Em junho deste ano fará três anos que me tornei uma viúva expatriada em Londres, e eu quero dividir com vocês a minha experiência. Serão dois textos, o primeiro contando a nossa história pessoal e o segundo trazendo informações e dicas sobre como proceder em caso de morte de expatriados na Inglaterra.
A morte não pede licença
A morte é a única certeza da vida. Mesmo assim, a maioria de nós não se prepara para ela. E, além disso, quando alguém diz que tem plano funerário, que já comprou o jazigo, tendemos a achar estranho, mórbido até. Preferimos “esquecer” que ela pode chegar quando e onde quiser.
Eu sempre tive uma visão muito espiritualizada sobre o assunto. Como cristã católica, acredito que a morte é a passagem do plano físico para o espiritual. Somos criaturas e, como tal, nossa natureza é transitória. Ou seja, nosso corpo precisa morrer para que nossa alma possa “voltar para casa”, ou seja, ir para o céu.
Mas, enterrar o amor da minha vida, o homem para o qual eu disse sim no altar, com o qual eu contava para educar nosso filho, que batia no peito e dizia “deixa comigo”, a pessoa com quem eu dividi absolutamente tudo durante quinze anos, bagunçou todas as minhas crenças, pôs em xeque muitas certezas e, o pior, não me ofereceu nada em troca.
Meu príncipe de olhos azuis
Eu estava com 26 anos, tinha um bom emprego, uma família que me apoiava e bons amigos. Mas o fato de meu namoro mais longo ter durado apenas dois meses era algo que me incomodava muito. Eu não conseguia entender porque meus relacionamentos não se tornavam sérios, não evoluiam. Até eu conhecer o Claudio no início de 2003.
Aqueles olhos brilhantes me transmitiram tanta confiança que, mesmo não acreditando em amor à primeira vista, eu tive certeza de ter encontrado o meu príncipe de olhos azuis. É claro que o fato de nossas mães serem amigas de longa data, de termos nascido no mesmo lugar e conhecermos as mesmas pessoas, facilitou muito o nosso primeiro encontro.
E mesmo nossas diferenças, que não eram poucas, se tornaram motivo de curiosidade e admiração. Ele era o menino da roça que saiu da casa dos pais para cumprir o serviço militar, terminou o estudo fundamental depois de adulto e teve o coração partido algumas vezes. Sonhava em se casar, ter filhos, construir família e patrimônio.
Eu sempre fui estudiosa, porém baladeira. Fiz faculdade de turismo, viajei os quatro cantos do país, dividi casa com amigas e gastava mais do que ganhava. Sonhava em conhecer o mundo e nunca pensei em ser mãe.
Mas, como cantava o poeta Renato Russo na música Eduardo e Mônica:
"E mesmo com tudo diferente, veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia, como tinha de ser"
Ele me pediu em namoro no nosso terceiro encontro. Em março de 2005 nós nos casamos e em novembro do mesmo ano nosso filho nasceu. Para quem vivia reclamando que não tinha sorte no amor, a vida me provou que é cheia de surpresas. Algumas agradáveis, outras nem tanto.
Viúva expatriada em Londres
Em junho de 2016 nós nos tornamos expatriados em Londres com um propósito muito claro: trabalhar dez anos, investir no Brasil e voltar para o nosso país. Apesar das dificuldades com a língua e o clima, nos adaptamos rapidamente e tudo indicava que nosso objetivo seria alcançado antes do prazo estabelecido. Mas, como eu já disse, a única certeza na vida, é a morte. E ela nos visitou na tarde cinzenta do dia 4 de junho de 2018, após um final de semana repleto de alegrias.
O que começou com os sintomas de uma gripe comum no sábado à noite, culminou em um ataque cardíaco fulminante na segunda-feira. Não houve tempo para despedidas. Em menos de uma hora eu passei de esposa de cidadão europeu para viúva expatriada em Londres, com um filho adolescente para criar e nenhuma ideia de como seguir em frente.
Graças à rede de apoio que tínhamos em Londres (e ainda tenho), algumas coisas foram resolvidas rapidamente. Outras, no entanto, não depediam apenas da boa vontade dos amigos ou do meu querer.
Enterrar/cremar aqui ou levar o corpo para o Brasil?
Na maioria dos casos as famílias optam por repatriar o corpo do ente querido. E foi isso que eu fiz, afinal a mãe dele tinha o direito de se despedir do filho. Foi uma decisão fácil de se tomar, mas que gerou uma preocupação com a qual eu não tinha condições de lidar naquele momento. Como iria pagar as despesas do processo de repatriação?
A resposta para esta, e várias outras questões, vocês encontrarão no meu próximo artigo que será a segunda parte dessa história. Confere lá!
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Sou paranaense, expatriada em Londres desde 2016. Bahcarel em Turismo por formacão, administradora de profissão e escritora por amor. Apaixonada por livros, viagens, fotografia, artesanato, jardinagem e camping. Mãe orgulhosa de um adolescente e namorada de um verdadeiro lord inglês, com quem estou descobrindo a ilha da Rainha. Para acompanhar minhas aventuras pela Inglaterra me sigam no Instagram.
Respostas de 3
Excelente texto Bel
Obrigada 😉