Um dos temas mais difíceis da expatriação é como lidar com perdas morando fora.
Quando escolhemos morar fora do Brasil, o que deixamos para trás não passa muito em nossas cabeças. Estamos olhando para o futuro, excitados com as possibilidades que vão vir, planejando (espero que sim!) e organizando para que a mudança dê certo.
A impressão que temos no início de nossa expatriação é de que “somamos” algo. Pois temos a vida lá no Brasil com família e amigos e a vida aqui, onde quer que o aqui seja. Mas a realidade é que a vida lá continua e sua vida aqui também. O que quero dizer, é que ninguém para de viver lá esperando que possamos ir de férias.
Com isto, você vai faltar a aniversários de sobrinhos, o show daquele cantor dos seus anos de adolescência, a feijoada no casa da vovó e, o pior de tudo, pode ser que não possa estar ao lado de algum humano amado e importante para você quando ele vai embora deste mundo.
As vezes não tem vôo, não dá tempo ou existe uma pandemia que te impediria de voltar para a sua casa, caso conseguisse ir até o Brasil, como o que está acontecendo agora entre Brasil e Espanha – onde moro.
A gente acha que não vai acontecer com a gente, mas acontece quando menos esperamos. E pode vir de qualquer lado, em forma de velhice ou acidente. Acontece.
Preparação
E o melhor que podemos fazer é nos preparar para este fato. Preparar? Sim, podemos nos preparar em três pontos importantes:
Seguir em contato: acompanhar o que está acontecendo com as pessoas que amamos, mesmo morando longe de nós. Isto é ligar, escrever, falar, desfrute da tecnologia, uma grande aliada de quem mora fora. Aproveitar a vida como ela é e com as oportunidades que ela nos oferece e viver o momento presente como se não houvesse amanhã. Deu saudade? Ligue. Conte o que está acontecendo na sua vida, divida dores e amores. Diga eu te amo.
Ponto dois: deixe documentos preparados. Se você tem ligação direta com alguém vivendo no Brasil (pais, irmãos, filhos), deixe uma autorização notarial para que outra pessoa possa assinar papéis legais em seu nome. Facilita a vida de quem esta por lá. Portanto mantenha seus documentos brasileiros em dia, preste atenção como estão as normas de alfândega e leis para entrada e saída do país. Incentive seus pais a deixar testamentos para a família, para facilitar a papelada.
Ponto três: lembre-se de que você não é o centro das atenções. Ajude no que puder de longe fazendo ligações e ficando a disposição. Mas não fique ligando para quem está lá resolvendo a burocracia e lidando com o luto ao mesmo tempo. Coloque-se à disposição, mas deixe a bola rolar. Participe como puder, mas não imponha suas vontades. Lembre-se de que foi você quem decidiu morar longe, fora do Brasil.
Luto
Veja bem, este não é um texto macabro, mas sim um texto de tributo à vida!
Pois quando preparamos tudo o que podemos com antecedência, nossas cabeças e nossos corações estão livres para poderem pensar e sentir as emoções do momento presente, sem tantas preocupações. Pois esta preparação nos libera para vivermos algo que é muito importante: o luto.
Não existe um novo começo sem um fim. E quanto melhor terminamos algo, mais fertil é o solo para começarmos algo produtivo e lindo. O luto é esta preparação do solo.
Eu perdi um amigo muito querido estes dias. Não pude estar lá para ajudar em nada, não pude carregar seu caixão ou abraçar sua família. Estive aqui de vigília, colada ao meu telefone dia e noite. Dividi momentos incríveis com sua irmã (minha irmã de alma), mãe e pai. Acendi uma vela, cantei suas músicas sozinha e acompanhada da minha família e da dele. Contamos histórias, rimos e choramos. Foi duro e ainda é muito difícil, mas estou em paz. Estamos em paz. Me permito a dor para que, com o tempo e regada de muito amor, ela possa se transformar e me acompanhar por aí sem me incomodar.
Aliás se quiser entender melhor o impacto de luto em expatriação, o melhor livro sobre o assunto é este aqui, em inglês.
E você? Quão preparada está para que algo assim aconteça em sua vida? Vamos lá, de mãos dadas é mais fácil.
Até jah,
Carolina
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Sou uma coach especializada em Transição Internacional que já se mudou inúmeras vezes tanto dentro do Brasil quanto fora dele e atualmente moro em Barcelona, na Espanha. Trabalho online e estou cursando um master em Terapia Integral. Sirvo as famílias que se mudam por este mundo afora através de sessões individuais, trabalhos em grupo e palestras. Tenho dois filhos TCK (não sabe o que é? Me pergunte!), um marido Francês e um simpático Yorkshire que me acompanham em todas as mudanças.
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