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Morar fora: quem eu era no Brasil, “morreu”?

Última atualização do post:

Quem eu era no Brasil morreu

Levou muito tempo pra eu conseguir assimilar essa realidade: que é possível morrer e renascer enquanto viva (sentido figurativo) – e que isso pode ser muito positivo. Que, ao morar fora do seu país é possível mudar, sem perder minha essência. Que construo uma nova versão “melhorada” de mim mesma a todo instante, mas que pra isso, é preciso que algo em mim deixe de existir.

“Hoje sei que dá pra renascer várias vezes nessa mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar!” (Martha Medeiros)

O que morre dentro de nós?

Pra mim, morreram algumas ideias, crenças limitantes, o jeito de enxergar a vida que eu tinha antes, meu estilo de vida, certos costumes, hábitos alimentares, hobbys, apego a uma série de coisas. Enfim, a mentalidade que eu tinha antes de morar fora em 2015, “caiu por terra” já nos primeiros meses da minha nova vida no exterior. E continua caindo, porque a mudança é contínua.

Cada pessoa, que sai da sua terra natal, passa por essa experiência de uma maneira diferente. É preciso coragem para trocar uma vida de estabilidade no Brasil por um novo caminho no exterior, cheio de novas oportunidades – porém, sem garantias e cheio de altos e baixos.

“Vulnerabilidade é sinônimo de coragem. Coragem de enfrentar tudo e estar vulnerável para melhorar, e não desistir.” (Brené Brown)

Quem eu era no Brasil, não faz muita diferença para as pessoas aqui, onde eu estou hoje. Comecei uma vida nova quase do “zero”, como se fosse uma criança órfã, aprendendo a falar o idioma local e a dar seus primeiros passos na nova região. Foi assim que aprendi a me virar sozinha, a defender-me e a proteger-me sozinha num novo idioma (vim solteira pra Europa).

Sobre estar vulnerável à tudo

Aqui fora, sou uma estrangeira lutando pelo meu espaço todos os dias, de uma maneira muito mais intensa do que se fosse no Brasil. Foi “dando a cara a tapa” que aprendi o idioma e fui construindo meu caminho. Nessa trajetória, muitas pessoas entraram e saíram da minha vida. Poucas ficaram, mas, todas elas me ensinaram algo do melhor ou do pior jeito.

Encontrei muita gente que eu considero “anjos”! São aquelas pessoas que me ajudaram de alguma maneira, sem me conhecer direito e sem pedir algo em troca. Uma vez eu ouvi a seguinte frase: “Não me retribua a ajuda, apenas passe essa corrente de ajuda a diante. Quando eu cheguei aqui, também recebi ajuda de desconhecidos, assim como você!”. Que lindo, né!?

Entretanto, viver no exterior também pode ser muito desafiador. Sou constantemente tratada com indiferença por muitas pessoas sem empatia na sociedade, por eu não ter cidadania européia e por não dominar totalmente o idioma. Tudo é mais demorado e mais difícil aqui. Entretanto, eu tinha que ser rápida e flexível pra me adaptar. Existem diversas coisas que fazem eu me sentir vulnerável e eu demorei até enxergar o lado positivo disso: transformação!

“Vulnerabilidade é o berço do amor, pertencimento, alegria, coragem, empatia e criatividade. É a fonte de esperança, empatia, responsabilidade e autenticidade. Se queremos maior clareza em nosso propósito ou vidas espirituais mais profundas e significativas, a vulnerabilidade é o caminho.” (Brené Brown)

Enfrentar os medos e recuperar a auto-estima

Isso me exigiu, aliás, ainda exige: luta diária! Exigiu também, “filtrar mais” as pessoas que faziam e que fazem parte da minha vida. Exigiu reclamar menos e agir mais… Reconhecer as oportunidades e agradecer mais!

