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“A Hora do Conto em Dubai” Entrevista com Magaly Quadros

Última atualização do post:

A hora do conto em Dubai
Magaly e sua filha Ana - arquivo pessoal

A “Hora do Conto em Dubai” surgiu e cresceu naturalmente. Motivados pelo desejo de manter as conexões culturais das crianças brasileiras expatriadas nos Emirados Árabes com o Brasil, pais e educadores se uniram para criar esse projeto que através da leitura, jogos e brincadeiras estabeleceu essa linda ponte !

Magaly Quadros, a nossa entrevistada de hoje, educadora por formação e amor, “arregaçou as mangas” e desde a sala da sua casa desenvolveu esse belo trabalho com o propósito de ser mais uma ferramenta na manutenção da língua de herança para as familias brasileiras.

As atividades envolvem todas as áreas da nossa cultura, já que “o projeto acredita que a conexão com as raízes é essencial para a formação saudável da identidade dessas crianças”.

“A Hora do Conto em Dubai”, segundo Magaly, é uma oportunidade para que “o conhecimento das origens ajude as crianças a entenderem melhor quem são e, consequentemente, facilita a descoberta do que querem ser”. Para os pais também existe um ganho, eles “se mantêm conectados aos filhos por laços que são invisíveis aos olhos, mas perceptíveis ao coração”.

Boa leitura a todos! Feliz Dia da Criança!

IA- Magaly, poderia nos contar um pouco sobre você?

A Hora do conto em Dubai
Magaly e a filha Ana em 2011 e 2018. As primeiras reuniões eram em casa. Arquivo pessoal

Claro. Meu nome é Magaly Quadros, sou casada e tenho uma filha. Nasci e cresci em São Paulo, lugar em que tenho minhas raízes. Eu me formei no magistério e me graduei em Letras. Trabalhei muitos anos como professora no Ensino Fundamental I, depois no Fundamental II e Ensino Médio. Gosto de dar aulas e de estar inserida em ambiente escolar.

IA- Quando e quais os motivos fizeram de você uma mulher expatriada?

Meu marido recebeu uma proposta da empresa em que trabalhava e, por isso, fomos transferidos pra Dubai. A mudança ocorreu em 2007, quando nossa filha tinha cinco anos. A experiência sempre foi muito desafiadora, mas também tem trazido muitas alegrias pra nossa família.

IA- Nos Emirados Árabes surge a ideia da “Hora do Conto em Dubai’, qual a motivação que o origina e o propósito da sua criação?

Na verdade, o projeto “A Hora do Conto em Dubai”, como é hoje, não surgiu de forma planejada – ele foi sendo construído a partir das experiências e aprendizados com a minha filha e com os filhos de outros brasileiros que, como eu, sentiam a necessidade de oferecer a eles um pouquinho das nossas origens. Tudo começou de maneira informal, sem nenhuma pretensão de ser um projeto. Depois de quase dois anos morando em Dubai, senti a necessidade de fortalecer o aprendizado do português com minha filha. Intensifiquei o uso da língua com leituras, músicas e programas infantis. A identificação dela foi imediata, a ponto de pedir para chamar outras crianças brasileiras conhecidas para participarem. E assim começou. Todos que tomavam conhecimento do projeto comentavam com os seus amigos. O boca-a-boca foi crescendo até que a minha casa não foi mais suficiente para acomodar tantas crianças.

Sempre com a ajuda e colaboração das mães, dos pais e também de outros profissionais da comunidade que se voluntariavam, íamos, pouco a pouco, buscando mais espaço e sendo estimulados a criar, planejar e segmentar o grupo de acordo com um projeto pedagógico. Conseguimos parcerias para o uso de salas e espaços de lazer em escolas da região, além do apoio institucional da Embaixada Brasileira.

A essa altura já éramos reconhecidos como “A Hora do Conto em Dubai”, um grupo formado por educadores e pais com o objetivo de promover a língua e a cultura brasileira nos Emirados Árabes. O trabalho que nasceu para a minha filha já atendeu mais de 300 brasileirinhos! Ainda estamos evoluindo, buscando sempre novas formas de aproximar as crianças da nossa língua, da nossa história e da nossa cultura. Nosso projeto acredita que a conexão com as raízes é essencial para a formação saudável da identidade dessas crianças.

O projeto sempre foi uma organização sem fins lucrativos, mantido apenas com o apoio dos pais e de voluntários, além de parcerias com escolas e troca de conhecimento com instituições internacionais, ligadas ao ensino do Português como língua de herança (POLH), como o Elo Europeu de Educadores de Português como Língua de Herança, que abrange iniciativas em mais de 45 países (https://eloeuropeu.org) e A Mala de Herança que promove o ensino do POLH através da leitura

A hora do conto em Dubai
Primeiro encontro em escola de Dubai. Inicio de parcerias. Arquivo pessoal

IA- Poderia nos contar sobre as alegrias e os desafios que “A Hora do Conto em Dubai” enfrentou? Valeu a pena?

As alegrias são enormes: conquistar a confiança das famílias para juntos transmitirmos nossas raízes para nossos filhos é uma delas. Perceber a alegria dos pais quando reconhecem, no comportamento dos filhos, traços que marcaram suas próprias infâncias é muito gratificante.

E por outro lado, o envolvimento dos pais é percebido pelas crianças, que participam e se envolvem de forma entusiasmada nas atividades. Nada é mais gratificante!

