e amor !

Boa leitura

Fevereiro de 2022 – Patrícia, Rinaldo, Miguel e Daniel na nascente do Rio Sucuri em Bonito/MS – Imagem: Arquivo pessoal.

IA – Patrícia voce poderia se apresentar as nossas leitoras?

Sou Patrícia Farias, filha da Anália e do Wilson, carioca, casada com Rinaldo e mãe do Miguel e do Daniel. Residi no Oriente Médio por 15 anos, onde me dediquei ao estudo e divulgação da doutrina espírita para a comunidade. Formada em jornalismo com pós-graduação em Cultura teológica, descobri em Dubai o quanto me realizo nessa interseção entre o homem e sua religião. Vivo tecendo historias para um dia ter o que contar.

IA- Tua historia de mulher expatriada é especial, poderia nos contar sobre isso?

Logo após meu casamento com Rinaldo tínhamos um plano de sair do Brasil, sonho mais dele do que meu. Aplicamos para algumas vagas no exterior, e nesse meio tempo engravidamos. O tempo passou, o bebê nasceu e quando já tínhamos nos convencido de ficar no Brasil, numa madrugada enquanto embalávamos Miguel, o telefone tocou e era uma chamada de Dubai. Naquele tempo não fazíamos ideia de onde e como seria uma vida nos Emirados Árabes.

Mas, após algumas conversas, por telefone e e-mail, arrumamos nossas malas. Rinaldo embarcou em outubro de 2005 e logo em novembro fui para a maior aventura da minha vida. Atravessei o oceano com um bebê no colo, em busca de um novo país e de, acima de tudo, reunir novamente nossa pequena família. A viagem foi longa, difícil e cansativa. Três voos, embarques e desembarques, fraldas, pouquíssima ajuda pelo caminho. Mas vencemos. Desembarquei no terminal 1 do aeroporto de Dubai levando Miguel no colo, apenas duas malas, e a bolsa do bebê.

No desembarque me deparei com a cena mais exótica que eu poderia ter visto até ali. Um calorão daqueles, ventiladores que espirravam gotículas de água para refrescar, uma mistura indescritível de idiomas, roupas e olhares estrangeiros. Estranhamento total. No meio da multidão, aquele sorriso, o olhar terno de sempre, braços abertos…e ouvi: Baby estou aqui!!!

Enfim chegamos! Ali começava uma nova história, para todos nós, mas principalmente para mim como mulher, mãe e cidadã do mundo.

Natal de 2010 no Brasil. Rinaldo, Patrícia, Miguel e Daniel nascido nos Emirados em agosto – Imagem: Arquivo pessoal

IA- Em Dubai você deixou de trabalhar na sua profissão, quais as razões? Valeu a pena?

Quando cheguei estava com um bebezinho de apenas cinco meses, era mamãe de primeira viagem e além disso tinha um inglês parco. Então as chances de trabalhar naquele momento eram mínimas. Os telefonemas de cobrança vindos do Brasil eram sempre iguais, “e aí você já está trabalhando?”; “Quando você vai começar a trabalhar?”; “Mas você não vai ficar cuidando de filho, vai?”; “Você vai ser jornalista internacional?”

Essas são perguntas que nenhuma mulher que acaba de parir quer ouvir! Acrescente aí o fato de ser expatriada em um país muçulmano. Me debati algum tempo com isso, tentei algumas alternativas, mas não fluíram. Eu tinha um desejo de ser mãe, de cuidar da cria. E recebi esse apoio incondicional do meu marido. Sendo assim, assumi a maternidade. E para ter uma boa desculpa para mim e para os outros, comecei a escrever um livro, inaugurei um blog, e logo veio o serviço voluntário com a comunidade de brasileiros. Tudo isso me ocupou as horas por dias, meses e anos.

E hoje posso comprovar que não foi um prejuízo! Muito pelo contrário. Ganhei muito para os valores que prezo, com a educação dos meninos, e com os anos no voluntariado. Poucos meses após a repatriação, retornei ao mercado de trabalho pelas mãos generosas da Andréa Samico minha ex-sócia na Intersecção Design de Historias. Mesma empresa que há 15 anos eu havia deixado para a experiência em Dubai. Reencontrei meu lugar nas produções editoriais.

IA- Patrícia é um nome quase místico em Dubai, muitas pessoas foram beneficiadas pelo teu acolhimento fraterno. Como tudo aconteceu?