“Eu não tenho que procurar momentos extraordinários para encontrar a felicidade – ela está na minha frente, se eu estiver prestando atenção e praticando a gratidão.” (Brené Brown)

Foi no meio desses choques culturais que eu vivi, tendo que me adaptar às mais diversas situações, que eu comecei a duvidar de mim mesma e a me questionais mais. Quem eu sou? Do que eu gosto? Qual é o meu propósito? Se aqui no exterior, sou uma versão totalmente diferente do que eu fui no Brasil  e tenho a liberdade de ser quem eu quiser, que pessoa eu escolho ser? E por aí vai. 

Dentro dessas auto-reflexões e da terapia (desde 2018), uma nova versão minha começou a nascer. A antiga Dani se foi, aliás, eu nem me lembro direito quem ela era. Confesso que, sem autoconhecimento e sem ajuda profissional, eu dificilmente passaria por essa transição com tanta clareza. Provavelmente, eu já teria desistido de morar fora há muito tempo e teria deixado diversas pessoas e oportunidades passarem por despercebidas.

Desapegar da antiga vida no Brasil

Existe um certo tabu relacionado à palavra “morte”, que eu respeito muito. Entretanto, é essa palavrinha tão temida, que melhor descreve esse situação:

“- Quem você era no Brasil, morreu! Sua vida é aí agora e você já se transformou numa outra pessoa. No momento em que você voltar para o Brasil ou se mudar para outro lugar, é o momento em que uma nova versão sua nasce também. Uma versão melhorada de você mesma”. (Daiana Waltrick)

Foi um choque pra mim, ouvir isso da minha psicóloga (Daiana W., citação acima), assim como esse tema deve ter chocado você também. Mas, realmente é isso: aquela pessoa que eu fui no Brasil, não existe mais. Só de imaginar eu voltando pra minha antiga vida, já me deixa inquieta. Aquela vida não cabe mais em mim! A antiga Daniane, não cabe mais na minha vida agora!

Essa fase de transformação (que foi quase um luto) incluiu: eu ter me desprendido das minhas raízes, ressignificado algumas questões (como o vazio e o sentimento de culpa por ter ido embora), entre outros fatores que me impediam de seguir a minha vida no exterior adiante, em paz comigo mesma. 

Novo lar, novas pessoas, novo “Eu”

Não que eu tenha esquecido minhas raízes, mas, depois desse tempo todo fora, já mudei tantas vezes, criei raízes tantos outros lugares e morei com tantas pessoas diferentes! Levo e deixo um pouco de mim em todos os locais onde eu vivi. É estranho chamar apenas o Brasil de “minha casa” e apenas minha família biológica de “minha família”.

Foi aí que eu aprendi o verdadeiro significado da frase: “Lar não é um lugar. Lar é um sentimento”. Fora o amor pela minha família brasileira, nada mais me prende ao Brasil. As pessoas mudam, mas, o amor permanece e nos segue onde quer que a gente vá. 

Arquivo pessoal da autora. Ano: 2020. Local: Innsbruck, Tirol, Áustria

A partir do momento em que entendemos isso, é que estamos realmente de coração e mente abertas para o novo, para novos aprendizados e transformações positivas. É um processo doloroso, admito. Mas, o autoconhecimento que adquirimos é enriquecedor e viciante demais!

Pra quem está nessa fase de transição ainda, eu digo de coração: acredite no seu sonho, busque ajuda e ajude também se preciso for. Foque no agora e confie no processo! Você pode se surpreender construindo uma nova versão de você mesma(o): melhor e mais forte!

Obs.: texto escrito com base nas minhas experiências e aprendizados.

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Daniane Bandoch

Nasci em Blumenau, Santa Catarina. Sol bacharel em Administração de Empresas com ênfase em Recursos Humanos pela UNIASSELVI. Depois de oito anos trabalhando em área administrativa, resolvi me reinventar e troquei as paredes dos escritórios por uma aventura-sem-fim: vida de expatriada. Eu vim sozinha para a Europa em 2016 como Au Pair, sem falar muito bem alemão e sem saber bem o que estava por vir. Eu moro atualmente na Áustria, depois de 3,5 anos na Alemanha. Adoro cozinhar, escrever, estar em contato com a natureza, conversar sobre temas variados e profundos.

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