Começo esse texto contando pra você quem sou eu, e aproveito para compartilhar um pouco da minha experiência materna longe do Brasil.
Meu nome é Alessandra Reino, tenho 51 anos e vivo na Itália há 16 anos. Sou casada com o Lorenzo, motivo da minha vinda para cá. Em 2011 nasceu a Francesca Julieta, hoje com 11 anos e meio.
Tenho na odontologia minha formação acadêmica, porém há quatro anos iniciei um processo de transição de carreira e atualmente estou como Educadora Parental e Mentora de Mães.
Meu papel é fortalecer o desenvolvimento físico, mental e emocional de crianças, adolescentes e famílias. Atuo em parceria com as mães e pais que estão fora do Brasil ou não, transformando vidas.
Como decidi mudar de carreira?
A minha decisão em mudar de carreira nasceu da vontade de ajudar outras mães a não sentirem as faltas que eu senti, desde que me tornei mãe: falta de informação, de apoio, de autoconhecimento, de autorregulação e de acolhimento.
Os desafios que eu venho enfrentando em minha maternidade e na criação da minha filha longe do Brasil foram a “mola propulsora” para a essa transformação.
Após quatro anos de casados, eu com 39 e Lorenzo com 46 anos, finalmente engravidamos.
Decidimos que nossa filha Francesca nasceria no Brasil, pois assim eu teria a ajuda da minha mãe e da minha irmã nos primeiros dias.
Até hoje eu penso que foi a melhor decisão que já tomamos. Quando entrei na 28.ª semana de gestação, eu já estava no Brasil. E foi durante o exame de ecocardiograma fetal, que descobrimos que nossa menina tinha uma má formação congênita no coração, chamada anomalia de Ebstein. Foi um choque! Isso mudou não só nossa programação para o parto e o tempo de permanência no Brasil, como nossa vida também.
A Francesca nasceu, por um milagre, no dia 23/04/2011 e só depois de completar três meses é que pudemos voltar para a Itália.
Como foi viver a maternidade longe do Brasil?
Viver a maternidade longe do Brasil, significa estar longe da família, dos amigos, dos médicos de confiança, do sistema de saúde que você conhece. Viver longe dos costumes, da alimentação, de tudo que permeia o seu país de origem e que “vem à tona” quando você se torna mãe.
A maternidade por si só, já é uma enorme transformação na vida da mulher. Acontecem várias mudanças desde a gestação até o nascimento do bebê e viver tudo isso tudo em um país que não é o seu, pode ser motivo de muito estresse, medo, insegurança e sentimento de solidão.
A chegada de um novo ser, exige paciência e resiliência para que a gente consiga se adaptar à essa nova vida, e para aprender a lidar com as inúmeras diferenças culturais que irão se apresentar, especialmente quando o assunto for a educação dos filhos.
Sem esquecer de mencionar que ter filhos longe do Brasil, na maioria das vezes, é sinônimo de solidão, de ausência de rede de apoio, aspecto urgente e necessário para a preservação da saúde mental da mãe.
Quando eu cheguei em casa com aquele bebê de 3 meses nos braços, eu me senti completamente perdida. Estava vivendo um estresse pós-traumático junto com o puerpério, a volta para um país que eu amava, mas que não era o meu! Tinha que achar um pediatra que aceitasse a responsabilidade de cuidar de uma criança com uma cardiopatia grave, encontrar um cardiologista e localizar o mesmo leite em pó que ela tomava no Brasil… Acreditem, foi um caos.
Os momentos foram bem desafiadores
Embora eu me sentisse muito sozinha e desamparada, eu não estava só. Tinha a presença e apoio do meu marido e dos meus sogros, que naquela ocasião já eram idosos e faziam o que podiam. A solidão materna é um sentimento, uma sensação, que faz com que pareça que ninguém no universo sabe o que você está passando.
Foram momentos bem desafiadores, mas superado o primeiro ano de nascimento dela (que incluiu uma cirurgia cardíaca) pude começar a respirar e viver o dia a dia da maternidade quase que normalmente.
À medida em que ela crescia, os desafios não eram mais tão voltados ao problema de saúde, mas relativos às questões da própria infância.
Criar um filho no Brasil é muito diferente de criar filho em outros países. A começar pela forma de vestir a criança, depois o calendário de vacinas, e aí vem: o desmame, o desfralde até o ingresso na escola de educação infantil. Fiquei muito confusa por inúmeras vezes.
Preciso encorajar você dizendo que, apesar de todos estes contrastes, ser mãe longe do Brasil (em condições “normais”, ou seja, sem intercorrências -como a minha) não é só desafios; tem muitas vantagens também e precisamos conhecê-las e valorizá-las.
A primeira e talvez, a mais importante, é a possibilidade de viver a maternidade com mais protagonismo, ou seja, sem tantas interferências e “vozes externas” dizendo o que você deve fazer e como fazer.
Parece que não, mas a convivência muito próxima com a família – muitas vezes – atrapalha mais, do que ajuda.
Morar em outro país é viver outra realidade
Quem mora em outro país, vive outra realidade e portanto aquilo que vale para nossos familiares e amigos não se aplicará para nós. Quero concluir dizendo que se eu pudesse voltar no tempo teria feito muitas coisas diferentes. A informação é o nosso poder e liberdade. Eu poderia ter me interessado mais sobre as experiências da maternidade na Itália! Como as mães pensam, como cuidam dos filhos, como vestem no verão e no inverno, como são as vacinas, como é o desmame, a que idade mandam as crianças para a escola, como organizam os afazeres de casa. Poderia ter mapeado uma rede de apoio e principalmente contratado uma Educadora Parental para me orientar sobre questões relativas à criação consciente.
De fato, nenhuma mulher deveria passar por qualquer dificuldade no processo de maternar, seja no Brasil ou em outro lugar qualquer.
Olá, sou Alessandra Reino, brasileira, de São Paulo. Vivo na Itália há 16 anos, casada com o Lorenzo e mãe da Francesca de 11 anos.
Dentista de formação e aos 47 anos comecei uma transição de carreira. Hoje atuo como Educadora Parental e Mentora de Mães brasileiras, no Brasil e fora dele, fortalecendo o desenvolvimento físico, mental e emocional de crianças, adolescentes e famílias, através da parceria com as mães e pais. Sonho com um mundo mais justo, igual e sem violência e acredito que a mudança começa na forma como educamos nossas crianças.
Sou muito curiosa, amo ajudar, ler, escrever, conversar, trocar experiências, conhecer novas culturas, dançar, viajar e ser feliz.
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