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Portugal: falamos ou não a mesma língua?

Última atualização do post:

Portugal: afinal falamos a mesma língua?

Não, eu não falo “brasileiro”. Uma reflexão de uma aluna brasileira de Comunicação em Portugal.

Se você é brasileira e vive em Portugal, com certeza já deve ter ouvido de um português que você não fala português, que “fala brasileiro”. Mas como assim nós não falamos a mesma língua?!

Muitos brasileiros se deparam com esse preconceito linguístico quando vêm para Portugal. Achamos que a língua é igual à nossa e que é fácil se comunicar. Mas não é bem assim.

Vamos começar do início

Quando eu era criança, a minha matéria preferida na escola era Língua Portuguesa. Amava escrever redações, ler bons livros e falar bonito. Adorava a diversidade linguística que via em Brasília com pessoas de sotaques mineiros, piauienses, paulistas, e claro, o meu próprio sotaque brasiliense. A língua era uma coisa viva e a diversidade devia ser celebrada.

Quando vim para Portugal estudar Comunicação, descobri que o que eu conhecia e amava como Língua Portuguesa, aqui não existia.

Bem-vinda à Portugal, menina

Eu nunca tinha tido muito contato com o Português europeu antes de vir morar em Portugal. Quando cheguei para fazer a minha faculdade, tive bastante dificuldade para entender o que os portugueses diziam. Além de falarem muito rápido e enrolado, tinham expressões que eu não conhecia o significado. Com o tempo e o contato com amigos portugueses, comecei a entender mais facilmente a língua e os seus detalhes.

Eu não falo Brasileiro

Ter feito um curso de Comunicação com 90% dos professores portugueses foi no mínimo desafiador. Embora seja contra a política da universidade corrigir os alunos para que falem “português e não brasileiro”, com certeza é possível sentir o desagrado ou a insatisfação de alguns professores que consideram o português de Portugal o correto.

Imagem retirada do site: https://unsplash.com/

Alguns nem aceitavam o acordo ortográfico da língua portuguesa. Ao final de cada redação no curso, eu tinha que ressaltar que o “Texto foi escrito em português do Brasil”. Caso contrário, os professores podiam corrigir a minha escrita para o que consideravam o português correto.

Houve até um professor que indicou um livro em inglês para a turma porque a única versão em português era em “brasileiro”. Como se fosse péssimo para os alunos lerem um material acadêmico em uma “versão inferior”.

Eu só sabia de uma coisa: eu nunca iria mudar o meu português para me adequar às regras de quem não respeita o meu Brasil.

A língua conta uma história

Para entendermos a língua de um povo, temos que estudar também a sua história. Portugal manteve por mais um século algumas colônias na África, o que faz com que hoje eles tenham algumas expressões de origens africanas que no Brasil não existem. Durante grande parte do século XX o país esteve em ditadura e teve altíssimos índices de
analfabetismo. E assim como no Brasil, Portugal também tem diferentes sotaques para cada região do país.

A fome, as guerras e a história de Portugal contribuíram para a formação do povo e da língua que existem hoje. Se não tentarmos entender isso, não vamos aprender a respeitar a língua.

Fazer as pazes com a língua

O preconceito linguístico é real. A diversidade linguística é muitas vezes apenas tolerada de mau grado. Mas e daí? Vamos nos deixar abalar por gente ruim? E outra coisa, não é todo português que faz isso.

Desde o início do meu curso eu namorei com um português que, após o término da faculdade, se tornou meu marido. A diferença entre as nossas línguas nunca foi um problema, e sim um motivo de conversa e risos. Tanto eu quanto ele adotamos algumas expressões linguísticas um do outro: eu falo muito “pois”, ele fala muito “véi”. É uma bela salada.

Imagem retirada do site: https://unsplash.com/

Nós acolhemos a cultura um do outro e, dessa forma, seguimos em harmonia com as nossas diferenças e nunca deixamos de honrar a nossa própria nação.

Durante a minha faculdade, eu conheci portugueses que respeitavam a minha herança linguística e nos tornamos grandes amigos. Claro que há gente chata e intolerante com o nosso povo e com a nossa língua, mas não podemos deixar que eles nos impeçam de viver a vida!

A língua é viva

A língua portuguesa é viva e vasta, ainda mais do que eu sabia quando era criança. São vários os países no mundo que falam a nossa língua, em continentes diferentes, com histórias, religiões, culturas únicas. É preciso respeitar o sotaque do paraibano em São Paulo. É preciso respeitar o sotaque do brasileiro em Portugal. Afinal, falamos a mesma língua em versões diferentes.

A língua é como se fosse uma família. Podemos não adorar todos os primos, mas há sempre lugares para eles na mesa.

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Letícia Melo

Letícia Melo é uma redatora e gestora de conteúdo que em 2017 trocou Brasília por Portugal. Formada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Algarve e pós-graduanda em Saúde Mental pela PUC Minas, ela escreve sobre viagem e imigração e seus desafios. Leia seus trabalhos publicados em sites como o Diário de uma Expatriada, Euro Dicas, Viv Europe e muito mais.

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