Para um imigrante brasileiro, a vida no exterior é uma mistura peculiar de descoberta e nostalgia, mas a saudade do Brasil, sentimento e palavra tão singulares em nossa língua, torna-se uma constante. É, assim, como um acessório que carregamos o tempo inteiro, como uma música de fundo que toca baixinho durante os dias. Alguns momentos despertam esse sentimento de forma tão inesperada, que é como esbarrar em uma esquina emocional. De um cheiro familiar a uma gíria ouvida ao acaso, esses gatilhos da saudade revelam que, não importa a distância, a gente sai do Brasil mas ele nunca sai da gente. E, verdade seja dita, a situação é mais forte quando vivemos em um país latino americano cheio de semelhanças com a pátria canarinho, como é o caso do México. Para conhecer mais desse país, te convido a clicar aqui.

Cheiros que teletransportam
Por certo, o cheiro seja talvez o gatilho mais traiçoeiro. Um dia, você está calmamente andando pela rua quando de repente um aroma de pão saindo do forno invade suas narinas. Imediatamente sua mente viaja para a padaria da esquina onde você cresceu, com filas no domingo de manhã. Mas o “golpe” não para por aí: um cheiro de café coado pode transportá-lo para a cozinha da sua avó, onde cada manhã começava com aquele ritual simples e perfeito. É nesses momentos que você percebe que o nariz tem uma memória afetiva poderosa.
O poder das músicas aleatórias
Nunca vou esquecer quando eu estava no supermercado e, de repente, toca “Aquarela Brasileira”. Tá certo que às vezes aqui no México as pessoas têm a gentileza de colocar música brasileira quando percebe que tem um brasileiro no lugar. Mas quem poderia ter colocado essa música em um hipermercado lotado? Comecei a chorar compulsivamente, e meu filho começou a gritar “mamãe, tá chorando!”… já seria covardia!” Tem como não lembrar do Brasil escutando Roberto? Nessas horas a gente percebe que as músicas brasileiras têm um poder quase sobrenatural de arrancar lágrimas ou sorrisos, principalmente pelo nosso belo idioma e ritmo sem igual. Atualmente o que está “bombando” nas paradas internacionais é a Anitta, e eu particularmente amo, já que sou fã da nossa “girl from Rio”.
Comida: um gatilho poderoso pra sentir saudade do Brasil
Gente, eu sou de Belém. Como não ser chata com comida ou exigente, se eu fui criada com essa culinária tão única? E como não morrer de saudade da comida da minha terra? Nenhuma conversa sobre a saudade estaria completa sem mencionar a comida. Você pode até encontrar feijão e arroz em qualquer lugar do mundo, mas eles nunca têm exatamente o mesmo gosto. A busca por ingredientes exóticos para recriar pratos brasileiros vira uma saga: a farinha de mandioca para a farofa, o cuscuz, o açaí! E a cada ida ao Brasil, a gente volta pagando excesso por que se engorda no mínimo 5 kilos!

Conversas que despertam a saudade
Um simples “Oi, tudo bem?” pode ser um gatilho, especialmente quando dito com aquele sotaque brasileiro cheio de entonações únicas. As conversas com outros brasileiros no exterior têm um sabor especial, como se, por um instante, você estivesse em casa. Gírias como “é osso”, “suave” ou “nossa, que viagem” surgem naturalmente, criando um elo imediato. Mas também há os momentos em que você tenta explicar para seus amigos locais a profundidade de palavras como “saudade” e eles apenas acenam com a cabeça, sem realmente compreender. É nessas horas que você percebe que alguns sentimentos não podem ser traduzidos
Paisagens que falam ao coração
Até mesmo as paisagens podem ser gatilhos para a saudade do nosso Brasil. Você pode estar admirando os alpes suíços ou o Grand Canyon, mas é só ver uma palmeira ou ouvir o barulho das ondas para sentir aquele aperto no peito. Não que as paisagens estrangeiras não sejam deslumbrantes, mas nenhuma delas substitui a vista de uma praia brasileira ao pôr do sol, com o vendedor de mate passando, e crianças correndo descalças. É uma saudade que não dói, mas aquece, lembrando que, onde quer que você vá, parte de você sempre pertencerá ao lugar onde cresceu. Leiam mais sobre como por vezes acabamos nos lembrando do Brasil por alguma característica do país para onde nos mudamos, clicando aqui.
Saudade do Brasil: companhia permanente
No fim das contas, a saudade deixa de ser apenas um sentimento passageiro e se torna uma companheira permanente. Ela é como aquela amiga que às vezes aparece sem avisar, mas sempre traz lembranças preciosas consigo. Esses gatilhos não são apenas lembretes do que foi deixado para trás, mas também evidências (sim, como a música) do quanto o Brasil faz parte da identidade do imigrante. E se sentir saudade é o preço de ter raízes tão profundas e memórias tão ricas, então talvez seja uma troca justa. Afinal, é por meio dessas saudades que a gente nunca deixa de se sentir, no fundo, em casa.