Já os desafios, eles também estão sempre presentes. Desde o início, percebemos uma característica comum nas crianças que vivem fora do Brasil: suas referências da língua portuguesa baseiam-se, quase sempre, na experiência vivenciada em casa, transmitida pelos pais; isso faz com que as crianças tenham níveis distintos de proficiência. E foi justamente para tentar organizar esse aprendizado que busquei entender melhor os estudos da língua como língua materna – “mother tongue”. Assim, tenho buscado técnicas para auxiliar o aprimoramento da relação dos brasileirinhos com sua língua de origem.

Até bem pouco tempo atrás, pensávamos que o maior desafio, por estarmos em Dubai e mesmo nos Emirados Árabes Unidos, seria ter um espaço próprio para desenvolver o projeto. Hoje, após a pandemia, entendemos que o desafio é o retorno aos encontros presenciais, tão importantes para vivenciar momentos em grupo, trocando experiências e percebendo que existem outras crianças da mesma origem que elas.

Mesmo assim, o projeto está pronto para recomeçar assim que possível, e muito felizes em perceber que as famílias estão nos apoiando e torcendo por nossa volta.

IA- Como foi a receptividade da comunidade brasileira e em especial das crianças?

Acho que um pouco da resposta a essa pergunta está embutida nas respostas anteriores. O que é importante ressaltar é que muitas crianças passaram pelo projeto nesses 12 anos e hoje não estão mais, seja porque já chegaram à adolescência, seja porque saíram de Dubai ou mesmo porque as famílias não se identificaram com a proposta.

Aprendemos que a receptividade está ligada diretamente às escolhas da família sobre a importância ou não da língua materna para seus filhos. O projeto funciona como uma ferramenta para as famílias, caso tenha escolhido manter os vínculos com a cultura do seu país de origem.

Dessa forma, podemos dizer que a receptividade das famílias e das crianças ao projeto se dá pelo seu engajamento com a língua e cultura brasileiras. E isso demanda esforço, persistência e muita dedicação por parte das famílias.

Escola onde os encontros aconteciam, antes da pandemia. Festa de final de ano letivo com a apresentação de uma historia contada. Arquivo pessoal.

IA- A “Hora do Conto em Dubai” está organizada de que forma? Existe uma equipe suporte? Como são os encontros?

Como já disse, o projeto é uma organização sem fins lucrativos, temos uma administração compartilhada. Atuo como líder do grupo e conto, hoje, com a parceria de duas professoras e uma mãe voluntárias- Ione Melo, Alda Nunes Diniz e Graicy Silva, respectivamente. Temos o suporte da Associações de Educadores de POLH da Europa, escolas, além de contamos com as habilidades de pais dedicados que sempre participam e contribuem com o projeto na sua área de competência (músicos, designers, videomakers, artistas etc).

Antes da pandemia os encontros aconteciam em salas cedidas pela Escola Gems World Academy, em Al Barsha, todas as 5as feiras, das 16h30min. às 18h. As crianças eram agrupadas por faixa etária, e o tempo era balanceado sempre entre atividades lúdicas, informativas e interativas.

IA- Quais os benefícios para a criança brasileira ao estar em contato com sua cultura através da nossa literatura, cantigas e brincadeiras?

Vou responder com a experiência que tenho com minha filha, que hoje tem 19 anos e foi a razão de eu ter começado os encontros. Vejo que o conhecimento que ela teve sobre a cultura do Brasil fez com que ela entendesse minha história e a minha maneira de olhar e entender o mundo e que, foi a partir dessas lentes que ela foi educada em casa. E mesmo transitando por várias culturas existentes em Dubai e absorvendo elementos de algumas delas, ela conhece a cultura de seu país de origem, e se reconhece em vários aspectos dela. E isso não tem preço! Percebo, que o conhecimento das origens ajuda as crianças a entenderem melhor quem são e, consequentemente, facilita a descoberta do que querem ser.

IA- Qual a “dica” para os pais de crianças brasileiras expatriadas manterem os vínculos afetivos com nossas raízes através da língua e cultura?

Você me pegou agora…. não existe uma dica específica.

Acredito que, pra manter uma língua, precisamos promover tudo que ela engloba.

O primeiro passo é descobrir se queremos manter a nossa língua materna com nossos filhos e os motivos. Cada família pode ter uma resposta pra essa pergunta e todas devem ser levadas em consideração.

Quanto mais importante a língua materna for para essa família, maior será sua força para enfrentar os desafios que surgirão pelo caminho. Afinal, como qualquer processo de educação, é necessário enfrentar resistências das próprias crianças, ser resiliente para não perder o foco e, principalmente, lidar com todas as outras atividades do dia a dia, que podem ser uma tentação à desistência.

Se tivesse que escolher uma palavra para motivar os pais, seria perseverança. Saibam que as famílias que conseguiram manter o foco não se arrependeram. Ainda tenho contato com muitas delas e sei como foi importante para essas crianças, hoje adultas, manter o vínculo com suas raízes. E para seus pais também, que se que se mantêm conectados aos filhos por laços que são invisíveis aos olhos, mas perceptíveis ao coração.

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Picture of Iarema Araújo H.

Iarema Araújo H.

Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é " Vida Linda e Abençoada ! "

Respostas de 2

  1. Lindo Projeto!
    Parabéns Magaly pela iniciativa!
    Tenho certeza que a Hora do Conto impactou e continuará impactando positivamente a vida de muitos brasileirinhos.

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