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Entrevista Padre Olmes

Última atualização do post:

Entrevista Padre Olmes Diario de uma expatriada

“Aprendi que ouvir é a melhor comunicação”

Eu, Bell Souza, tive a honra de conhecer essa pessoa maravilhosa em Dubai. Um padre que brinca, faz um sermão em que todos ficam ali parados e atentos ouvindo. E sempre falando na língua do povo.

Iarema, preparou perguntas bem interessantes nessa entrevista para que a gente conheça um pouco da trajetória do querido Padre Olmes pelo mundo. Nessa época em que todos nós precisamos de muita fé independente da nossa religião.

Então vamos lá?

IA – Poderia contar para nossas leitoras quem é o Padre Olmes? E como iniciou a vida religiosa?

Sou Olmes Milani, neto de imigrantes italianos cuja vida era baseada no trabalho, religião e família. Nasci numa pequena cidade do Rio Grande do Sul, Sarandi, nome extraído de um arbusto de flores delicadas. Cresci em ambiente católico e estudei em colégio de freiras. Portanto não tive um convite de alguém especial ou um acontecimento marcante para entrar na vida eclesiástica. 

Surgiu naturalmente desde muito pequeno. Minha mãe dizia que se eu escolhesse a carreira na qual eu pudesse ser feliz, estava ótimo. Mas meu pai preferia que eu fosse outra coisa, não padre. A atitude dele me ajudou muito a ter convicções e pensamento próprio.

IA – Qual foi sua primeira missão fora do Brasil? Como o senhor se sentiu e quais os desafios ?

Em fevereiro de 1975,  saí do Brasil pela primeira vez em minha vida. Fui para a Argentina por alguns meses a fim de aprender a língua castelhana e me expor a outra cultura. Ao mesmo tempo conheci a situação dos imigrantes bolivianos e chilenos na Província de Mendoza.

O povo foi extremamente acolhedor e muito me ajudou no aprendizado da língua. Aos 20 dias, mais ou menos depois da chegada, celebrei a primeira missa em espanhol. Tive a impressão que tivesse sido um sucesso. Contudo, logo depois da missa, um senhor majestoso e bem falante, aproximou-se com humor e disse: “Padre, você falou muito bem, mas não entendi nada.” Caímos na gargalhada. Conheci sua família e daí para frente recebi ajuda extraordinária no conhecimento da língua e cultura.

IA – E depois da Argentina ?

Fui destinado à América do Norte em junho de 1975 e parti para Nova Iorque sem conhecer o idioma inglês. Mas devido os problemas de comunicação entre os meus superiores do Brasil e Estados Unidos, não havia ninguém me esperando no aeroporto. Portanto o único contato era um número de telefone. Depois de tanto tentar me comunicar ouvi uma voz forte em idioma italiano de outro lado: “fique onde está e não se mexa.” Depois de duas horas e meia, o dono do vozeirão apareceu. Foi um alívio.

Dois dias em Nova Iorque, embarquei num avião para Chicago onde me comunicariam o lugar de trabalho. No mesmo avião viajavam três religiosas, uma delas brasileira. Presumi que alguém iria me encontrar no aeroporto, mas não foi isso que aconteceu. A sorte foi que a pessoa que recolheria as freiras no aeroporto dirigia uma van. Como não havia espaço nos assentos, viajei entre malas e sacolas no bagageiro do veículo e deixado onde ficaria hospedado.

Passados alguns dias, de carona, parti para Vancouver, BC, Canadá, onde, inicialmente, iria estudar o idioma inglês. Optei por um curso de imersão total no inglês, na Universidade de Birtish Columbia. Os professores proibiram a comunicação em outras línguas. Foram seis semanas pesadíssimas que me ajudaram a aprender rapidamente o idioma.

Finalmente, em novembro de 1975, recebi a destinação definitiva de trabalho na cidade de Edmonton, capital da Provincia de Alberta, Canadá.  O trabalho consistia em acolher os refugiados políticos do Chile e servir a comunidade italiana da cidade.

Quanto às dificuldades preferiria classificá-las como desafios a vencer com uma boa dose de humor e garra. Humorismo e jovialidade são dois fatores maravilhosos que herdei do meu pai, que me ajudaram entrar nas sociedades e culturas desconhecidas.

IA – Como líder religioso expatriado em quantos países o senhor já residiu? Onde precisou superar mais barreiras ?

Trabalhei e vivi na Argentina, Canadá, Estados Unidos e no Brasil (a bordo de navios), Japão, Emirados Árabes Unidos com residência em Dubai e, novamente, Estados Unidos. Mas o lugar mais desafiador foi o Japão devido ao idioma e às peculiaridades culturais.

Os japoneses são tradicionalmente fechados, pouco comunicativos e desconfiados com as pessoas e tudo o que não é arquipélago nipônico. Paciência e perseverança são essenciais para que estrangeiros e japoneses se aproximem.

IA – Padre Olmes como foi a experiência de ser o representante da Igreja Católica em um país muçulmano?

Com certeza foi muito gratificante trabalhar em Dubai e Jebel Ali. Creio que ajudou bastante o conhecimento de diversas línguas e ser alguém que gosta de estar e transitar no meio do povo. Aprecio de estar com o povo, dedicar tempo às pessoas, conversar sem nenhuma agenda, interessando-me pelas culturas e as famílias dos expatriados. Aprendi que ouvir, muitas vezes, é a melhor comunicação. 

Além disso foi muito enriquecedor participar das atividades islâmicas, tais como palestras, eventos, quebra de jejum. Fiquei lisonjeado por representar a Igreja Catolica em reuniões convocadas pelos irmãos muçulmanos.

