Minha experiência como expatriada começou há 16 anos, quando saí do Brasil para morar do outro lado do mundo – literalmente! Conselhos e mais conselhos foram dados e tive que aprender, na dura realidade dos primeiros meses, quais eu deveria seguir para poder navegar no desconhecido ao ir morar no exterior.
A Austrália era um sonho adolescente com uma paisagem linda, cangurus, ornitorrincos e coalas. Mas é melhor deixarmos cobras mortais e aranhas venenosas fora da nossa imaginação. Um artigo da revista Viagem e Turismo despertou ainda mais a minha curiosidade. O escritor comentava sobre os australianos: “eles trabalham como os europeus e se divertem como os americanos”, e como eles são descontraídos e práticos – para mim, parecia o lugar perfeito para se viver. Em 2007, finalmente tomei coragem e decidi me mudar.
Houve muita preparação antes da tão sonhada viagem, incluindo todas as etapas básicas: fazer inscrição em um curso de inglês (naquela época, o meu Inglês se resumia em red, yellow, green, one, two, three). Preparar o visto, juntar inúmeros documentos para toda a burocracia envolvida, tomar as vacinas necessárias, planejar como uma vida inteira caberia em duas malas e pesquisar o máximo possível sobre a vida em Melbourne.
Tive a sorte de ter uma grande amiga morando lá, que me acolheu de braços abertos e sob suas asas. Ela me ajudou com acomodação e com meu primeiro emprego, entre muitas outras coisas. Ela foi um anjo, e eu sou eternamente grata pela ajuda que ela me deu. No entanto, deixei de fora um detalhe importante. Devo destacar que ela foi uma “Anja Brasileira” – você entenderá o que eu quero dizer nos próximos parágrafos.
Conselhos ao ir morar fora
Previamente à minha viagem, recebi muito apoio de familiares e amigos. Lágrimas rolaram, abraços e beijos foram recebidos, e muitos conselhos foram dados, todos honestos e sinceros. No entanto, um conselho que recebi de quase todo mundo não condiz com a realidade de morar fora – e eu só percebi isso quando comecei a viver em Melbourne.
O conselho em questão foi: “Evite brasileiros o máximo que puder, só assim você poderá se aprofundar na cultura australiana e aprender inglês”. Essa é a visão da maioria das pessoas que normalmente, nunca moraram no exterior ou apenas visitaram países como turistas, ou moraram fora por um curto período de tempo (geralmente como intercambistas).
A importância de ter amigos brasileiros no exterior
Para quem decidiu viver como expatriada em um país onde não fala o idioma, deixe-me explicar o porquê é tão vital encontrar e ter amigos brasileiros:
- Eles entendem suas dúvidas e angústias de recém-chegada.
- Eles entendem sua cultura e porque você terá altos e baixos nos próximos meses e, às vezes, até nos próximos anos.
- Eles te ajudam… e isso não tem preço:
- Mostram onde encontrar pechinchas. Acredite, isso é muito importante quando você ainda não está trabalhando e convertendo todos os seus reais economizados pela moeda local.
- Fornecem dicas sobre onde ir, o que ver e quais eventos interessantes estão acontecendo na cidade.
- Ensinam como usar o transporte público; indicam os melhores bairros para morar.
- Compartilham com você onde encontrar “comida e guloseimas brasileiras”. Engraçado dizer, mas o que normalmente sentimos falta não é da comida do dia-a-dia, pois isso conseguimos fazer facilmente em casa. O que nos dá água na boca é a coxinha, o pão-de-queijo, a pizza de catupiry!
- Passam informações relevantes sobre vistos e impostos locais.
- Ajudam a encontrar emprego; a ter um senso de comunidade, de pertencimento; e ter uma família longe de casa.
Opiniões, conselhos…O que fazer com eles?
Certamente, a situação de cada um é diferente, e essa é a minha perspectiva com base em experiência pessoal. Até agora, morei em quatro países e essa regra se aplica na maioria das vezes. Atualmente muitas coisas mudaram: a internet ficou mais rápida e barata, temos muita informação na ponta dos dedos e estamos a uma chamada de Whatsapp para qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo.
Mas não importa onde e por quanto tempo você mora no exterior, uma coisa é certa: você sempre terá uma alma brasileira, independente de qualquer outro passaporte que você possua ou venha a possuir. Da mesma forma, não serei hipócrita e dizer que nunca me senti diferente, de alguma forma como “meio-a-meio”. Afinal, muitas vezes me sinto “meia-brasileira – meia-naturalidade do país em que vivo”. Acredito que me tornei uma nova cidadã: uma expatriada. Ou melhor, vou corrigir o que acabei de escrever: eu me tornei uma brasileira expatriada.
Para você, leitora, caso pretenda morar no exterior, não se preocupe em evitar a todo custo os brasileiros. Conheça e inclua em sua vida as pessoas e a cultura do novo país, aprenda com eles e se adapte a um novo estilo de vida, mas não descarte brasileiros que vieram antes de você e estão dispostos a te ajudar no que precisar. Como diz o título deste artigo… Por favor, siga meu conselho com cautela. 😉
Paulistana, leonina, curiosa, expatriada e sempre em busca de novos aprendizados e novas aventuras. Após muitos anos vivendo em diferentes países (Austrália, Estados Unidos, Suíça e Alemanha) e com experiência profissional na área de Recursos Humanos, decidi fundar EXPAT ANIMA para ajudar aqueles que decidem morar longe de casa a atingir o potencial profissional no exterior.
Respostas de 2
Visão perfeita! Concordo totalmente! Se apoie em novos amigos, incluindo os brasileiros. Vai ajudar muito na sua adaptação!
Concordo com esta visão. Morar fora do Brasil abre a cabeça e as vezes é também muito assustador e um caminho solitário. As pessoas com quem se cultivam bom relacionamento são os que te apoiarão nesta caminhada.