Acredito que todos nós já passamos por situações de emergência, e nunca é fácil de se lidar com elas. Principalmente quando se trata da perda de um ente querido. Imagine quando se está longe, em outro país!
Durante muitos anos, eu mantive uma passagem de volta para o Brasil em aberto, em caso de emergência. Inclusive, a minha decisão em sair do Iraque foi tomada baseada num acidente que meus pais e minha avó sofreram, no final de 2010. Na semana do acidente, recebemos um comunicado que não haveria mais vôos diários da base para Bagdá, dificultando assim a saída em caso de emergência na família.
Tudo muda num piscar de olhos
O dia era 5 de Outubro de 2017, minha folga do trabalho, e eu estava assistindo TV na sala. Como sempre, liguei para minha casa no Brasil, coisa que eu faço pelo menos duas vezes por dia, todo santo dia, desde que saí de casa.
Meu pai atendeu, e começamos a conversar, ele me disse que estava com muita dor nas pernas e que elas estavam inchadas. Falei para ele se deitar e “colocar as patas para cima”. Ele respondeu que ia tomar uma cervejinha e jogar um “truquinho” online e já iria fazer isso. Pedi para falar com a mãe, e me despedi dele dizendo que o amava muito e estava com saudades, mas que iria para casa em novembro, para as bodas de prata deles. Ele disse ” te amo muito minha filhona, e tenho muito orgulho de você, um beijão”.
Mal sabia eu que essa era a última vez que eu falava com ele em vida.
Notícia ruim chega logo
45 minutos depois que eu desliguei o telefone com minha mãe, recebo uma chamada no WhatsApp da minha sobrinha. Atendi, achando que ela queria conversar trivialidades, mas eu não poderia estar mais errada. Ela chorava dizendo que o “vô está caído na sala, chamamos o Samu e a vó acha que ele teve um AVC”.
Minha cabeça parecia que ia explodir, eu não conseguia acreditar! Havia acabado de conversar com ele, e tirando o cansaço nas pernas, tudo estava bem! Era verdade: ele teve um AVC e foi para a UTI do hospital. O prognóstico não era bom e o médico mandou me chamar.
Por sorte, eu tinha uma passagem em aberto, e fui para casa no dia 8 de outubro, tendo tirado licença do trabalho. E fui, acreditando num milagre, mas sabendo da gravidade do quadro dele.
Viagem difícil
Embarquei em Washington, DC aos prantos, e fui tentando me acalmar até chegar em casa. Queria vê-lo com vida! Queria que ele saísse do hospital, e queria ser eu a estar em casa para recebê-lo!
Chegando em São Paulo, fui para o Guarujá, onde meu filho Gabriel, a esposa Gabriella e meu neto Davi moravam. Raphael e o marido Bruno moravam em Porto Alegre e já estavam a caminho.
Pegamos o carro e fomos para Paranaguá. Chegar em casa e não vê-lo no cantinho dele foi muito difícil… Estar lá e ele não ser a pessoa a me receber e abraçar?
Fui ao hospital na hora da visita, e o encontrei consciente; entubado, mas consciente. Ele me olhou e lágrimas começaram a escorrer dos seus lindos olhos azuis. Azuis da cor do céu. Ele tentou falar, mas o tubo impedia.
Passados alguns dias, ele teve uma breve melhora, cogitavam inclusive em colocá-lo no quarto. Sendo assim, voltei para os Estados Unidos e fui trabalhar normalmente, mas minhas noites eram insones. A preocupação, a vontade de estar lá.
Passados três dias, o estado dele se agravou e os médicos disseram que não tinha mais volta, para eu ir me despedir enquanto era tempo.
Lá fui eu de novo para o Brasil – agora mais desesperada que nunca – e cheguei em casa no dia 19 de outubro de 2017, tendo ele vindo a falecer no dia 26. Graças a Deus, eu estava lá e pude me despedir do meu querido pai em vida.
Juntando meus cacos
Desde então, minha vida não é mais a mesma. Perdi meu herói, meu melhor amigo, companheiro, confidente, exemplo, porto seguro, a mão forte que me guiava nos dias de incerteza, meu cúmplice, meu paizão! Perdi parte de mim.
Fui aos poucos juntando meus pedacinhos porque sei que ele não gostaria que eu ficasse só chorando pelos cantos.
Muitos meses se passaram até que eu pudesse aprender a lidar com a dor, que já não é fácil estando perto, e que, de longe, parece que aumenta ainda mais.
Hoje, ao escrever esse post, lágrimas se misturam às lembranças gostosas de um homem bom, em todos os sentidos. Foi bom marido, pai maravilhoso, avô exemplar e bisavô babão.
Ele estava sempre lá, me apoiando em qualquer maluquice, e me recebendo de braços abertos, cada vez que eu quebrava a cara e algo dava errado.
O segredo é estar sempre preparada! Vida de expatriada tem seus altos e baixos. Mas esse episódio foi o mais difícil de toda minha vida.
Aos que ficaram, resta a saudade.
Meu nome é Luciana Barletta, mas meus amigos me chamam de Lu.
Estou fora do Brasil há 17 anos. Já morei no Iraque, Dubai e estamos nos EUA há 5 anos, sendo 2 anos em Delaware.
Sou natural de Paranaguá, no litoral do Paraná, mãe orgulhosa do Gabriel e Raphael, e avó babona do Davi e Benjamim;
Sou casada com o Shawn há 8 anos, mas estamos juntos há 13. Trabalho, gosto de fotografar paisagens, ler, cozinhar e de sair para caminhar com o Finn, meu cachorro, nas horas vagas.