O trabalho da casa espírita foi uma grata surpresa que me aguardava em Dubai. Eu não tinha a menor ideia que isso pudesse surgir no meu caminho. Cresci conectada ao catolicismo, e poucos anos antes de ir para Dubai me tornei simpatizante dos estudos espirituais.

Foi num café com algumas brasileiras que fui convidada pela Luciana Bittar para ir à casa dela participar de um pequeno grupo de leitura sobre a doutrina. Certamente foi a sua persistência dela em me buscar e me levar, que me permitiu participar desses estudos. Algumas vezes eu ficava apenas na sala ao lado ouvindo-a. Precisava amamentar o Miguel, trocar fraldas, e quando ele chorava saiamos para o quintal. Mas eu não desistia, aquelas leituras me faziam muito bem. E Luciana, também, nunca desistiu de mim. Agradeço!

Em seis meses ela me sugeriu abrir um grupo em minha casa para que meu marido participasse. Lembro que em duas ou três semanas funcionando lá em casa, ela disse não posso ir, você precisa fazer esse estudo. Apavorei, mas não tinha escolha. Eu não iria cancelar, já que sentia um profundo compromisso com aquelas poucas pessoas, cerca de sete ou oito. Logo depois disso a Luciana se mudou e eu segui com o trabalho junto com meu marido.

E como a casa de vocês se converteu no “centro espírita de Dubai?”

Muitas pessoas se uniram ao nosso trabalho, e ele foi crescendo. Tenho gratidão por todos os trabalhadores que passaram pelo nosso grupo e dedicaram seu tempo e seu amor a esta causa. Foi um movimento de esforço conjunto.

Nossa casa era pequena, as pessoas sentavam-se no chão da sala, e muitas vezes colocávamos cadeiras até na cozinha. Tínhamos noite com 30 pessoas. Algumas vezes nós nem conhecíamos os participantes, era o amigo do amigo, ou um parente que estava de passagem. Recebemos palestrantes do Brasil para nos ajudar a fortalecer as tarefas da Casa: implementando o atendimento fraterno, o desenvolvimento do serviço do passe e evangelização da infância. Mudamos de casa, ora para um espaço maior, ora para uma menor, mas sempre tudo se acomodou como precisava ser. Nunca nos faltou assistência dos bons espíritos.

Janeiro de 2020, ultima reunião do grupo espiritual na sala de casa. Abaixo um dos trabalhadores beneficiados pelos projetos sociais iniciados em 2012. – Imagem: Arquivo pessoal.

IA- Qual a maior alegria coordenando grupos e atividades assistenciais ? E a maior entrega ?

Alegria é reencontrar pessoas que me dizem que algo mudou por conta de determinado estudo, de um ensinamento de Allan Kardec, de uma frase de Chico Xavier, que ouviram em nosso grupo. Ouvi recentemente um caso, de uma pessoa que esteve muito doente e em coma, teve uma breve memoria de um estudo em que falávamos sobre a vida após a morte, e aquilo fez ela se reconectar imediatamente com Deus, ainda desacordada. Hoje, já recuperada pode me contar pessoalmente essa recordação, durante o estado de coma. Isso me tocou profundamente! Só por essa história já valeu a pena todos esses anos dedicados ao voluntariado de divulgação da doutrina espírita e do Evangelho de Jesus.

A maior entrega é se comprometer com os horários, abrir a casa independente do seu humor, do filho doente, do marido cansado, das visitas que você hospeda. É se desprender e crer que o trabalho não é seu, você assim como os outros são apenas instrumentos do Cristo. O desafio é confiar na espiritualidade amiga e ter amor ao próximo. Há muitas pessoas necessitadas e é preciso ter empatia, paciência, perseverar. Vencer a si mesmo, porque ainda somos pequenos e também necessitamos de compaixão. Às vezes mesmo querendo fazer o bem a gente se atrapalha, e o serviço com o publico não é fácil, nem sempre somos compreendidos. Imagina quando esse serviço é feito dentro da sua casa?!

IA- E chegou à repatriação! Susto ou algo planejado?

A repatriação não foi planejada, nem por isso foi um susto. Estávamos avaliando a possibilidade de sair de Dubai para uma experiência em outro país. Roma era uma opção profissional quando recebemos um convite para o Brasil. Não estava nos planos voltar a pátria, mas a oportunidade de carreira nos era favorável, além de pensar que seria bom para as crianças conhecerem o Brasil de perto, e conviver com a família. Também não estava nos planos retornar e em poucos dias receber do lockdown por conta da pandemia.

