Depois de quase seis anos vivendo em Londres finalmente viajei para o Brasil não como brasileira, mas como uma turista. Durante este período eu havia visitado meu país uma única vez, e por um motivo nem um pouco alegre (leia meu artigo Viúva expatriada em Londres para entender).
Minha passagem, comprada desde 2019 estava, originalmente, marcada para a Páscoa de 2020. Mas aí veio a pandemia, o primeiro lockdown, um verão cheio de incertezas, o segundo lockdown e, finalmente, um inverno que mudou tudo na minha vida.
Meu gringo no Brasil
Quando eu conheci o Paul (através do Tinder!) ele ficou encantando com o fato de eu ser brasileira. Pois ele é um grande fã do futebol tupiniquim e, pasmem, Foz do Iguaçu, minha cidade, está na lista de destinos de viagem dos pais dele. Comprar as passagens e me acompanhar nessa viagem foi ao mesmo tempo natural e inusitado. Natural por ele desejar muito conhecer o Brasil. Inusitado por ele não falar absolutamente nada em português.
A calorosa recepção da minha família e amigos, no entanto, fez com ele se apaxionasse ainda mais pelo Brasil. Já de volta para a Inglaterra ele trouxe, além de centenas de fotos, camisetas da seleção brasileira e do time do meu pai, Corinthians. E, claro, a certeza de que uma próxima visita, incluindo o Rio de Janeiro, acontecerá muito em breve.
Como foi a viagem
Devido às restrições impostas pela pandemia os vôos diretos de Londres para o Brasil estavam cancelados. Então a solução foi uma escala em Frankfurt, na Alemanha. Com a documentação exigida para viajar e muda de país para país (alguns aceitam resultado do teste digital, outros não), fomos os últimos passageiros a entrar no avião em Frankfurt.
Só quando estávamos no corredor do avião, procurando nossos assentos, foi que descobrimos que a companhia aérea tinha colocado cada um de nós em um canto diferente da aeronave, apesar de termos feito o check-in juntos. Mas graças a boa vontade das comissárias de bordo e a generosidade de outros dois passageiros, conseguimos trocar os lugares e sentarmos lado a lado. Esse mesmo problema se repetiu em praticamente todos os trechos da viagem.
A volta, que deveria ser mais fácil devido a experiência da ida, acabou exigindo mais paciência e jogo de cintura. Somento após trinta minutos de explicações no balcão da companhia, um novo formulário online preenchido e uma discussão sem fim sobre a validade dos testes realizados, pudemos, finalmente, embarcar de volta para Londres.
Turista na minha própria cidade
Foz do Iguaçu é uma cidade turística, conhecida mundialmente pelas belezas naturais das Cataratas do Iguaçu e pela imponência arquitetônica da Usina de Itaipu. Quando morava lá, sempre que recebia visitas, eu fazia às vezes de guia de turismo. Era uma forma de mostrar as maravilhas da cidade aos visitantes e, ao mesmo tempo, aproveitar o que costumamos chamar de “quintal da nossa casa”.
Desta vez a diferença foi que eu me permiti ser uma turista no Brasil e na minha cidade também, com direito a compra de souvernir e foto oficial. Foram tantos passeios que, no final das férias, o tão sonhado banho de sol à beira da piscina, continuou sendo sonho.
Atrativos para todo os gostos
Por uma questão de logística, um dos primeiros lugares que visitamos foi o menos atrativo no quesito beleza: Ciudad del Este, no Paraguai. Rendeu boas risadas e alguns importados que, diga-se de passagem, poderiam ser adquiridos online aqui em Londres mesmo. Mas aí perderíamos a cara de espanto do Paul, engenheiro de aquecimento na Inglaterra, tentando entender como a fiação dos postes das ruas da cidade paraguaia funcionam apesar do caos.
Teve ainda passeio de barco com direito a banho nas cachoeiras mais famosas do Brasil, as Cataratas do Iguaçu. Passeio de katamaran pelos rios Iguaçu e Paraná ao pôr do sol. Intermináveis visitas a parentes e amigos, que sempre se transformavam em uma verdadeira folia gastronômica. Uma viagem demorada até o litoral, para uma curta estadia na praia. Festas de casamento e aniversário, reunião com os colegas da universidade e muitas risadas com amigos de uma vida toda.
Mix de sentimentos
Para mim, ser expatriada é conviver com um mix de sentimentos. Não sou inglesa, mas também não me sinto totalmente brasileira. Se, por um lado, uso palavras em inglês quando falo com meus pais, por outro, preciso procurar sinônimos para conversar com o Paul em inglês, pois meu sotaque ainda é muito forte.
As vezes o sentimento de pertencimento dá lugar ao medo da perda de identidade. Então eu paro e penso nas vantagens de possuir essa identidade bicultural, no quanto eu aprendi e evolui desde que me tornei expatriada. A vida, seja aqui ou no Brasil, não oferece garantias nem certezas. Mas fica muito mais leve quando escolho o equilíbrio entre a alegria brasileira e a responsabilidade britânica.
Sou paranaense, expatriada em Londres desde 2016. Bahcarel em Turismo por formacão, administradora de profissão e escritora por amor. Apaixonada por livros, viagens, fotografia, artesanato, jardinagem e camping. Mãe orgulhosa de um adolescente e namorada de um verdadeiro lord inglês, com quem estou descobrindo a ilha da Rainha. Para acompanhar minhas aventuras pela Inglaterra me sigam no Instagram.