A Dinamarca está, mais uma vez, entre os países mais felizes do mundo, segundo o Relatório Mundial da Felicidade de 2025, divulgado pela ONU. Esse relatório analisa dados de mais de 150 países, e a Dinamarca ocupa o topo do ranking há anos. Entretanto, o que talvez chame ainda mais atenção é que as crianças dinamarquesas estão entre as mais felizes e emocionalmente equilibradas do planeta.
Como mãe e orientadora parental, não pude deixar de refletir: o que esses pais dinamarqueses fazem de diferente? E o mais importante: o que nós, brasileiros, por outro lado, podemos adaptar à nossa realidade?
A resposta para essa pergunta está, em grande parte, no livro The Danish Way of Parenting (“O jeito dinamarquês de criar filhos”), escrito por Jessica Joelle Alexander e Iben Sandahl. Elas estudaram porque as crianças da Dinamarca crescem confiantes, empáticas e emocionalmente saudáveis — e perceberam que não se trata apenas de sorte ou de políticas públicas, mas de como esses pais educam no dia a dia.

O método P.A.R.E.N.T.- Como funciona com as crianças dinamarquesas
As autoras descrevem seis pilares da educação das crianças dinamarquesas que explicam esse sucesso. Eles são apresentados na sigla PARENT:
- Play (Brincar)
Na Dinamarca, brincar é uma prioridade. Não só nas escolas, mas também em casa. Eu mesma me peguei refletindo sobre quantas vezes questionei o brincar “sem sentido” do meu filho para, então, propor alguma atividade mais “educativa”. Entretanto, o brincar livre é visto como algo essencial, pois estimula a criatividade e a resiliência. Crianças resolvem conflitos, criam regras, testam limites — tudo isso brincando, sem interferência de adultos. - Authenticity (Autenticidade)
Ser verdadeiro com os sentimentos é algo valorizado. Lembro de uma mãe que me contou que sempre tentava “disfarçar” quando estava triste, pois não queria preocupar o filho. Mas na Dinamarca, os pais mostram suas emoções de forma honesta e acolhedora: “Hoje a mamãe está um pouco triste, mas vai passar. Todo mundo se sente assim às vezes.” Isso ensina que sentir algo é seguro e que emoções não são problema, são parte da vida. - Reframing (Reenquadramento)
Esse ponto mudou minha forma de falar com minha filha. Em vez de dizer “foi um desastre” quando ela derramou suco no chão, agora digo: “Foi só um acidente. Isso acontece com todo mundo.” Os dinamarqueses ensinam as crianças a olhar para as situações com mais leveza. Portanto, ajudam as crianças a não se sentirem culpadas ou incapazes por cada erro.
O método P.A.R.E.N.T- continuação
- Empathy (Empatia)
Uma das coisas mais bonitas que ouvi foi de uma mãe dinamarquesa dizendo que ensina o filho a “pensar com o coração do outro”. Na escola, pratico ao ler histórias e perguntar: “Como você acha que esse personagem está se sentindo?” E, dessa forma, pouco a pouco, vejo meus alunos mais atentos aos sentimentos dos outros. - No Ultimatums (Sem Ultimatos)
Esse pilar exige um pouco mais de paciência, confesso. Em vez de dizer “ou você guarda os brinquedos agora ou vai ficar sem TV”, tento convidar com empatia: “Vamos guardar juntos para que a sala fique organizada e a gente possa brincar melhor amanhã?” Pode demorar, mas a cooperação é muito mais genuína. - Togetherness (Convivência)
Esse talvez seja o mais fácil de praticar — e o mais poderoso. Em outras palavras, são momentos simples como tomar um chocolate quente juntos depois do banho, fazer um piquenique improvisado na sala ou jogar um jogo de tabuleiro antes de dormir. Os dinamarqueses chamam isso de hygge — são momentos aconchegantes, intencionais, que criam conexão real. Percebi que, quando esses momentos existem com frequência, os conflitos diminuem naturalmente.

O que diz a ciência da felicidade?
O Relatório Mundial da Felicidade 2025 confirma muito do que o livro defende. Um dos destaques foi o impacto das refeições compartilhadas: famílias que comem juntas são mais felizes. Contudo, pessoas que comem sozinhas com frequência apresentam maior risco de depressão.
Além disso, o relatório também destacou que relações familiares fortes, comportamento empático e convivência frequente são os maiores indicadores de felicidade a longo prazo. Ou seja, não se trata de ter “tudo certo” ou de oferecer o melhor materialmente. O que faz diferença é, sem dúvida, o tempo de qualidade, o afeto, a presença verdadeira.
O que podemos aprender — mesmo fora da Escandinávia?
Primeiramente, a felicidade das crianças na Dinamarca não é mágica. Ela é construída, dia após dia, em cada pequeno gesto de escuta, respeito e presença. E sim, dá pra adaptar isso à nossa realidade.
Você não precisa morar em Copenhague nem seguir à risca cada passo do livro. Mas pode, por exemplo:
- Reservar 10 minutos por dia só para brincar sem interferir nem conduzir;
- Falar sobre seus sentimentos com mais naturalidade na frente dos seus filhos;
- Reenquadrar situações difíceis com mais empatia e menos crítica;
- Criar pequenos rituais de aconchego, como o “momento da história” ou o “café da manhã no dia do aniversário”.
A felicidade não é exclusiva das crianças dinamarquesas
Sendo assim, a felicidade não é um destino mágico reservado a países nórdicos. Ela é, portanto, construída, dia após dia, nas interações mais básicas que temos com as pessoas ao nosso redor — especialmente com nossas crianças. O modelo dinamarquês mostra que, com empatia, autenticidade e convivência, é possível criar filhos mais felizes. Consequentemente, as crianças tornam-se adultos mais equilibrados e sociedades mais saudáveis.
Portanto, talvez o segredo da felicidade não esteja apenas em políticas públicas eficazes ou estabilidade econômica. Talvez ele comece mesmo ao redor da mesa de jantar, em tardes de brincadeira livre, ou num abraço depois de um dia difícil.
Lembre-se você não está sozinho nessa jornada! Mais artigos da autora aqui.
About The Author
Isabella Martins
Ola! Meu nome é Isabella Martins e trabalho como Orientadora parental e como professora de educação infantil em Londres.
Tenho três filhos adolescentes e moro fora do Brasil há dez anos.
Já morei em Londres, Arábia Saudita, Singapura e agora retornei para Londres.
Tenho a oportunidade de conhecer diversas culturas e o
impacto delas na educação dos meus filhos e alunos.
Sou apaixonada por educação e adoro explicar as etapas do desenvolvimento infantil. Faço atendimentos online em Português e Inglês.
Acredito que criar relações de afeto melhoram as dinâmicas familiares e permite que tenhamos um lar onde a base seja o amor entre pais e filhos.
Siga meu Instagram para mais informações: @isabellagmartins03
Vamos juntas?