Estranhei o Brasil pandêmico! A pobreza, a dor latente das pessoas na rua, o descaso da maioria dos que estão no poder. E de alguma maneira ainda não me sinto em casa.

IA- Patrícia o que é mais difícil, se tornar expatriada ou retornar ao Brasil?

Ambos!

Sair do Brasil é um desafio, requer coragem e espírito aventureiro. Deixar sua vida para trás. Família, profissão, costumes. Vi muitas famílias que não se adaptaram em Dubai e escolheram retornar para o Brasil ainda no primeiro ano como expatriados.

Voltar para o Brasil pelo menos para mim, foi muito difícil. Uma sensação de ser estrangeira no seu próprio país . Uma estranheza que me faz pensar na vida que eu tinha, ter saudades dos amigos e do trabalho social que deixei em Dubai.

Quando você vai para uma expatriação tem um ar de novidades, recomeço, vida nova. O retorno é sempre um reencontro com os problemas que um dia foram deixados para trás. A singularidade das conversas, você já não conhece mais os atores da televisão, não sabe das últimas novelas, perdeu muitas notícias do jornal. Teve gente que morreu e nasceu e você não esteve por perto para sorrir ou chorar.

Vejo como um recomeço! Quero dar chance para esse novo ciclo.

IA- Quem sentiu mais a volta ao Brasil? Você, seu marido ou os filhos?

Meu filho mais novo, hoje com 11 anos, foi quem mais sentiu a chegada no Brasil. Levou pouco mais de um ano para se ajustar. Teve algumas crises de ansiedade, dificuldades com as aulas em português, apesar de estar numa escola americana, há obrigatoriedade de se estudar português, história e geografia do Brasil. Após dois anos ele ainda considera que nosso retorno pra Dubai é a melhor decisão.

Miguel, hoje com 17 anos, esta curtindo o Rio de Janeiro e a liberdade carioca, assim como os novos amigos. Eu e meu marido vamos seguindo, como disse focando no presente e buscando olhar para o que ganhamos com a vinda para cá.

IA- Alguma dica pra quem pensa em retornar ao Brasil depois de ser expatriado?

A dica é ter a mesma coragem que um dia te fez sair! É preciso ter uma certa disposição, ou necessidade para voltar e enfrentar todos os problemas de um país, lindo por natureza, mas ainda com tantas limitações. Acho que não há uma receita de bolo, as pessoas são diferentes e as ocasiões diversas. Acredito que muitas expatriadas podem retornar e se sentir muito feliz com isso. Eu estava contente com a nossa vinda, mas me surpreendi com as dificuldades na adaptação, depois de tantos anos fora.

IA- Vontade de morar fora de novo? Nos Emirados ou o olhar vai para outro país?

Nossa saudade, após dois anos, nos levou a Dubai para o Natal com os amigos do coração! Aquela sensação de estar em casa novamente. Areias afetuosas nos mantém conectados. Ainda não sei se fechamos o ciclo, e se é hora de olhar para outro país. Estamos deixando para o Universo essa resposta.

IA- Qual o teu “mantra”, o que te guia pela vida?

Não chega a ser um mantra, mas é algo que eu acredito muito:

“Trabalha, ama, confia! Tudo que chega vem para o meu bem”.

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Picture of Iarema Araújo H.

Iarema Araújo H.

Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é " Vida Linda e Abençoada ! "

4 respostas

  1. Que linda história! A narrativa muito ótima! Voltar para o Brasil e ver a sua família e proporcionar este afeto pessoalmente para os filhos é muito bom! Pena o Brasil de hoje se apresentar na situação que está deve ser difícil compreender.

  2. Pat e Rinaldo,como já disse uma vez, vocês são pessoas maravilhosas, tive o prazer de participar dos estudos em Dubai, qua do voltei senti muita falta e não conseguia me adaptar em nenhum centro, até que um dia tive a notícia maravilhosa que ia ter o estudo on line, está sendo maravilhoso.
    A sua volta ao Brasil tem alguma razão de ser, curta e aproveite as oportunidades. Problemas vão ter em todo lugar. Pode ter certeza que igual Dubai para se viver não existe, para mim lá é meu segundo pais de coração.

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