A Índia – intenso choque cultural

Em nenhum momento da minha vida eu pensei em fazer uma viagem à Índia, nem de férias, estudo ou qualquer outro motivo, mas ela me escolheu como dizem os mais místicos.

Cheguei aqui no ano de 2018, cheia de expectativas, abracei a cultura, experimentei, cheirei, vesti. Comi na rua sem passar mal (que sorte) me encantei com as roupas, comprei várias.

Mas a experiência mais profunda e o choque cultural aconteceu quando saí para explorar diariamente. Pude ver que os indianos na sua maioria são muito trabalhadores, hospitaleiros, as crianças muito curiosas.

Eu percebi que a Índia é muito conhecida por nós pelos olhos do Globo Repórter ou outros meios de comunicação mas pisar aqui viver aquela experiência foi uma situação totalmente diferente.

A primeira cidade que conheci

A primeira cidade que conheci foi Delhi. A capital, agitada, moderna, com um bom transporte, variedade culinária, é possível ver mulheres e homens se vestindo como estilo mais ocidental, até aí tudo bem.

Continuei a minha jornada até o meu destino, ainda na região norte mas no estado de Bihar, cidade de Gaya at Bodhgaya, que é a cidade considerada pela religião budista um dos locais mais importantes. Pois é na cidade que está a árvore onde sentado debaixo dela o Gautama Buddha (Buda) foi iluminado (nirvana). Lá também se encontra a caverna onde ele morou. E no caminho dessa cidade meus olhos viram o incomum para mim: vacas comendo lixo, ruas atravancadas, e tudo isso ao som de buzinas muitas buzinas.

Depois de descansarmos no nosso local de hospedagem saímos para explorar. Fomos no pequeno centro na cidade onde existem muitos templos, e o principal templo onde fica a sagrada árvore do Buda (toda cercada, intocável). E isso tudo em meio a vendedores ambulantes de frutas, roupas, cambistas de dinheiro e outras coisas.

Choque cultural na Índia

Ao nos aproximarmos do tempo principal me choquei com várias mulheres idosas, com o corpo desnutrido, mal vestidas, pediam dinheiro na fila, ao verem estrangeiras pedem com mais veemência.

No momento perguntando pra minha amiga soube que eram viúvas, que no caso na Índia, na maioria das vezes, sobrevivem de forma precária após a morte do marido e por vezes são abandonadas pela família.

Com o passar dos dias o meu choque cultural na Índia só se intensificou. Porque diariamente além de termos de lidar com a sujeira, crianças correndo atrás de nós pedindo dinheiro, o que piorava é que tudo isso acontecia em um cenário extremamente religioso.

Mas a miséria ao redor não incomoda os peregrinos, alguns dão esmolas, mas a maioria é indiferente. E para minha revolta “santa” assistia os monges budistas vindos de várias partes da Ásia desfilando com seus iPhone, e seus tênis de marca originais!

As perguntas não paravam de estalar dentro de mim. Porque mesmo eu não sendo especialista em religião, é sabido que o Buda viveu e deixou ensinamentos para viver de forma desprendida do material, das riquezas e vaidades.

Cenas muito contraditórias

Então o meu cotidiano nos primeiros meses na Índia nessa região me traziam essas cenas muito contraditórias. Outra situação aconteceu com o que eu sabia do Hinduísmo, por exemplo. Nessa região é comum ver vacas andando livremente no meio dos carros, entrando nas lojas, mas é normal também serem enxotadas quando estão atrapalhando.

Então mais uma vez o que aprendi não era coerente. A vaca é sagrada aqui, se entra na sua loja traz as bênçãos dos deuses, para alguns hindus você não deve nem revelar que come beef (carne de boi) porque é uma ofensa já que a vaca é sagrada. Mas então eu me perguntava: porque alguns deles batem e enxotam Deus?

A Índia, dia após dia, me trazia contradições, me chocava e me levava a fazer muitas perguntas, de como podemos ter um falso conhecimento sobre um lugar, uma pessoa ou religião. E que é apenas vivendo, experimentando que saberemos o que é realmente.

Pode ser que você pense que só estou compartilhando algo ruim sobre esse lugar, mas na verdade não! Eu estou compartilhando com você parte da Índia real. Lógico que a Índia é mais do que religião, e desigualdade social. Existem muitas coisas a se experimentar aqui, como a comida e as belezas naturais, mas como dizem aqui, é um mundo dentro de outro. E vir aqui sem se preparar emocionalmente e mentalmente pode te chocar e não fazer muito bem, talvez estragar a sua viagem.

Esteja preparado para o choque cultural na Índia

Aqui também em cada estado você encontra não só realidades muito opostas, desigualdades sociais, como também clima diferentes. Por exemplo no norte em Bihar onde eu estava no verão você pode viver 47 graus com sensação de 50. Já no sul a experiência é mais tropical úmida, chuvas, calor de 30 graus. E aqui também existem lugares onde neva como na região da Cashmirra.

O que mais pode trazer um choque cultural a qualquer um que vem a Índia é o lado religioso que é tão ensinado de forma errônea. Do lado de lá nos mostram na maioria das vezes uma Índia paz e amor, com constante meditação, comida vegana e Yoga.

E se alguém vem explorar boa parte do país é preciso se preparar nesse sentido, e jamais abertamente questionar um indiano sobre sua religião, ou perguntar a sua casta. Aqui existem muitos assuntos proibidos, as pessoas não tocam neles, a não ser que você tenha intimidade ou a outra parte iniciou aquele assunto.

Hoje depois de 4 anos aqui continuo me chocando, aprendendo, e principalmente procurando respeitar, e não me colocar como alguém superior, ou tentando impor a minha cultura ocidental, que na nossa mente, é superior e correta.

É preciso muito mais que religião e espiritualidade para se mudar um país, para se diminuir as injustiças, pobreza. Compartilho a Índia real porque amo esse país. Como num casamento, as vezes desejo o divórcio mas o amor que decidi ter por essa nação não me deixa ir adiante.

Espero que este conteúdo te ajude a se preparar para ver a Índia real.

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Meiba Aquino

Meiba é paraense, casada com indiano. É mãe, empreendedora e contadora. Atua na área social com crianças em situação de risco. Ama ler, escrever e viajar. Gosta de aprender, fazer amigos.