Encontrar o amor.. não existe um ser humano que ainda não sentiu ou quis sentir um amor. É algo quase inerente à raça humana, seja por uma coisa socialmente institucionalizada pelos filmes da Disney, ou pelo lado fisiológico. A não ser que a pessoa tenha alexitimia, que a impede de sentir as emoções, o amor se assemelha a um vício e libera substâncias químicas no nosso corpo trazendo prazer, apego e euforia.
O que é o amor?
Primeiramente, o amor é uma resposta fisiológica e não uma emoção, sempre conectado as regiões cerebrais ligadas à recompensa e motivação. Mas vamos falar do amor como emoção por aqui, pois fica mais fácil. Além de toda essa atmosfera inebriante do amor, a verdade é que, sem laços afetivos não sobreviveríamos. Por mais independentes que sejamos, em algum momento precisaremos de outro ser humano, seja para um suporte, validação ou acolhimento.
Além disso, saindo apenas da necessidade de suporte, amar é uma das coisas mais loucas e deliciosas da vida. É um imenso aprendizado de nós mesmos, de equilibrar o que sentimos com nossos comportamentos diante da pessoa amada, enxergarmos nossas carências e o quanto temos a possibilidade de sermos felizes. Como já dizia o filósofo Blaise Pascal, “O amor tem razões que até a razão desconhece”. Mas o que o passar do tempo tem impactado nisso?
A era digital e a busca para encontrar um amor

Antigamente os casais se conheciam por intermédio de um amigo, em uma saída. Às vezes, se conheciam por intermédio de familiares ou mesmo de vizinhos. Logo no início já estavam pessoalmente nos encontros, interessados em se conhecer melhor, dando oportunidade para desenvolver alguma coisa caso a primeira impressão fosse boa o bastante. Existia um interesse de continuidade, de ir mais além, mesmo se não desse certo lá na frente.
Portanto, nós costumávamos dar chance para o amor. A intenção era mais específica, genuína e focada. Nos concentrávamos na pessoa até que algo nos dissesse o contrário. Persistíamos no interesse até que sentíssemos que não havia a melhor combinação ali.
Contudo, a era digital, a mídia social e os aplicativos de relacionamento trouxeram uma outra perspectiva sobre encontrar o amor. Por um lado, podemos pensar que é algo maravilhoso ter a possibilidade de achar o amor na palma da sua mão, não é mesmo? Muita gente acha! Não podemos negar que tem gente que dá certo, mas por outro lado, essa facilidade também trouxe superficialidade e falta de foco.
Além disso, acredito que até possamos dizer que a era digital do amor trouxe confusão mental, onde o futuro pode sempre ser melhor que o presente e em num outro clique pode ter alguém melhor que a pessoa de hoje. E isso não tem fim! É o ser humano tendo tanta opção que não consegue se fixar com ninguém. É uma eterna busca, trazendo solidão, sentimento de inadequação e desesperança no tão desejado amor.
O medo como consequência de encontrar um amor

Tanta procura e desilusão geram receio, o que nos leva a esconder nossas emoções. O que acontece é que, por mais que sejamos seguros e desencanados, sempre existe o receio daquela pessoa que conhecemos também estar conversando ou saindo com outras pessoas. Portanto, existe a insegurança, que sempre foi normal no início de uma relacionamento, mas agora vejo que está mais forte nas pessoas solteiras, o que os leva a retrair emoções.
Mesmo quando damos um match, nos encontramos e gostamos da pessoa, nos retraímos e evitamos mostrar interesse com medo da rejeição. A rejeição nos dias de hoje parece estar sempre à espreita, e isso pode nos tornar extremamente defensivos e com medo de envolvimento real, evitando o que mais se deseja, encontrar o amor. Portanto, isso se torna uma bola de neve.
Além disso, o amor nos dias de hoje vem enfrentando verdadeiros desafios e isso impacta nossa saúde emocional e mental. O excesso de opções traz a cultura do descartável, e, ao invés de nos comprometermos, nos tornamos superficiais. Ao menor sinal, as pessoas podem desistir uma das outras e isso tem consequências imediatas, sendo a ansiedade uma delas.
A ansiedade é o medo do futuro, daquilo que não podemos controlar. Ela vem com força quando estamos no jogo do amor. A falta de conexões profundas e demonstração de interesse legítimo turbina a ansiedade e também a sensação de solidão quando percebemos que a coisa não vai para frente.
E o futuro?
Apesar de toda a questão de falta de envolvimento, acredito que existe luz no fim do tunel. Quando falamos em amor, também abrimos o leque de variação do amor. As novas gerações estão expandindo o conceito de amor, buscando estar mais conscientes do que o amor é de verdade e se permitindo vivenciar mais as emoções. Talvez eles estejam idealizando menos o amor padronizado que a gente aprendeu nos filmes e deixando fluir as experiências boas ligadas ao afeto de forma mais livre.
Quem sabe a moda da superficialidade passa ao constatarmos que é duro viver numa busca frenética sem nunca chegar a lugar nenhum. Por percebermos que investir em uma pessoa que te deu algum clique vale mais a pena do que buscar sempre alguém perfeito que, na verdade, não existe!
Sendo assim, amor é construção! É dedicar-se a conhecer um outro ser humano de verdade. É se apaixonar sim, mas se permitir construir. A paixão, se você deixar, te coloca no jogo, mas o amor você constrói se aprofundando, se comprometendo, sendo vulnerável e abrindo os braços para a emoção sem medo da dor. Porque a dor nós já estamos experimentando nas frustrações dos encontros superficiais, não é mesmo? A gente só constrói algo vivendo, tendo um começo e mantendo o que já foi conquistado.
Espero ver vocês por aqui e também ficarei feliz de encontrar cada um no meu instragram @renatacastropsicologia. Até a próxima!
About The Author
Renata Castro
Psicóloga clínica, especializada em Terapia Cognitiva Comportamental, carioca, mãe de 2 amores de 4 patas.
Deixei meu consultório no Rio de Janeiro e vim morar na Capital da Croácia, Zagreb.
Hoje atuo com atendimentos online.