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Expatriada: 16 anos fora do Brasil – parte I

Última atualização do post:

Meu "escritório" no Iraque
Tínhamos, no começo, que trabalhar de colete e capacete; devido aos inúmeros ataques à base militar.

Há 16 anos, tomei a decisão mais difícil da minha vida: sair do Brasil! Virar uma expatriada, meio nômade até!

São 16 anos de saudade, sacrifício, trabalho, muitas vezes dor, outras perigo, ansiedade, sonhos, medo, receio, e muitos sentimentos que “sair de casa” trazem.

Abrindo mão de tudo , da comodidade de “ser” alguém, da facilidade de saber onde e como ir, de ter toda uma base emocional, da estabilidade familiar, e, ir para o desconhecido, no meu caso, para a guerra!

Certamente, não foi uma decisão fácil. Principalmente, porque eu deixava para trás, não apenas minha vida no Brasil, eu deixava meus maiores tesouros: meus filhos!

O começo de tudo

Como tudo começou? Vamos voltar alguns anos no tempo.

O dia era 11 de setembro de 2001, eu estava com meu ex-marido, em Salvador – BA, no escritório do advogado, assinando a procuração para dar entrada no nosso divórcio, quando a primeira torre do World Trade Center, foi atingida.

Perplexidade, revolta, surpresa, medo, angústia, dor, tristeza, pesar, foram alguns dos sentimentos que eu estava tendo naquele momento. Enquanto, eu tentava entrar em contato com alguns amigos americanos, a segunda torre foi atingida. Saímos do escritório sem nunca assinar a procuração.

Voltamos mudos e incrédulos para nosso apartamento. Meu ex trabalhava para uma empresa americana, e eu havia parado de trabalhar por um tempo, para cuidar dos nossos filhos, na época com cinco e três anos de idade.

Então ali, decidi que queria fazer parte de algo, que de alguma maneira, eu tinha que ajudar a combater o terror!

Aceitando a proposta de ir para a guerra

Em agosto de 2003, os Estados Unidos invadiram o Iraque, destronando o ditador Saddam Hussein, em consequência dos ataques, civis foram contratados para dar suporte às tropas americanas na região.

Um dos americanos com os quais eu trabalhava no Rio de Janeiro, na obra da Rio Polímeros https://www.chemicals-technology.com/projects/rio/ foi para o Iraque, para participar do projeto chamado LOGCAP III (Logistics Civil Augumentation Program) e me convidou para ir também, dizendo que precisava de alguém de confiança para o setor de materiais, que era onde eu trabalhava, no Rio.

Durante alguns meses, eu neguei, dizendo que não trocaria a areia da Barra da Tijuca (eu morava na Av. Sernambetiba, em frente ao mar, uma vista privilegiada), pela areia do deserto iraquiano, ainda mais no meio de uma guerra!

O tempo passou, ele continuou a me oferecer o emprego, e eu sempre relutante dizia que por enquanto não.

A situação no Brasil começou a ficar difícil, o ano era 2004, e sobrava mês e faltava salário, eu temerosa de algo faltar para meus filhos, comecei a pedir para Deus que me guiasse para a decisão mais acertada….e foi quando, recebi uma ligação da recruta do LOGCAP, dizendo que tinha uma by name requisition, para eu me juntar a milhares de civis na guerra.

A decisão mais difícil da minha vida

Certamente, a decisão mais difícil que eu tomei, até hoje, foi deixar meus filhos para trás e ir para o Iraque!

Naquele momento em que a recruta ligou, eu pedi a ela 24 horas para tomar uma decisão final.

Então, passei a pensar, o que fazer com os meninos? Que tipo de mãe deixa os filhos? O sentimento era um só: culpa! Pensava em tudo, em todos, nos meninos, meus pais, minha avó… e se não conseguisse voltar? Se fosse morta? O que seria dos meus meninos?

Liguei para meu ex-marido, pedi para que ele viesse ao meu apartamento, pois precisava muito falar com ele. Ele morava umas 3 quadras de mim. Também liguei para meu pai para pedir conselhos, e liguei para a Renata, minha amiga desde os 3 anos de idade.

Meu ex prometeu cuidar dos meninos, meu pai disse que era melhor eu ir e voltar, caso não desse certo, do que não ir e passar o resto da minha vida pensando como seria se eu tivesse aceitado. A Renata me chamou de desmiolada, louca, mas disse que apoiaria qualquer decisão que eu tomasse.

Decisão tomada, e agora?

Quando a recruta ligou no dia seguinte, eu disse que aceitaria, e perguntei quais eram os próximos passos. Naquela noite, dormi no meio dos meus filhos, e chorei horrores, só imaginando o que seria de mim sem eles.

Recebi um monte, mas um monte mesmo, de papéis para preencher, antes de qualquer outro passo.

Foi quando dei a notícia para meus filhos, que eu havia aceitado um trabalho fora do país, que eles iam ficar com o pai e a madrasta, e que eu viria a cada quatro meses ficar com eles.

O mais complicado foi falar para minha mãe, na verdade ela só ficou sabendo que eu ia para a guerra uns dias antes do meu embarque para Houston.

Partindo pra missão

Tudo pronto, visto americano, passagem para Houston, malas cheias de coisas que eu nunca usaria (mas não sabia até chegar lá), é chegada a hora de partir.

Até hoje, ao ver essa foto da despedida dos meus filhos, lágrimas caem livremente dos meus olhos. Não foi fácil em 2004 e continua sendo difícil em 2020. Arquivo pessoal

Alguns amigos se prontificaram a me levar ao aeroporto, eu saí de casa aos berros, e a imagem dos meninos correndo atrás do carro, gritando para eu não ir, ainda vive na minha memória.

Continua no próximo post….

Para mais textos da autora, clique aqui

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Picture of Luciana

Luciana

Meu nome é Luciana Barletta, mas meus amigos me chamam de Lu. Estou fora do Brasil há 17 anos. Já morei no Iraque, Dubai e estamos nos EUA há 5 anos, sendo 2 anos em Delaware. Sou natural de Paranaguá, no litoral do Paraná, mãe orgulhosa do Gabriel e Raphael, e avó babona do Davi e Benjamim; Sou casada com o Shawn há 8 anos, mas estamos juntos há 13. Trabalho, gosto de fotografar paisagens, ler, cozinhar e de sair para caminhar com o Finn, meu cachorro, nas horas vagas.

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