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A importância da terapia para as expatriadas

Última atualização do post:

terapia para as expatriadas
Debora com seus filhos - arquivo pessoal

Fiquei muito feliz quando fui convidada a conversar com vocês, seguidoras do Diário de uma Expatriada, pois falar de expatriação e dos efeitos psicológicos que dificultam o processo de adaptação é o que eu amo fazer e o meu trabalho hoje em dia.

Eu já fui expatriada entre 2017 e 2019. Morei numa cidadezinha chamado Johns Creek, perto de Atlanta, na Geórgia. Eu fui a típica esposa expatriada, nunca tive desejo de morar fora, morri de medo quando meu marido recebeu a proposta de trabalhar nos EUA e fui convencida por ele que seria a nossa oportunidade, então embarquei no sonho dele e fomos.

Misto de curiosidade e vontade de voar

Eu me formei em psicologia, trabalhava no consultório e em uma escola, na época. Estava terminando a minha pós em Arteterapia e com muitos planos para a minha carreira. Nossos filhos tinham: Pedro com 9 anos e a Liz de 4 anos.

Quando veio a notícia eu sofri um misto de curiosidade e vontade de voar, mas muita resistência e medo do que seria o novo.

Mas depois de muito chororô e sessões de terapia, resolvi que seria uma oportunidade para nossa família.

Desembarcamos em 4 de julho de 2017 e tudo foi festa no começo. Vivi com a sensação de turista no primeiro mês. A ficha não caía. A gente resolvia todas as questões práticas, tipo: arrumar uma casa para morar, comprar móveis, carro, conta no banco, colocar criança na escola, etc, mas não tinha o sentimento de pertencer aquele lugar.

Eu entrei no modo mulher tarefeira, só resolvendo problemas, mas sem pensar muito no que estava acontecendo. Fui me afastando de mim e quando percebi, estava sendo dona de casa e mãe em tempo integral.

terapia para as expatriadas
Debora com sua filha – arquivo pessoal

Emocionalmente eu estava morrendo por dentro

Um belo dia me vi irritada, brigando frequentemente com meus filhos, culpando meu marido daquela vida medíocre que eu tinha, não falava inglês, então não conseguia me virar sozinha, não tinha carro e passava a maior parte do dia trancada em casa. Tentei manter o contato com minha família, mas como poderia dizer para eles que não estava gostando?

Era um sonho tudo aquilo que estava vivendo!

 Muitas pessoas queriam estar no meu lugar.

“Eu estava vivendo o sonho americano”.

Racionalmente eu sabia que iria proporcionar um futuro melhor para todos nós aquela situação, mas emocionalmente eu estava morrendo por dentro. Não me reconhecia mais, tinha perdido a minha profissão, tinha jogado fora anos de estudo, não tinha com quem conversar, estava presa em casa fazendo tarefas automáticas que não exigiam nenhum desafio de mim, estava me sentindo só, muito só, presa dentro dos meus pensamentos e perdida quanto ao que seria da minha vida no futuro. O medo era acabar meus dias vendo meu marido cada vez mais feliz com o sonho dele realizado, me deixando para trás porque não tinha nem o que conversar, pois ele chegava cheio de novidades e eu repetia irritadíssima as minhas tarefas do dia e sempre as mesmas.

Os lutos que vivemos nessa mudança

O psicólogo Joseba Achotegui se dedicou a estudar a saúde mental dos imigrantes e seus adoecimentos no processo imigratório. Escreveu e descreveu 7 lutos que vivemos nessa mudança. São eles:

  • Da família e dos entes queridos
  • Da língua
  • Do risco para sua integridade física
  • Luto da terra
  • Do status social
  • Do contato com o grupo de pertencimento
  • Da cultura.

Todos nós que imigramos passamos por esses lutos, mas cada um da sua forma e da sua maneira.

O processo de luto passa por algumas fases como: negação, ira, depressão, negociação e aceitação. A questão na expatriação é que praticamente você passa por um processo de luto 7 vezes mais intensa, pois você deixa uma vida no Brasil e começa uma novinha em outro canto do mundo.

É necessário um longo período para ajustar quem era você antes, quem é você agora e quem será você depois.

Fazendo uma analogia, é como se pegassem você e chacoalhassem tudo dentro. Quanto tempo levará para você colocar tudo no lugar?

Só que para arrumar você precisa separar, classificar, ver o que vai guardar, o que vai jogar fora, até ir arrumando a casa aos poucos.

Processo de migração

O processo de migração pode ser longo e ele afeta dois pontos muito importantes dentro da gente: a sua identidade e a sua autoestima.

Eu costumo dizer que é praticamente nascer de novo. Você terá que aprender a andar de novo, falar, fazer amizades, aprender a se relacionar de uma maneira diferente, entender as regras e cultura daquele lugar, enfim você sai de um lugar conhecido, onde você está acostumado e que você viveu a vida toda, pega um avião e em algumas horas, você já não reconhece mais nada, não sabe o que fazer e nem como. Tudo o que estava no lugar, não está mais.

Como é o processo terapêutico

O psicólogo pode ser um parceiro fundamental para essa adaptação e a descoberta da sua nova identidade. No processo terapêutico você irá entender a confusão que está dentro de você, terá apoio nos momentos difíceis, não estará sozinha para descobrir e identificar as suas emoções e pensamentos que estão te ajudando ou te atrapalhando, terá ajuda para refletir e enxergar os pontos cegos, estará num espaço seguro e sem julgamento para falar dos seus sentimentos, terá a oportunidade de se conectar com você de novo, estabelecerá novos rumos e metas para sua vida de maneira mais consciente, as escolhas serão mais assertivas, enfim são inúmeros os ganhos quando se faz terapia.

Esse é o processo de autoconhecimento mais intenso que você poderá passar e sem autoconhecimento o caminho fica mais difícil.

A expatriação sem terapia é como ir para um novo lugar sem o GPS. Você pode até chegar, mas o percurso será tumultuado.

Como a terapia poderá te ajudar de fato

Quando você identifica o que está te impedindo de voar, quais seus medos e suas inseguranças, quando você se conhece, fica mais fácil de tomar decisões baseadas no que você realmente quer e não no que a vida está te obrigando a fazer.

A terapia portanto irá te ajudar a reconstruir a sua identidade, te dará autoconfiança e consequentemente você terá uma autoestima mais forte para enfrentar os desafios que não acabarão nos primeiros anos de expatriação.

No meu processo de expatriação mesmo sendo psicóloga, passei por todos esses lutos e pela montanha russa de sentimentos que fazem parte da imigração. E mesmo fazendo terapia, foi difícil virar a chave e sair do lugar de resistência. Então ter alguém comigo me dando força e motivação, acolhendo os meus medos e me ajudando a refletir foi o que me ajudou a sair de coadjuvante para protagonista da minha vida.

Hoje atendendo expatriadas, vejo os efeitos positivos que a terapia faz na vida delas. E você aí, já experimentou fazer terapia? Você me encontra no meu perfil no Instagram: @deborahgarciapsii.

terapia para as expatriadas
Psicóloga Debora – arquivo pessoal

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Picture of Deborah Garcia

Deborah Garcia

Deborah é psicóloga formada há mais de 20 anos em Arte terapia. Mãe do Pedro e da Liz, libriana, amante da natureza e apaixonada pelo seu trabalho. Atualmente mora em Minas Gerais. Hoje trabalha ajudando mulheres expatriadas no seu processo de mudança e adaptação do seu novo país.

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