Ao contrário do que muita gente imagina, jamais sofri algum tipo de rejeição por parte deles. Sempre fui muito bem acolhido. De minha parte brindei respeito, atenção e prometi rezar por eles. Esta promessa os deixa muito felizes.

Enfim, fiquei surpreao e muito emocionado com as belas e manisfestações de carinho nos dias que antecederam minha saída de Dubai.

Primeira missa realizada em Português nos Emirados Árabes, Dubai 2016 – Arquivo Pessoal

IA – Qual importância da religião durante a pandemia do COVID e em especial para quem esta longe da sua pátria? O que mudou na sua atividade?   

Não há país ou pessoa que não tenha sido afetada pela pandemia. Um vírus minúsculo, invisível a olho nu pôs o mundo de joelhos. Ciência, política,  aparatos militares, bombas, foguetes e tecnologias nada puderam fazer nada. Assim o medo, a depressão e a sensação de impotência tomaram conta de grande parte da humanidade. Talvez, os ensinamentos que mais devemos aprender são o amor, solidariedade e a humildade.

Na minha opinião, a religião ajudou às pessoas de fé a serem fortes diante das dificudades, a abrir janelas para a solidariedade e a esperançar de forma ativa.

Durante a pandemia, muitas pessoas faleceram na solidão e longe dos familiares, sem visitas e sem o carinho. A esperança de muitos migrantes, expatriados e refugiados de reverem seus parantes e amigos foi truncada.

A experiência de isolamento, para quem lida com o povo, abala muito. As expressões faciais, sorrisos, manifestações de afeto nos foram tiradas. Para quem tem como atitude estar com o povo, de repente, se ver afastado por imposição de um inimigo invisível com o qual não se pode falar ou reagir é frustrante.

A solução é despertar o espírito criativo e usar os meios virtuais para manter contato com as pessoas disponibilizando funções religiosas, educativas e encorajamento.

Atualmente, seguindo as normas de segurança, organias cerimônias religiosas são organizadas com 40% da capacidade das igrejas, mas as atividades sociais e recreativas estão suspensas. Quem ocupa-se com pessoas, como eu, está consciente que estava numa situação confortável, porém, sem saber como será depois que o vírus estiver sob controle.

O certo é que devemos sair da crise melhores do que éramos antes, globalizando a fraternidade e amando mais a nossa casa comum, o planeta terra.

IA – O Natal esta chegando, qual a sua mensagem para manter o espírito cristão natalino independente de onde se viva?

Expatriadas, migrantes e refugiadas, são pessoas cujo familiares estão longe uns dos outros. Creio que há a necessidade de desenvolver o essencial não visto pelos olhos, sentido no coração e na mente, o amor, o perdão e paz com as pessoas longe.

IA – Em seu trabalho junto aos brasileiros pelo mundo qual foi o maior desafio e a maior alegria?

O maior desafio foi estar no Japão durante o grande terremoto de 11 de março de 2011 seguido de tsunami e vazamento de radiações nucleares. Honshu, a ilha principal parou literalmente. Contudo, foi maravilhoso ver a população e institituições se unirem solidariamente para socorrer as regiões afetadas.

Não há como não se comover ao perceber que, as diferenças políticas, sociais e religiosas desaparecem para assumir em peso a responsabildade da reconstrução. Junto com a tragédia surgiu em mim alegre esperança de um mundo solidário.

IA – Nos conte um pouco sobre como é a relação entre os diferentes líderes religiosos que trabalham com expatriados?

Sou grato ao Criador porque desde o exercício da missão à bordo de navios, depois no Japão e em Dubai, tive a felicidade de trabalhar junto com líderes de outras denominações cristãs e outras religiões. 

À bordo de navios e nos portos dos Emirados Árabes Unidos, o objetivo comum dos líderes católico, anglicano e luterano era o serviço aos marítimos de todo o mundo e de todas as religiões, tudo planejado e realizado em conjunto.

No Japão fui agraciado com a oportunidade de ser convidado, por três vezes, por três dias cada vez, de atividades budistas. Fiquei hospedado nas dependências do próprio templo onde moravam o monge e seus familiares. Gratificante e fraterno foi o convite para dirigir a palavra à congregação de budistas reunida no templo, sendo acolhido como mais um entre eles.

É importante participar de congressos ecumênicos e inter religiosos, mas a satisfação maior é o encontro de pesssoas diferentes em mútuo respeito e acolhimento.

IA – De todos os textos e ensinamentos católicos qual lhe fortalece e emociona até hoje?  

“Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Promessa de Cristo transformada em realidade, jamais me senti sozinho. Como missionário para estrangeiros estão sempre presentes as palavras de Jesus: “eu era estrangeiro e você me acolheu”(Mt 25,25).

Para mim, a pessoa do estrangeiro não é somente uma conjunto de orgãos e membros, mas uma “igreja” na qual está Cristo. Irmãs, que o Cristo que está em vocês e está em mim, nos dê a paz e um Feliz Natal.

Então, espero que tenham gostado dessa entrevista com o padre Olmes. Que é uma pessoa maravilhosa e que encanta todos.

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Picture of Iarema Araújo H.

Iarema Araújo H.

Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é " Vida Linda e Abençoada ! "

Respostas de 2

  1. Sou fã do Padre Olmes. Apesar de religioso que transmite fortemente suas convicções e fé, ele consegue ao mesmo tempo estar atualizado e sempre antenado e conectado com as mudanças e evoluções. Seus discurso e leve e muito inteligente e coerente!

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