Este pensamento me vem de vez em quando à mente quando me vejo de longe, quando ouço outras histórias de expatriados tentando se adaptar. Será que ser expatriado é como reencarnar?
Você já pensou que quando chega em um novo país, você perde a sua identidade? Na realidade, você não é mais você, claro que ainda tem a mesma personalidade, mas aos olhos da sociedade, você transformou sua condição prévia para ser somente expatriado, estrangeiro.
Eu penso que esta frase explica esplendidamente a sensação que sentimos, pelo menos nos primeiros anos. Se você veio para outro país por causa do seu companheiro/a, por causa de um novo emprego, você está diante de uma vida totalmente diferente.
Você não tem mais a sua família como apoio, em muitos casos você não sabe a língua, você não pode trabalhar, não sabe sobre a comida, sobre os lugares e ainda não tem amigos. Assim, tudo se apresenta num cenário completamente estranho.
Ser expatriado é como reencarnar! Esta frase foi dita por uma brasileira youtuber que mora no Canadá sobre tudo que ela teve que mudar para se adaptar à nova vida. Esta é uma daquelas frases que nunca se esquece.
Você não é mais professor/a, advogado/a, enfermeiro/a, psicólogo/a, jornalista… Mesmo que você diga que esta é a sua profissão, na verdade, está ERA a sua profissão quando você morava e trabalhava no seu país.
E de repente, estamos recomeçando…
Na realidade, você precisa começar novamente, como um bebê, passo por passo. Você precisa aprender a falar a língua local. Se você tiver a sorte de mudar para um país de língua inglesa e já saber falar a língua, você pode pular para o próximo passo que é reconhecer a sua profissão, mas isto também é um processo longo.
Se você for “sortuda/o” como eu que tiver que encarar a língua finlandesa e após o árabe ou, quem sabe o chinês, russo, coreano, ou uma das mais difíceis, o polonês, o processo será longo!!
Mas quando a língua do país é muito difícil, muito diferente do português, você tem duas alternativas: você pode tentar estudar e aprender ou você tenta viver o seu dia-a-dia tentando se comunicar em inglês. Neste último caso, você estará adiando a sua adaptação ao novo país.
Sem menciona o fato de como este país recebe os estrangeiros e como é a sua política de adaptação, por exemplo em relação a cursos de línguas ou programas para recém chegados. Outro aspecto importante é o mercado de trabalho e como esse absorve a mão de obra estrangeira.
As fases de adaptação
Desta maneira, se você consegue aprender a língua, talvez começar um novo curso ou mesmo, terminar o curso iniciado no seu país, você aos poucos vai conseguindo a sua vida de volta.
Mas, de qualquer forma, nunca será a mesma vida que você tinha no seu país, você é agora outra pessoa. Pode-se passar alguns anos neste processo de adaptação e finalmente, você renasce! Neste processo você vai considerando todas as chances de adaptação, procurando encontrar o seu papel novamente na sociedade e sentir-se útil.
Na minha jornada, eu vi muitos e muitos amigos mudarem de profissão, começando a fazer algo completamente diferente da profissão original, mas isto faz parte do nosso crescimento enquanto indivíduos.
No pior dos casos, você se encontra num país de língua e adaptação difíceis, com uma cultura muito diferente e, talvez, um clima muito diferente. Neste caso, o recomeço pode se apresentar bem desafiador e você se transforma simplesmente em mãe ou esposa (nada de errado), mas pode ser muito menos do que você planejou para a sua vida.
Leia mais aqui sobre expatriação.
Diferentes expatriações
Talvez você fique esperando a hora de voltar, se o companheiro/a estiver sob contrato. Ou ainda, você vive se mudando, trocando as raízes por experiências e nunca se sentindo em casa. Mas cada caso naturalmente tem suas especificidades.
Se você veio para trabalhar em outro país, o seu processo será muito mais fácil. Claro que o processo de adatação é inevitável, mas será mais ameno. Apesar de tudo, você ainda mantém a sua identidade profissional. Você continuará trabalhando em sua área e ganhando experiência.
Eu por exemplo posso dizer que renasci duas vezes, primeiro quando mudei para a Finlândia e depois, quando mudamos para a Arábia Saudita. Quando eu comparo estes dois países eu posso ver a diferença entre a vida de expatriado num e em outro.
Encarando de frente as mudanças
Claro que temos que considerar que as mudanças acontecem de qualquer forma. Você muda com a idade, com os desafios, pessoas e lugares que conhece, empregos, experiências em geral.
No entanto, ser expatriado é experimentar tudo isto em uma carga incrivelmente mais intensa, porque é rápido e de repente você se depara com a nova situação. Momentos de depressão, sentimento de incompletude, longe das suas raízes, família, amigos, língua, tudo que era conhecido…são sentimentos que permeiam a realidade de um expatriado de vez em quando.
Este, definitivamente não é um processo fácil e cada experiencia acontece de maneira diferente. Eu conheço histórias e histórias, pessoas felizes e pessoas ainda tentando encontrar um caminho.
Mas, no final a experiência sempre vale. O melhor conselho que posso dar, é tentar sempre ver o lado positivo, tentar aprender sobre a cultura do país e aproveitar os bons momentos. Realmente ser expatriado é como reencarnar.
Gaúcha, formada em Pedagogia e História no Brasil, pós graduada em psicopedagogia pela faculdade de Helsinki. Na Finlândia tem atuado como professora de português e consultora educacional. Atualmente trabalha na Escola Europeia de Helsinki. Administradora do site e canal Projeto Finlândia – Educação.
Uma resposta
Olá, Evelyse, parabéns pelo seu trabalho. Você mora na Arábia Saudita agora? Como é a educação na Arábia Saudita?